Em entrevista ao Diário de Notícias, Carlos Cabreiro, que há 27 anos investiga esta criminalidade e dirige a Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade tecnológica (UNC3T) desde a sua criação em 2017, admite que há novos riscos e deixa alertas sobre o aumento da cibercriminalidade em Portugal. Desde o início do ano têm sido revelados vários ataques de grande dimensão, com grande exposição pública, que atingiram empresas como a Impresa, Vodafone e Sonae, entre outras.
O inspetor afirma que desde o início do ano se tem assistido com frequência a ciberataques contra empresas e instituições que constituem infraestruturas críticas ou são detentoras de informação sensível e valiosa, e que puseram em causa o próprio funcionamento dos sistemas dessas organizações. Os caso da Vodafone e da Impresa são referidos, sem desvalorizar a ligação a possíveis grupos ligados à Rússia mas Carlos Cabreiro afirma que "a motivação que está subjacente a alguns deste tipo de ataques foge do normal perfil, que é a motivação patrimonial"
Mesmo assim identifica um padrão que se repete em alguns dos ciberataque, o que pode indicar que se está a falar do mesmo grupo de atacantes, um dos quais ligado ao grupo Lapsus$, onde o envolvimento da operação que levou à detenção de um hacker de 16 anos "foi total". Carlos Cabreiro afirma que a investigação destes casos é exaustiva e demorada, num trabalho complexo, e que é ingrato perceber como funcionam estes grupos, quem os lidera e quais são as suas motivações.
O coordenador da UNC3T avisa ainda para os riscos das cifras negras, ciberataques silenciosos numa primeira fase em que os hackers que podem introduzir-se nas instituições durante vários meses antes de um cibertaque ser identificado.
Na entrevista ao DN Carlos Cabreiro fala ainda do caso de Rui Pinto, que ainda está em julgamento, e do recrutamento de investigadores de cibercrime para a PJ, que na última colocação recebeu 20 novos efetivos, o que corresponde a cerca de 30% dos novos elementos da Polícia Judiciária.
Em números redondos, o investigador diz que o crime informático e o crime praticado com recurso a meios informáticos representará cerca de 50% da criminalidade da PJ, e afirma que grande parte da cibercriminalidade tem por base a fragilidade humana, que corresponde a cerca de 80% dos casos investigados, mas refere que são "crimes velhos praticados nas novas plataformas", com modos de operação que eram conhecidos e que passaram a ser feitos em meios digitais, com recurso a técnicas de engenharia social.
As fraudes informáticas, crimes relacionados com meios de pagamento eletrónico, com as moedas virtuais e o MB Way, assim como a pornografia de menores, estão entre os crimes que inclui nesta área.
Carlos Cabreiro lembra ainda que não devemos ter os nossos dados expostos e que temos de segmentar a informação que damos, não acreditando à primeira em tudo o que nos dizem. Desconfiar, não repetir passwords e usar tecnologias que nos protejam são alguns dos princípios de segurança referidos pelo inspetor na entrevista.
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