A Google anunciou que pretende lançar aplicações comerciais de computação quântica dentro de cinco anos, segundo revelou Hartmut Neven, fundador e líder da equipa de Quantum AI da empresa, numa declaração à agência Reuters. A previsão da Google desafia as estimativas de outros players, como Jensen Huang, CEO da Nvidia, que acredita que estas tecnologias só estarão disponíveis daqui a duas décadas.

A computação quântica é uma área que promete transformar diversas indústrias. Diferente dos computadores tradicionais, que processam informações sequencialmente, os computadores quânticos utilizam qubits, permitindo representar múltiplos números em simultâneo. Essa capacidade pode revolucionar campos como ciência dos materiais, saúde e energia, com aplicações práticas como baterias mais eficientes para veículos elétricos, novos medicamentos e alternativas energéticas inovadoras.

Apesar do otimismo da Google, há um debate contínuo sobre quando os computadores quânticos se tornarão realmente úteis. Por exemplo, a Nvidia destaca que o tempo necessário para superar os desafios técnicos ainda é longo, apontando para uma janela de 15 a 30 anos. Por outro lado, a Google aposta que avanços recentes podem acelerar este processo, aproximando-se de aplicações práticas num horizonte mais curto.

Entre os avanços mencionados, está a criação de um novo método de simulação quântica híbrida, detalhado num artigo publicado na revista científica Nature. Esta abordagem combina técnicas digitais e analógicas, permitindo simulações mais rápidas e precisas de sistemas quânticos.

“Estamos muito entusiasmados, pois acreditamos que isto pode abrir portas tanto para descobertas como para aplicações nos computadores quânticos atuais,” afirmou Trond Andersen, cientista da Google e autor principal do estudo, citado pelo Gizmodo.

Os computadores quânticos operam em condições extremamente controladas, muitas vezes em temperaturas extremamente baixas, para manter os qubits no estado quântico necessário. No entanto, um dos principais desafios é o ruído do sistema, que pode desestabilizar as operações. A nova abordagem híbrida da Google permite que os investigadores iniciem simulações digitalmente, transitem para um modo analógico para explorar estados quânticos interessantes, e retornem ao digital para analisar os resultados com maior precisão.

Durante a pesquisa, a equipa usou 69 qubits no processador Sycamore, da Google, para desafiar teorias estabelecidas como o mecanismo de Kibble-Zurek, que descreve dinâmicas e defeitos em sistemas quânticos. Os resultados revelaram discrepâncias inesperadas, sugerindo novas descobertas no campo da física.

Governos e empresas estão atentos às implicações da computação quântica, especialmente na área da cibersegurança, onde sistemas tradicionais podem ser vulneráveis a ataques quânticos. Além disso, sectores como finanças e saúde poderão beneficiar de simulações mais rápidas e precisas para resolver problemas complexos.

Embora ainda haja desafios significativos, a Google está otimista em relação ao futuro. A empresa trabalha desde 2012 no desenvolvimento de processadores quânticos e estabeleceu uma meta ambiciosa: alcançar computadores quânticos tolerantes a falhas, que possam operar de forma robusta e eficiente.

Com cada passo dado na sua rota de seis etapas para um computador quântico completamente funcional, a Google acredita que o impacto destas máquinas poderá ser tão transformador quanto o da inteligência artificial nos últimos anos.