Qual é a investigação que se faz na área da Inteligência Artificial, nas Universidade e centros de investigação? Como é que as empresas estão a integrar a tecnologia nos seus processos e que impactos é que isso traz em termos económicos? Estas são algumas das questões que o estudo desenvolvido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, com o apoio da Google, tentou responder, fazendo o retrato da aplicação em Portugal.
O estudo vai ser apresentado hoje no FórumIA – Inteligência Artificial em Portugal mas o SAPO TEK já teve acesso ao documento. Em conversa com o coordenador do estudo, João Castro, da Nova BSE, percebe-se que o retrato obtido mostra que esta é uma área em desenvolvimento, onde não há grandes sinais de pioneirismo - excepto em algumas startups - mas onde existe um grande potencial que é transversal a vários sectores.
"Portugal tem pessoas qualificadas e está bem equipado para explorar a tecnologia", explica João Castro, adiantado que os principais fatores críticos são globais e que são desafios comuns a várias áreas geográficas.
"O interesse na investigação e nas aplicações de Inteligência Artificial é grande e está a crescer", explica João Castro. Os contactos realizados no âmbito do estudo abrangeram a Academia e as empresas e os autores encontraram casos de aplicação "um pouco por todo o lado", afirma o coordenador. No documento são listados vários centros de investigação nesta área, especialmente os mais ativos, e o coordenador do estudo admite que esta listagem não é exaustiva e podem existir outros casos.
Startups na linha da frente mas grandes empresas "esperam para ver"
Também do lado das empresas há uma atenção especial aos temas da Inteligência Artificial, com algumas startups a liderarem o desenvolvimento e a darem cartas na inovação a nível mundial. São apontados os exemplos de cerca de uma dezena e meia de startups portuguesas, entre as quais a Feedzai, DefinedCrowd, Unbabel e Reckon.AI.
Mas há ainda muitas companhias que estão à espera para ver o que esta tendência vai trazer, e não estão a investir, o que acontece por exemplo na Banca, onde há um contexto regulatório que não é favorável, refere.
João Castro sublinha que a Inteligência Artificial tem um potencial de aplicabilidade que se estende a todos os sectores, e que é potenciado em áreas onde o volume de informação e a utilização de sensorização podem trazer mais informação para analisar. A área da saúde e do retalho são duas das referenciadas como mais avançadas.
Para além da aplicabilidade e do potencial económico, o estudo aponta ainda a questão ética de utilização responsável, que foi também apontada durante as entrevistas. "Esta é uma preocupação", refere, dizendo que não é só a forma como a Inteligência Artificial e os algoritmos vão ser usados mas também o potencial de assimetria que existe entre o poder das grandes empresas (como as Google e Amazon), e companhias de menor dimensão.
Questionado sobre o papel que a regulação europeia pode ter a limitar a inovação nesta área, João Castro diz que não sentiu durante o estudo que os participantes considerassem que existe uma limitação na Europa. O modelo adotado, mais prudente, foi referenciado de forma positiva face a outros países, em especial a China e os Estados Unidos, o que mostra uma preocupação com a ética e a aplicação da tecnologia em prol da sociedade.
"Esta é uma área que exige uma discussão alargada" sublinha João Castro, num debate de larga escala sobre o uso atual e futuro de uma tecnologia que tem o potencial de mudar a sociedade.
A escala e as competências podem ser elementos de limitação ao maior desenvolvimento da Inteligência Artificial em Portugal. Como acontece noutras áreas, os alunos formados em Portugal têm competências ao nível de topo, mas não são em número suficiente para ganhar escala, além de que são requisitados para projetos internacionais.
Mesmo assim João Castro é otimista. "Esta é uma área onde podemos ousar ir a jogo", defende, lembrando que aqui não se coloca uma questão de localização periférica ou grandes investimentos industriais. A tecnologia está disponível a preços acessíveis e em modelos que podem escalar com as necessidades das empresas, mas é preciso competências para saber tirar partido das ferramentas.
O estudo foi financiado pela Google e foram feitas análises semelhantes na Grécia, Espanha e Itália, mas nesta fase os autores não avançam com comparações entre os vários países, o que pode acontecer numa segunda fase.
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