A Apple chega mais tarde à inteligência artificial do que a OpenAI, a Microsoft, a Meta e a Google mas pode dizer-se que mais uma vez soube "tomar conta" do conceito, apropriar-se da ideia e torná-la sua. Ontem a empresa apresentou a "Apple Intelligence" a sua visão da inteligência artificial nos vários dispositivos, do iPhone ao iPad e Mac, interligando as várias aplicações e dando mais poder à assistente digital Siri que agora assume mais funções.
Tim Cook, CEO da Apple, diz que este é o próximo grande passo para a Apple, mas sublinha que a "Apple Intelligence" é uma inteligência artificial diferente, mais pessoal . A visão da empresa para esta área é muito clara. "Tem de ser suficientemente poderosa para ajudar com as coisas que mais interessam [...] Tem de ser intuitiva e fácil de usar. Tem de estar integrada de forma profunda com a experiência do produto. E mais importante, tem de o entender e estar alicerçada no seu contexto pessoal, como a sua rotina, as relações, as comunicações e mais. E, naturalmente, tem de ser construída de início com privacidade"
"Tudo isto vai para além de inteligência artificial. É inteligência pessoal, e é o próximo grande passo para a Apple", defende Tim Cook.
A afirmação é ousada, e veio acompanhada de outras declarações audazes, que se seguiram a uma "entrada" a partir dos céus do Apple Park, com a equipa a simular um salto de paraquedas enquanto Tim Cook vigiava tudo no telhado do edifício. Veja o vídeo
Na apresentação do conceito que vai integrar a próxima versão dos sistemas operativos, o iOS 18, iPadOS 18 e macOS Sequoia, os executivos da Apple não referem de forma clara a parceria com a OpenAi e o ChatGPT, pelo menos como uma base ou um factor diferenciador. A ligação ao modelo de IA generativa mais popular é referida depois de todas as funcionalidades alinhadas por Craig Federighi, o vice presidente para a área de software, que mostra a integração com a Siri e diz que "no futuro podem ser integrados outros LLM [grandes modelos de linguagem]. A OpenAI foi muito mais clara e divulgou um comunicado onde fala da parceria com a Apple.
Veja as imagens das novas funções da Apple Intelligence
Depois da integração do Gemini no Android e do Copilot no Windows, o que traz de novo a Apple para a IA nos iPhones e Macs? A ideia da "inteligência Apple" é a mesma, tirando partido do contexto de informação do utilizador para acelerar as tarefas habituais, simplificando processos. A base não são os processadores da Qualcomm, AMD ou Intel, ou mesmo da Google, mas os seus próprios chips M1, e por isso vai ser preciso ter os equipamentos mais recentes para tirar benefício da IA.
Na abertura do WWDC24, que decorre durante esta semana, foram mostrados vários exemplos de como a Inteligência Artificial pode ser útil a fazer sumários e transcrições, ou a gerar imagens, criar e adaptar apresentações e documentos nas apps Keynote e Pages, assim como a retocar fotografias e a criar vídeos. Há também novas funcionalidades de saúde, com notificações e análise dos indicadores recolhidos pelo Apple Watch. Tudo integrado nas aplicações habituais do iOS 18, iPadOS e macOS, com foco na segurança, mas já há reações negativas e Elon Musk garante que vai proibir a utilização de equipamentos Apple nas suas empresas se a ideia for avante.
Mais funções nas mesmas aplicações
Com a integração da IA,há várias aplicações a tirar partido da tecnologia. No correio eletrónico vai ser criada uma nova seção de mensagens prioritárias que mostra os emails urgentes de forma automática, destacando convites para jantares no próprio dia ou cartões de embarque. A Apple adiciona ainda uma função de sumário e por isso vai mostrar mais do que algumas linhas de cada mensagem de email, e fazer sugestões de resposta com o Smart Reply.
Veja a demonstração das funcionalidades de IA em menos de 5 minutos
Nas imagens é o Image Playground que permite criar imagens em poucos segundos, em modo de animação, ilustração ou esboço, com resultados que podem ser integrados nas mensagens ou noutras aplicações. Todas são criadas localmente e sem limite de número.
Os emojis têm também novidades com o Genmoji que pode criar imagens a partir de descrições, e usando as fotos dos amigos e família como base para um resultado mais realista que pode ser partilhado nas mensagens.
Nas fotografias a IA da Apple propõe-se fazer o mesmo que a Google e a Samsung já fazem nos seus smartphones, retirante elementos indesejados com a função de clean up, usando também a tecnologia para os vídeos, com a funcionalidade de Memories tirando partido da análise de imagens e linguagem.
Uma nova Siri, com ligação ao ChatGPT
A Siri está também no centro da transformação e a Apple quer torná-la ainda mais presente, e mais útil. Com base nas conversas pode adicionar datas ao calendário com notas sobre tarefas a realizar, como por exemplo ir buscar a mãe ao aeroporto e combinar um almoço. "É uma nova era para a Siri", explica Craig Federighi, destacando o novo design e a luz que ilumina o ecrã à volta da moldura sempre que é ativada.
Nos exemplos da apresentação destaca-se que a Siri pode agora entender melhor a linguagem, mesmo que o utilizador "enrole" a mensagem, mantendo também o contexto da conversa mesmo que não seja contínua. Para além de voz é possível alternar entre texto e voz para comunicar com a Siri.
As perguntas podem abranger informação de emails ou funcionalidades do sistema operativo, com indicações passo a passo para mudar o modo de visualização do iOS, por exemplo, ou adicionar um número de um amigo que enviou uma mensagem à lista de contactos. Mas não se limitam a aplicações Apple e podem ser integradas com aplicações de outras empresas, se pré-definidas.
A integração com o ChatGPT da OpenAI é feita também através da Siri, que vai sempre perguntar antes se quer aceder à plataforma de IA generativa. Funciona no iPhone, iPad e Mac e está disponível também na ferramenta de escrita com o novo GPT-4o sem necessidade de criar uma conta. Quem tem uma conta paga pode ligar as funcionalidades mas a Apple garante que os pedidos de informação não serão guardados pela OpenAI e os endereços IP vão ser mascarados para maior privacidade.
Foco na privacidade em todas as funções
A segurança e privacidade são um dos grandes focos da apresentação da "inteligência Apple" e foram várias vezes referidos no keynote do WWDC.
"A nossa abordagem única combina IA generativa com o contexto pessoal do utilizador para fornecer inteligência verdadeiramente útil. E pode aceder a essas informações de maneira totalmente privada e segura para ajudar os utilizadores a fazerem o que é mais importante para eles. Isso é IA que só a Apple pode fornecer, e mal podemos esperar que experimentem”, sublinha Tim Cook.
Este vídeo mostra como a Apple quer garantir a segurança e privacidade da sua IA
O processamento da informação é feito no equipamento e nos pedidos mais complexos, que precisam de mais capacidade de computação, a Apple diz garantir a privacidade com a Private Cloud Compute, que leva o mesmo conceito para a nuvem. "Esses modelos são executados em servidores alimentados por chips da Apple, fornecendo uma base que permite à Apple garantir que os dados nunca sejam retidos ou expostos", refere a empresa, sublinhando Tim Cook que este é um novo standard para a privacidade na IA. Esta segurança pode ser verificada por auditores independentes que podem inspecionar o código.
Quanto à disponibilidade das novas ferramentas de IA, a Apple vai integrar a Apple Intelligence ainda em modo beta no iOS 18, iPadOS 18 e macOS Sequoia já no final do ano com o lançamento das novas versões, mas só nos Estados Unidos e para a língua inglesa. A empresa sublinha ainda que há funcionalidades que só vão ficar acessíveis durante o próximo ano, mas não detalha quais são.
Mesmo nos Estados Unidos, e para quem tem definido Inglês como língua base na Siri, a Apple Intelligence só vai chegar para já ao iPhone 15 Pro, iPhone 15 Pro Max e iPad ou Mac com o chip M1 ou superior, pelo que tão cedo não será possível experimentar esta inteligência em Portugal.
Veja todas imagens da abertura do WWDC24 que decorreu ontem no Apple Park na Califórnia
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