No primeiro ano do novo milénio não vale a pena falar da importância que a informática e as "novas" tecnologias assumiram na vida de todos nós. Não fazem ainda parte das necessidades básicas como definidas na pirâmide de Maslow - que determinava serem as biológicas, físicas e de segurança as mais importantes (veja aqui uma página de explicação sobre esta teoria) - mas para muitos são já incontornáveis. Certamente muitos conhecem a sensação de estar sozinhos por não terem consigo os telemóveis e não poderem aceder à Internet.

Alguns aniversários de desenvolvimentos importantes na tecnologia se celebraram em 2001, como os 30 anos do Microprocessador (veja notícia "Intel celebra os 30 anos do microprocessador") e os 20 anos do IBM PC (veja site do dia referente a este assunto), mas também na área de Internet se assinalou o envio há 30 anos atrás do primeiro email ("Primeiro email foi enviado há "cerca" de 30 anos").

Desenvolvimentos fundamentais para as próximas gerações de hardware e software, assim como mudanças conjunturais em termos de negócios para a área das tecnologias, fizeram porém com que a maioria das atenções se centrassem na actualidade e no futuro, principalmente devido à incerteza causada pelas muitas falências e "reestruturações com cortes de funcionários" a que se assistiu este ano.




O TeK seleccionou alguns dos acontecimentos e histórias deste ano que hoje acaba e que são dignos de memória, ou fonte de informação para prever e projectar o que estará nas primeiras páginas noticiosas em 2002. Propomos-lhe assim que nos acompanhe nesta "revista do ano".


  • Quebra de vendas de informática não abranda desenvolvimentos tecnológicos
    Com uma crise económica assumida, as vendas de computadores e outras áreas de tecnologia estavam a contabilizar números inferiores aos dos anos anteriores nos primeiros três trimestres do ano, mas os trágicos incidentes de 11 de Setembro tornaram a situação ainda mais negra e confirmaram definitivamente o mau ano que já se adivinhava.
    As quebras na aquisição de tecnologias por parte das empresas reflectiram-se também na baixa procura de computadores pessoais pelos consumidores finais, numa redução de vendas que se alastrou aos equipamentos de comunicação móveis. O Gartner Group estima que só nos PCs as vendas globais devem diminuir em 6 por cento entre 2000 e 2001.

    Os despedimentos avolumaram-se em todas as áreas, com as empresas a reduzirem em milhares o número de funcionários, reestruturarem divisões e até terminarem algumas áreas de negócios na tentativa de atingir o lucro em 2002.

    Apesar disso, o ano de 2002 foi florescente em desenvolvimentos tecnológicos, seguindo a escalada de capacidade de processamento e de armazenamento na informática, os desenvolvimentos de novas tecnologias para as comunicações e a procura do menor consumo de energia e miniaturização dos componentes.

    Na área de processamento, a Intel começou a comercializar um processador a 2 GHz e anunciou avanços tecnológicos que podem permitir chegar aos 20 GHz em 2006, enquanto a IBM desenvolveu um transístor capaz de atingir os 210 GHz.

    Mas ainda em termos de processadores o ano de 2001 teve uma baixa bastante importante, com a venda da divisão de tecnologia Alpha da Compaq à Intel em Junho. A área de desenvolvimento destes processadores de 64 bits concorrentes com a arquitectura Intel havia sido apontada em 1998 como uma das principais razões que levaram a Compaq a adquirir a Digital. Agora os servidores AlphaServer só vão ter processadores Alpha até 2003, mas esta arquitectura deverá integrar os desenvolvimentos do Itanium.




  • Apple à procura de rentabilidade nas vendas e com novo sistema operativo e hardware renovado
    Continuando a apostar na fórmula vencedora dos iMacs e de computadores portáteis e estações de trabalho com design inovador, a Apple continua a trabalhar para renovar a plataforma e ganhar maior sustentabilidade em quota de mercado que é reduzida progressivamente.

    Nesse sentido em Março de 2001 assistimos ao lançamento do Mac OS X, o novo sistema operativo construído a partir de uma base de software totalmente nova e baseando-se no FreeBSD - uma versão do Unix. O Mac OS X é considerada o desenvolvimento mais importante em termos de sistema operativo para computadores Macintosh e tem sido objecto de diversas actualizações no sentido de o tornar um SO mais estável e aberto a novos dispositivos.



    A renovação do canal de distribuição dos Estados Unidos esteve também nas primeiras linhas de actuação da empresa em 2001, com a preparação de abertura de 25 lojas próprias, mas que no final do ano se mostraram ainda pouco rentáveis.





  • Windows XP, a grande transformação dos sistemas operativos da Microsoft
    Também a Microsoft renovou em 2001 o seu núcleo dos sistemas operativos. O Windows XP versões Home e Professional foram lançados a 25 de Outubro com apresentações em diversos países, entre os quais Portugal, onde ofuscou completamente o primeiro dia da principal feira de Tecnologias de Informação, a Inforpor. Nesse mesmo dia o TeK dedicou a maioria da edição a trabalhos sobre o novo sistema operativo da Microsoft:


    Em termos mundiais a Microsoft revelou expectativas de atingir os 100 milhões de clientes com o produto instalado antes do fim de 2001. Para o ano de 2002 são esperadas, durante o primeiro semestre, as versões de 64 bits do Windows XP, a workstatione e servidor. Com o Windows .Net Server a suceder ao Windows 2000 Server e NT Server.

    Como habitualmente, o sistema foi posto em causa em relação a diversos pontos, mas o mais "alvejado" foi o sistema de activação, bastante contestado. Este é defendido pela Microsoft como indispensável no combate à pirataria de software, uma luta na qual a empresa de Bill Gates se empenhou bastante este ano.

    Já em Dezembro também a segurança do Windows XP foi posta à prova, tendo sido descobertas vulnerabilidades serviço de Universal Plug and Play (UPnP), que foram rapidamente alvo de publicação de um patch que corrige o bug.




  • Batalhas duras nas consolas de jogos, mas ainda ninguém ganhou a Guerra
    Ainda em termos de X, a Microsoft mostrou em Novembro a nova consola de jogos, a Xbox, que marca a entrada da empresa numa área nova, mas bastante disputada. Prova disso mesmo foi a disputa das datas para o lançamento da Xbox e da GameCube da Nintendo, marcadas na mesma ocasião para os primeiros dias de Novembro e mais tarde adiadas para 15 e 18 desse mês. Depois do lançamento seguiu-se a concorrência dos número de vendas, com a GameCube a ganhar pelo menos em termos de divulgação junto da imprensa.

    Por outro lado, os últimos números de vendas de jogos mostram que a PlayStation ainda é reponsável pelos maiores êxitos de software.

    Os europeus, que têm de esperar até à próxima Primavera para comprarem nas suas lojas estas consolas, assistem de longe, mas com a certeza de que terão de pagar mais pelo equipamento e pelos jogos do que os norte-americanos.

  • Crise das dotcoms obriga empresas viradas para Internet a procurar novos modelos
    Já se sabia que as empresas de Internet não estavam nas melhores condições financeiras no ano passado, mas este ano a crise generalizou-se e confirmou-se pondo em causa o modelo de negócio da Internet. Números divulgados recentemente indicam que o mês de -Dezembro não foi tão mau como os restantes do ano 2001, mas pode ter sido apenas devido a uma trégua "natalícia", já que este ano faliram o dobro das dotcoms do ano passado. Em Portugal a última vítima registada foi a da publicação "Recortes", a mais antiga zine de tecnologia que antes do Natal abandonou os moldes de edição noticiosa, revelando um futuro incerto.

    Ainda por provar no próximo ano é o sucesso dos vários serviços de música online lançados nos últimos dois meses. No ano em que o Napster foi encerrado e remodelado na tentativa de se tornar um negócio "legal" várias alternativas - igualmente consideradas violadoras dos direitos de autor - surgiuram, mas também as grandes editoras se associaram para "tomar conta do negócio". Falta agora saber se esta alternativa cara terá sucesso...


    Depois do falhanço do modelo de receitas baseado na publicidade, a possibilidade de ganhar dinheiro pela venda de conteúdos começou a transformar-se no Santo Graal em várias áreas, incluindo na já referida de música. A falta de uma solução consistente e relativamente universal que suporte os pequenos pagamentos pode ser a barreira a ultrapassar, mas a mais difícil será certamente a dos utilizadores habituados a ter uma Internet grátis e de utilização livre.




  • Internet gratuita mantém-se mas a Tarifa Plana continua "desaparecida"
    Mas se os utilizadores não querem pagar pelos conteúdos na Internet, a publicidade na Net escasseia sendo ainda pequena fonte de receitas e o comércio electrónico ainda não floresceu, como é que as empresas de Internet pagam as "contas"?
    A mesma pergunta é colocada pelas empresas fornecedoras de serviços de acesso à Internet, que sustentaram o modelo de acesso gratuito na possibilidade de ganharem dinheiro nos conteúdos através da publicidade. Um pouco por todo o lado os ISPs fecharam os seus serviços fecharam os seus "grátis".
    Em Portugal, apesar da morte anunciada deste tipo de ISPs, isso acabou por não acontecer, mantendo-se os principais serviços em que o utilizador não paga assinatura ao fornecedor de serviço, mas apenas as chamadas telefónicas. Uma das principais razões foi a alteração do modelo de partilha de receitas entre o operador de telecomunicações e o ISP, que assim se torna mais favorável para o segundo, que pode facturar directamente ao cliente.

    Mas, apesar dos apelos do Governo ainda em 2000 e da mudança do modelo de Internet, a tão desejada tarifa plana - de acordo com a qual o cliente pagaria apenas um valor fixo por tempo ilimitado de navegação na Internet que inclui as chamadas telefónicas - continua sem se tornar uma realidade. Vários avanços foram feitos nesse sentido, alguns ainda em 2000, mas nenhum se traduziu numa oferta comercial, deixando por concretizar uma das metas da Iniciativa Internet definida por este Governo.
    Em termos de acesso em banda larga, a situação não é também muito famosa. Por cabo ou por ADSL, a ligação a alta velocidade à Internet necessária para melhorar a qualidade da navegação e potenciar a disseminação de conteúdos multimédia, é ainda limitada aos clientes de operadores de cabo - e só alguns em algumas zonas - e à Grande Lisboa e Porto para o ADSL, ainda com valores algo elevados nas facturas mensais.






  • "Iniciativa Internet" no bom caminho

    Tirando a falta da Tarifa Plana e a dificuldade de disseminação da banda larga, a Comissão Interministerial para a Sociedade da Informação - responsável pelo acompanhamento do cumprimento dos objectivos e medidas definidas na "Iniciativa Internet" defendeu na sua terceira reunião, em Outubro, que Portugal está no bom caminho para a Sociedade da Informação. Mariano Gago, ministro da Ciência e da Tecnologia, salientou em Outubro que Portugal está a revelar uma boa evolução do ritmo de cerscimento tecnológico apesar de ter partido de um ponto muito baixo.

    Ainda na semana anterior a esta reunião tinham sido divulgados números da Comissão Europeia que classificavam Portugal na última posição quanto à Inovação tecnológica na União Europeia. Mariano Gago desclassificou então estes números por considerar alguns dos indicadores ultrapassados.





  • Problemas e esperanças das Telecomunicações transitam para 2002
    Nem só de Internet se fizeram os acontecimentos das telecomunicações em 2001. Com a liberalização declaradamente atrasada na Europa, segundo as palavras do Comissário Europeu para a Sociedade de Informação, Erkki Liikanen, este foi também para as telecomunicações um ano de fim de euforia. O UMTS ficou adiado em Portugal e por toda a Europa e as comunicações móveis deixaram de crescer ao mesmo ritmo acelerado com que vinham a presentear as empresas nos últimos dois anos.

    Fruto das fusões e transformações do mercado - grande parte culpa dos milionários leilões de UMTS realizados em 2000 mas também da bolsa que não sustentou a euforia - algumas empresas tiveram de fechar e mesmo as "grandes" foram obrigadas as remodelar e a recuar em alguns investimentos. Em Portugal forma ditados o fim da Maxitel e da Teleweb, mas os operadores avisam que é preciso remodelar alguns modelos na liberalização de forma a garantir a sustentabilidade de outras empresas.


    Apesar dos avanços teóricos na liberalização do lacete local - o último quilómetro de rede que permite aos operadores chegar a casa dos clientes - na prática ainda muito poucas centrais foram abertas, e no acesso partilhado ao local loop -que permite que dois operadores dividam a comunicação de voz e dados num mesmo cliente - motivou mesmo uma advertência da Comissão Europeia a Portugal, que o Instituto das Comunicações de Portugal afirma ser fruto de falta de informação.



    Com uma proposta entregue ao Governo para adquirir a rede de comunicações fixa, da qual detém apenas a concessão, a Portugal Telecom continua a dominar o mercado das telecomunicações fixas, detendo através das suas participadas na área móvel (TMN), Internet (Telepac), Grandes empresas (PT Prime) e televisão por cabo (TV Cabo), a liderança nas várias áreas.



    Já na área da convergência não é possível ignorar o lançamento este ano do projecto de Televisão Interactiva da TV Cabo, pioneiro a nível mundial no suporte à plataforma Advanced TV da Microsoft. Anunciado a 7 de Junho o serviço acabou por não conseguir alcançar este ano a massificação, apesar das perspectivas iniciais de atingir os 100 mil utilizadores até final de 2001. Para o próximo ano fica a promessa de uma aposta renovada, com mais serviços e conteúdos que tornarão "a caixa que mudou a televisão" ainda mais apelativa.




  • Grandes "negócios" em stand-by
    A mergafusão de 25 mil milhões de dólares anunciada em Setembro entre a Hewlett-Packard e a Compaq continua por decidir, não só por parte das entidades reguladoras dos mercado norte-americanos mas também internamente, onde o negócio não deixou de provocar oposição.

    Mas os responsáveis das duas empresas ainda não baixaram os braços e continuam a defender a sua ideia, tendo apresentado recentemente um documento onde alinham razões e argumentos para a junção das duas grandes companhias. Decisões só no próximo ano.


    Também para 2002 foi prolongado o processo de alegada violação das leis de concorrência por parte da Microsoft, que opunha a empresa de Bill Gates a 18 Estados norte americanos. Nos últimos meses foram atingidas algumas bases de entendimento com alguns Estados e o procurador geral no sentido de obter um acordo.

    A hipótese de separação da Microsoft em duas empresas havia já sido afastada e depois de três anos de litigação a solução do caso parece cada vez mais próxima com a Microsoft a ceder algumas posições e um notório "cansaço" de ambas as partes a ajudar.


    Para o ano que amanhã se inicia fica a expectativa de uma melhoria geral na economia, com uma recuperação da indústria das telecomunicações e informática expectável. Decisões dos grandes processos internacionais, já referidos, e por cá da possibilidade de venda por parte do Estado da rede de telecomunicações à concessionária Portugal Telecom.

    Já a partir de Janeiro o Instituto das Comunicações de Portugal adquire nova designação e estatutos - ICP-Anacon - que lhe garantem um maior pendor na defesa dos interesses dos consumidores, e no último dia do ano está marcado o arranque comercial do UMTS.

    A equipa do TeK espera que se concretizem os bons votos de todos os seus leitores para o novo ano e que na próxima "Revista do ano" - que faremos no final de Dezembro de 2002 - a maioria dos acontecimentos a salientar sejam positivos.

    Um Bom Ano.