
Não há dados fiáveis sobre as software houses portuguesas nem sobre o número de recursos humanos que trabalham na “indústria de software”, mas não há dúvida nenhuma de que esta é uma área relevante para o desenvolvimento da economia, e não apenas para prestar serviços de outsourcing, ou para integrar soluções desenvolvidas noutros países, perdendo desta forma parte do valor criado e do capital intelectual.
Os números hoje divulgados pela IDC mostram que 72% das empresas portuguesas vão manter ou aumentar investimento em TI este ano, num crescimento de 2,6% para os 4,1 mil milhões de euros, que se distribuem pelo software, hardware e serviços, mas que se destinam sobretudo ao desenvolvimento de novos produtos.
O desafio é tornar este investimento também um motor para as empresas portuguesas que se dedicam ao desenvolvimento de software, uma indústria que João Paulo Carvalho não duvida que continuará em grande desenvolvimento nos próximos anos.
“A necessidade estimada de programadores a nível internacional é elevadíssima porque as organizações necessitam de cada vez maior eficiência e controle dos seus processos e de uma melhor gestão dos seus dados, que crescem exponencialmente”, explica ao TeK o senior partner da Quidgest, depois de ter sido desafiado a ajudar neste trabalho de antecipação de tendências que o TeK tem publicado nas últimas semanas.
E quais são os grandes motores da necessidade de novo software? As novas áreas de crescimento, “como a mobilidade, a gestão de dados e a Internet das Coisas estão a criar cenários de mudança radical, dos quais o primeiro já é uma realidade, embora seja expectável que continue a registar uma mudança acelerada, com a crescente utilização de aplicações empresariais em dispositivos móveis”, acrescenta João Paulo Carvalho.
Para que este crescimento antecipado aconteça é preciso porém eliminar barreiras, e as principais centram-se nas convicções existentes. Ou seja, nas crenças. E são várias, como elenca o partner da Quidgest, apontando “a crença de que os processos manuais são mais eficientes do que com software” e a “crença de que a programação manual (outsourcing) é melhor do que com geração automática (SmartSourcing e Genio)”, ou mesmo “ a crença de que produtos internacionais são melhores que os nossos”. Esta última tem vindo a perder gradualmente relevância, à medida e empresas como a WeDo e a Uniplaces, ou mesmo a Talkdesk, assumem sucesso internacional.
Mas há mais barreiras, sobretudo a nível da escassez dos recursos humanos, ou da falta de preparação em áreas críticas, como a dos data scientists. Os números da União Europeia indicam que na Europa vão faltar mais de 900 mil profissionais nas áreas tecnológicas até 2020, a um ritmo de 100 mil por ano.
O que é português é (sobretudo) bom?
João Paulo Carvalho acredita que as empresas portuguesas têm hipótese de combater o domínio das software houses internacional. E assina de cruz sob a ideia de que isso acontece sobretudo nas áreas de software de gestão, e se conseguirmos mudar a perceção da “alegada vantagem” de produtos internacionais.
“O que é que uma software house internacional acrescenta de valor a uma aplicação de contabilidade pública portuguesa? E o que é que outra empresa de software internacional de aplicações open source acrescenta a uma software house portuguesa com programação por modelos, com um software que produz software com geração automática de código?” questiona? Nestas duas situações o partner da Quidgest garante que é “indiscutível que empresas nacionais serão capazes de prestar um melhor serviço às organizações suas clientes”, e como vantagens aponta as novas tendências, a nossa facilidade natural de adaptação cultural e a flexibilidade na resposta aos requisitos dos clientes, que tornam as empresas portuguesas concorrentes efetivos nas várias situações.
Em contraposição com o modelo de integradores de software internacional, João Paulo Carvalho assume que essa estratégia não cria valor sustentável, e que ao licenciar propriedade intelectual alheia criam dependência e obrigação de importação de serviços de países estrangeiros, agravando o défice comercial. “As atividades mais nobres, de conceção, de arquitetura, de engenharia, de design, de otimização da usabilidade não são nacionais. Os integradores são meros serviçais, tanto mais úteis quanto pior pagos e facilmente substituíveis no panorama internacional”, afirma.
“A indústria de software, que defendemos, é o contrário. Potencia o desenvolvimento do país. Garante o reconhecimento internacional. Traz-nos vantagens competitivas sustentáveis na sociedade do conhecimento. Gera empregos bem remunerados. Tem um enorme potencial exportador. Mantém os centros de decisão em Portugal. É verde e não poluente”, defende o senior partner da Quidgest, dando como exemplo a diferença entre conceber uma ceifeira debulhadora ou estabelecer uma linha de montagem de automóveis estrangeiros, sendo que a primeira “gera mil vezes mais valor local”.
Isso não quer dizer que não existam grande players globais na área de software. “Claro que há software de base, tipo sistemas operativos, bases de dados e outros igualmente genéricos em que vão subsistir poucos players. Mas, em todas as áreas do software de gestão, criamos muito mais valor para o nosso país e até para outros países em desenvolvimento, ainda mais se pensarmos no potencial que o software desenvolvido em Portugal pode ter na maior competitividade das empresas nacionais nos setores identificados como prioritários”, refere.
Dinâmica virada para as startups não é suficiente
Na lista de desejos de João Paulo Carvalho para 2016 há várias linhas, todas dedicadas à concretização do potencial de crescimento da economia nacional, ou pelo menos as que partilhou com o TeK.
A dedicação de maior atenção às empresas portuguesas que desenvolvem software por parte das autoridades competentes é uma delas, até porque esta atenção não pode ir toda para as startups “por muito relevante que sejam e por maior que seja o seu ritmo de crescimento”.
A isenção está também na lista, mas não em relação aos impostos. “Seria fundamental que o Estado desse uma indicação clara no sentido de uma maior isenção na seleção das soluções tecnológicas adquiridas, preferindo até nacional em igualdade de circunstâncias. Seria igualmente fundamental que validasse de forma efetiva a aplicação destas soluções, a relação custo/benefício e a eficácia dos resultados obtidos”, alerta, defendendo que o Estado deveria tomar a iniciativa de processar os decisores que, ilegalmente, impedem o acesso das empresas nacionais produtoras de software aos seus concursos, promovendo também “inspeções cuidadas a todas as situações semelhantes ocorridas nos últimos 10 anos, as quais têm grande responsabilidade na crise económica e nas ineficiências do Estado”.
Alguns destes alertas têm feito parte da agenda de João Paulo Carvalho, e da Quidgest, nos últimos anos, mas não há indicações claras de que não se irão estender além de 2016.
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