O Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, é o principal palco de uma agenda bem preenchida com várias talks e sessões mais técnicas, mas no Ubucon Europe não falta também espaço para o networking e as visitas culturais, numa fusão curiosa entre espaços repletos de história, como o Palácio da Pena ou a Quinta da Regaleira, e um dos mais jovens “players” no mundo do software.
Durante 4 dias a comunidade internacional de Ubuntu reúne-se em Sintra para um evento aberto à participação de todos, onde os princípios do open source e tecnologias abertas dominam. A conferência Ubucon Europe já teve início na 5ª feira, dia 10, e prolonga-se até domingo, dia 13 de Outubro, mantendo uma filosofia de portas abertas a todos os que queiram participar, mesmo sem necessidade de registo.
E qual é afinal a importância da Ubucon? A dimensão do número de participantes, que deverá rondar a centena e meia, não conta toda a história do que se pode aprender nestes dias, como o SAPO TEK teve oportunidade de verificar esta manhã.
Organizada pela comunidade Ubuntu Portugal , com a Associação Nacional para o Software Livre, a Ubuntu Europe Federation e a Câmara Municipal de Sintra, a conferência traz a Portugal alguns dos maiores especialistas de open source e mostra que o Ubuntu está bem vivo, mesmo que ainda não seja conhecido da maioria das pessoas e esteja longe do “domínio mundial” que alguns poderiam ambicionar.
15 anos de Ubuntu
Este ano o Ubuntu faz 15 anos, depois da criação em 2004 por Mark Shuttleworth que juntou uma equipa de developers Debian e fundou a Canonical, na África do Sul, com o objectivo de desenvolver uma distribuição de Linux fácil de utilizar. Chamou-lhe Ubuntu, uma palavra originária das línguas Zulo e Xhosa que significa “eu sou porque nós somos” e isso mostra a sua dimensão social.
O milionário Mark Shuttleworth declarou na altura que “a minha motivação e objectivo é encontrar uma forma de criar um sistema operativo global para desktops que é ‘gratuito’ em todos os sentidos, mas também sustentável e de uma qualidade comparável com qualquer outro que possa comprar”.
E nos últimos 15 anos o Ubuntu não parou de crescer, acompanhando as tendências e avançando do desktop e dos servidores para a Cloud, o IoT e mesmo os telemóveis, de onde a Canonical acabaria por se retirar deixando o desenvolvimento nas mãos da comunidade UBports.
“O Ubuntu nunca esteve tão bem”, afirma Tiago Carrondo, responsável pela comunidade Ubuntu Portugal, explicando que a cada mês a utilização na Cloud cresce e o mesmo acontece no desktop. “A comunidade deu provas que está viva e participativa” e a Ubucon é um exemplo dessa capacidade de entrega e envolvimento nos projectos.
Uma nova versão do Ubuntu vai ser lançada daqui a duas semanas (a 19.10) e no próximo ano, em abril, é a vez da Ubuntu 20.04, a nova versão LTS que está a gerar expectativa e que é motivo de várias talks durante a Ubucon.
Um sistema operativo que não é só para ‘geeks’
Mas isto é um tema só de alguns “geeks” que não se importam de “meter a mão na massa” e mexer no código para adaptar o sistema operativo às suas necessidades? Gustavo Homem, director técnico da ângulo sólido, garante que o Ubuntu é cada vez mais usado nas empresas e que na cloud Azure, AWS e DigitalOcean está entre os sistemas operativos mais utilizados, destacando a facilidade de utilização, flexibilidade e segurança.
A ângulo sólido usa internamente e nos seus clientes, desde os desktops a routers e soluções na Cloud, e durante a Ubucon apresentou os usos expectáveis e menos expectáveis do Ubuntu, onde entram alguns hacks com mesas de mistura de som.
É na Cloud que o Ubuntu tem crescido mais, pela liberdade de utilização do sistema operativo, até porque a nível dos computadores desktop e portáteis está muito dependente da vontade dos fabricantes de venderem os equipamentos com o SO pré instalado, ou sem sistema operativo, deixando espaço para a sua utilização.
Só que, mesmo que seja fácil e já esteja cada vez mais preparado para ligação a todos os periféricos e suporte dos mais variados softwares do mercado, o Ubuntu está longe de ser conhecido da maioria dos utilizadores de computadores, estando o seu uso reservado a uma fatia restrita de pessoas com conhecimento e formação mais técnica.
Nos telemóveis, onde houve um movimento para criar um sistema operativo em 2014 que pudesse ser uma alternativa ao Android e iOS, o abandono do projecto pela Canonical também não ajudou a criar um movimento mais massificado e a envolver as fabricantes. A comunidade UBports continua a desenvolver o conceito e o código, e durante a Ubucon mostrou algumas novidades e desenvolvimentos com a Fairphone e a Pine64, mas ainda longe de se tornar um sistema operativo sólido, em que se possa confiar totalmente, como admitiu Jan Sprinz.
Na audiência da talk, a que o SAPO TEK assistiu, havia vários utilizadores do Ubuntu Touch, o sistema operativo móvel, mas com dúvidas e problemas, como a disponibilidade das aplicações mais usadas. Mesmo assim o SO é estimado, e houve até quem o comparasse com um animal de estimação, que pode destruir a sala de estar e roer os sapatos ao dono mas que não deixa de ser amado.
Como se faz uma Ubucon?
“Queríamos fazer uma Ubucon memorável”, explica Tiago Carrondo, o rosto da organização que nos últimos meses dedicou muito do seu tempo à preparação de toda a logística, numa equipa pequena mas muito empenhada, como explicou ao SAPO TEK.
O evento europeu já vai na quarta edição e surgiu de uma forma espontânea, dentro da comunidade, e depois da Alemanha (Essen), França (Paris) e Espanha (Xixón), Portugal é o quarto país a receber a comunidade com o objetivo de "ter uma Ubucon sem chuva" e daqui a comunidade segue em 2020 para um novo local que deverá ser revelado esta semana mas está ainda no segredo dos Deuses.
Caracterizando a Ubuntu Portugal como uma comunidade de pessoas, Tiago Carrondo explica que as empresas são “amigas”, e surgem como associadas e patrocinadoras do evento, onde também há relações com instituições de ensino.
São as pessoas que estão no centro da organização e do propósito da Ubucon, por isso há uma componente social muito elevada, permitindo a voluntários que trabalham em projectos de Ubuntu durante o ano inteiro encontrarem-se cara a cara e partilharem experiências e conhecimento. Por isso a agenda foi desenhada para começar um pouco mais tarde do que é habitual, pelas 10 horas, terminar mais cedo e deixar espaço para um longo almoço.
A conferência termina amanhã, mas quem quiser ainda pode assistir às últimas apresentações no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Pode registar-se ou simplesmente aparecer. Porque a política é de porta aberta e a privacidade é respeitada pela organização.
E quem não teve a oportunidade de assistir vai conseguir ver tudo em vídeo nas próximas semanas. Tiago Carrondo explica que não quiseram fazer a transmissão em streaming mas que está tudo a ser gravado para ser editado e disponibilizado em breve.
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