O cyberbullying, que se tornou uma das grandes preocupações dos pais cujos filhos navegam online ou já não dispensam o telemóvel, pode não ser, afinal de contas, uma ameaça tão grande como o bullying presencial, de que as crianças são vítimas na escola ou entre os vizinhos, por exemplo.

A conclusão foi apresentada durante a convenção anual da Associação Americana de Psicologia, esta semana, onde um investigador que se tem debruçado sobre o tema afirmou que, contrariamente ao que se podia esperar, não se tem verificado um aumento gritante do bullying "virtual" ou "digital" (levado a cabo com recurso a meios como a Internet ou o telemóvel) durante os últimos casos.

O especialista conclui também que o bullying "tradicional" continua a ser mais comum que o suportado em plataformas digitais, apresentando-se mais como um novo "meio" a ser usado por quem já perseguia os colegas do que propriamente como uma "novidade" que tenha criado mais uma ameaça.

A ideia de que o cyberbulliyng aumentou dramaticamente, convertendo-se no "grande problema" de bullying nas escolas é claramente exagerada, defendeu o psicólogo Dan Olweus, durante a sua intervenção.

Este especialista norueguês tem acompanhado o problema e afirma que "existem muito poucas evidências científicas de que o cyberbullying tenha aumentado nos últimos cinco a seis anos e este tipo de bullying é, na realidade, um fenómeno muito menos frequente".

O responsável realizou um estudo com 450.000 estudantes americanos, do 4º ao 12º ano, e verificou que enquanto cerca de 18% já tinha sido vítimas de bullying verbal, apenas 5% tinham sido alvo de cyberbullying. Na ótica dos agressores, 10% afirmaram já ter perseguido colegas, mas apenas 3% o fizeram recorrendo a meios digitais para o efeito.

Conclusões semelhantes foram retiradas de um estudo que levou a cabo na Noruega, em que foram seguidos 9.000 alunos do 4º ao 10º ano, entre 2006 e 2010. Cerca de 11% já tinham sido vítimas de bullying presencial mas apenas 3% foram alvo de ataques por via de meios digitais. A análise mostrou ainda que entre 80% a 90% das vítimas e cyberbullying tinham sido também alvo de ameaças presenciais.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Joana M. Fernandes