É entregue esta quarta-feira na Assembleia da República o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), referente ao ano passado. O documento aponta para o crescimento ou sofisticação dos ataques registados no país, em algumas áreas críticas, e alerta para um aumento das atividades de espionagem com técnicas de ação sofisticadas, alvos diversos e, aparentemente, motes também eles distintos.
Durante o ano passado, registaram-se “crimes de sabotagem, dirigidos a empresas com relevância no tecido empresarial nacional”. A mesma fonte sublinha um “aumento da espionagem através de ameaças persistentes, tecnologicamente avançadas, de origem estatal, direcionadas a importantes centros de informação do Estado português”.
A sofisticação destes ataques, admite-se no relatório, tem resultado numa “crescente dificuldade em destrinçar ataques informáticos para efeitos de crime económico ou de crimes de sabotagem”.
Vítimas de ações de ciberespionagem terão também sido ao longo do ano passado alguns centros de investigação científica, em especial aqueles que estão envolvidos na pesquisa de terapêuticas para a covid-19, revela o documento. O número de ataques informáticos a entidades ligadas à saúde também aumentou.
>O relatório dos serviços de informação registou igualmente novos ataques a infraestruturas críticas do país, ao longo do ano passado, aqui avaliados com a “finalidade de aceder a informação classificada, com valor político e económico”.
Na área dos serviços digitais, e como já apontavam várias outras fontes, 2020 foi também um ano de crescimento dos esquemas de burla e outras atividades fraudulentas, associadas a meios digitais.
No relatório de segurança interna quantifica-se agora que o crime informático aumentou 26,8% no ano passado, para 353 casos. “Concorreram para este resultado o aumento verificado nos crimes de acesso/interação ilegítima, de falsidade informática, outros crimes informáticos e viciação ou destruição de dados”. Na sequência destes crimes foram constituídos 398 arguidos.
Neste âmbito, destaque para a fraude com meios de pagamento ou o branqueamento de capitais, referindo-se mesmo “um aumento do número de casos investigados, com especial concentração na fraude online”. Verificou-se um aumento exponencial dos crimes relacionados com o uso fraudulento de cartões de crédito em plataformas online, aponta-se, e das fraudes relacionadas com o MB Way. Sobre estas últimas, o relatório sublinha a falta de conhecimento do produto e dos cuidados de segurança a ter na sua utilização, por muitos dos que o usam.
Os crimes de phishing também aumentaram, ainda que o ransomware continue a ser a forma de sabotagem informática mais comum, com uma especialização crescente dos ataques realizados.
Os grupos mais fortes a atuar em Portugal nestas áreas continuam a ter origem no Brasil e no continente africano. Nos crimes de sabotagem por meio de ransomware, destacam-se grupos de leste, contribuindo para o crescimento de mais de 20% dos crimes de burla informática de comunicações no país em 2020, um indicador que cresce assim pelo terceiro ano consecutivo.
Grupos radicais aproveitam canais online
O relatório dos Serviço de Informações de Segurança sublinha ainda outros riscos online, que se acentuaram em 2020, nomeadamente o da disseminação de ideias radicais e extremistas e os efeitos que daí podem advir a médio e longo prazo.
"Nos extremismos políticos, apesar de a pandemia ter obrigado ao cancelamento de muitas das atividades tradicionais (reuniões, conferências, concertos), o confinamento imposto aumentou o tempo de exposição da sociedade em geral, e dos jovens em particular, aos meios online”, sublinha o relatório. Com isto “abriu um leque de oportunidades para que os movimentos radicais de extrema-direita disseminassem conteúdos de propaganda e desinformação digital”, constata-se.
Face a estas conclusões fica o alerta para os "riscos de radicalização violenta online de jovens portugueses”, uma situação que os serviços de segurança admite poder agravar-se nos próximos anos.
O Relatório Anual de Segurança Interna foi esta terça-feira aprovado pelo Conselho Superior de Segurança Interna.
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