Na sexta-feira uma notícia avançada pelo The Guardian dava conta de um antigo colaborador da Microsoft que reviu milhares de áudios dos serviços da Microsoft na sua própria casa, o Skype e a Cortana, para se certificar de que os softwares de transcrição das plataformas estariam a funcionar de forma adequada. A reação da gigante tecnológica surgiu no mesmo dia, garantindo que atualmente as chamadas pelo Skype são transcritas em "instalações seguras num pequeno número de países” e que a China não faz parte dos "escolhidos".
Ao jornal britânico o antigo colaborador da empresa, que na altura vivia em Pequim, explicou que transcreveu chamadas de Skype sem medidas de cibersegurança, nomeadamente no que diz respeito a possíveis interferências do governo chinês ou de hackers. Para além disso, garantiu ainda que analisou milhares de gravações de áudio do Skype e da Cortana no seu computador pessoal de sua casa durante dois anos.
De acordo com a informação divulgada pela fonte anónima, este colaborador não terá sido o único a fazê-lo. Os trabalhadores que fizeram parte do programa de revisão terão acedido aos áudios através de uma aplicação web num navegador Chrome na China, e com um "simples username e uma password", no caso da assistente digital Cortana, cuja app vai ser descontinuada já a partir do dia 31 de janeiro. O que significa que, “hipoteticamente”, o log in poderia ser partilhada com qualquer pessoa, explica.
O antigo colaborador da Microsoft garante que ouviu "todo o tipo de conversas invulgares", incluindo potenciais conversas de violência doméstica
No mesmo dia em que a notícia do The Guardian surgiu a público, um porta-voz da Microsoft explicou ao The Verge que os clips de áudio a que os colaboradores têm acesso para revisão têm uma duração de dez segundos, ou menos, "e ninguém revendo esses áudios teria acesso a conversas mais longas". "Sempre divulgámos isso aos clientes e funcionamos com os mais altos padrões de privacidade estabelecidos em leis, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados, na Europa", acrescentou.
Colaboradores a reverem conversas já é um “hábito”. Mas há empresas de "peso" que suspenderam essa prática
Relatos de que o Skype estaria a usar colaboradores para rever conversas pessoais dos utilizadores foram reportados pela primeira vez em agosto de 2019 pela VICE. Na altura, os termos de serviço da plataforma garantiam que a plataforma analisava chamadas para melhorar os serviços de plataformas de chats, mas não esclareciam de que forma. Pouco tempo depois, a Microsoft revelou que o fazia através de trabalhadores humanos, e não através de tecnologia, com vários concorrentes de peso a contrariar a tendência e a garantirem que suspenderam esses programas de revisão.
Em agosto a Alexa, a Siri e o Google Assistant começaram a ser investigadas por reguladores e legistadores nos Estados Unidos e na Europa, por questões de violações de privacidade. Entretanto, tanto a Google como a Apple suspenderam os seus programas que recorrem a humanos para reverem gravações de áudios nos seus assistentes virtuais Siri e o Google Assistant, que desde novembro de 2019 que fala português, de Portugal.
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