Créditos não faltam a Tony Fadell, que esteve na Apple como vice-presidente para a divisão iPod. Sob a sua liderança, a sua equipa desenhou 18 gerações do famoso leitor de música digital da Apple, culminando na criação do iPhone, o qual ainda esteve envolvido nas primeiras três gerações, quando Steve Jobs ainda geria o destino da gigante tecnológica. Com 30 anos de experiência, o veterano é referenciado como tendo um olhar especial para encontrar a próxima grande tendência tecnológica.

Apesar da sua palestra se ter focado exatamente no seu livro Build, onde partilha o seu conhecimento e experiência indústria, também foi anunciado no Web Summit que o designer passa a fazer parte do quadro de diretores da gigante tecnológica Arm. A notícia foi dada em primeira-mão pela empresa, referindo que a sua experiência de décadas vai ser utilizada na arquitetura e ecossistema da Arm, quando a empresa se prepara para uma potencial entrada na bolsa.

A tecnologia da Arm esteve mesmo na base de qualquer produto que o designer construiu, tanto na Apple como na Nest, por isso é um ecossistema que abraça com conhecimento.

Durante a sua sessão, foi questionado sobre as experiências mais impactantes na Apple. Disse que mudar duas vezes o mundo, com o iPod e iPhone, foi o marco da sua carreira. Mesmo que o iPod esteja morto, o iPhone está para continuar. Defende ainda que o sucesso teve por trás muitas coisas que foram um fiasco. E dirige-se à plateia para dizer que a melhor lição está nos falhanços, nos desastres que se transformam em coisas boas no fim.

Tony Fadell Web Summit

Durante a sua carreira, diz que se inspira em enciclopédias de “falhanços”, procurando mesmo histórias de fiascos de Steve Jobs e o seu avô, que diz serem os heróis que mais o inspiraram. Lições duras, mas que são reais, que para si funcionaram muito bem. Por isso, está também empenhado em ajudar empresas a alavancar o seu negócio através do seu livro.

Na Nest Labs, a empresa que criou para produzir produtos de IoT e que foi adquirida mais tarde pela Google, ainda serve de mentor para muitos dos seus produtos. A ideia, diz, é ajudar as pessoas a procurar inspiração na sua própria rede de conhecimentos. E afirma que se está neste palco da Web Summit é porque houve alguém melhor que ele que o inspirou a tornar-se melhor no que faz. “Se olharem para a vossa network haverá certamente alguém com coisas para vos ensinar”. Afirma que é muito assustador quando não se consegue falar com colegas ou pessoas, assim como outros que não compreendam o seu negócio, seja metaverso, cripto ou web3.

Tony Fadell lançou o livro chamado Build, considerado “um guia inortodoxo para tornar as coisas valerem a pena serem construídas” e defende que se deve ignorar as pessoas que dizem “para estar quietas”, para não construir. No livro, estão testemunhos de pessoas que trabalharam diretamente com Steve Jobs e outros grandes líderes tecnológicos, que serviram de inspiração aos próprios. “Podem saber muito de tecnologia, mas precisam aprender aquilo que motiva as pessoas”, afirma.

Trabalhar para as pessoas e não para a tecnologia

O que aprendeu foi que os falhanços da Apple se deveram a não entenderam a sua audiência. Faziam coisas para geeks, para pessoas que refere como “super-poderosas”, mas essas não são público comum. Saber como vender as coisas, fazer o respetivo marketing é importante. Isso aprendeu também na Apple como criar uma bola de neve com os seus produtos, a serem apelativos ao público, porque a empresa também aprendeu como compreender as necessidades das pessoas. E quando isso acontece, estas pessoas vão falar com as outras, no chamado “boca a boca”, e “isso é a ferramenta de marketing mais poderosa que existe”.

O empreendedor acredita que o iPhone nasceu da necessidade de juntar entretenimento do iPod, o smartphone e o pager para enviar e receber mensagens num único equipamento. E ainda assim ser esteticamente interessante. No entanto, defende que não vai existir um novo “iPod” no horizonte. E diz que a Apple dessa altura é muito diferente daquela que hoje conhecemos. Na altura, quando sentiram que tinham um produto melhor que os gigantes de smartphones, assim como a vontade de fazer a diferença, assumiram o lançamento do iPhone, como uma pedrada no charco.

Tony Fadell admite mesmo que em 2004 a Apple esteve para fechar e devolver o capital aos seus acionistas. No ano seguinte tinham o iPod que relançou a empresa. E depois o iPhone foi um risco, porque simplesmente canibalizava o seu melhor produto de sempre, o iPod. Por isso, ao ter na mão um produto de comunicações que também servia como entretenimento, fez com que o iPod morresse naturalmente. Mas diz que felizmente, tudo correu bem para a empresa e a transição de sucesso do iPod para o iPhone continuou a fazer da Apple o colosso que ainda é hoje.

Existe um capítulo no livro chamado “assholes”, em que as pessoas se sentem julgados pelos chefes, que rebaixam as suas ideias. Mas estes têm a missão de entregar os melhores produtos aos clientes, visão que era a de Steve Jobs, considerado uma pessoa difícil de lidar internamente. Não pode deixar o ego interferir na missão de entregar as melhores experiencias. “Um bom líder vê coisas em ti, que tu próprio não consegues ver”, salienta.

O livro de Tony Fadell concentra conhecimento acumulado de 20 anos, alertando que uma nova jornada tecnológica, nunca demorará menos que 10 anos a se estabelecer. Diz que na Nest criou sistemas de IoT há mais de 10 anos que só recentemente estão a ser incorporadas pelas maiores fabricantes da indústria, como a Amazon, Apple, Samsung e outras.

Coisas que vão mudar o mundo demoram muitos anos. Dá o exemplo das alterações climáticas que vai afetar todas as indústrias que procuram soluções amigas do ambiente. Mas isso vai demorar anos a chegar e amadurecer. No livro, criou aquilo que chama factos nutricionais, em comparação com a comida, para explicar o que cada tecnologia revolucionária tem por trás na sua base.

No fim, deixa uma mensagem que arrancou aplausos da plateia: “Preocupem-se com todos os problemas atuais e futuros como as alterações climáticas, deixem para lá o metaverso. FUCK THE METAVERSE.”

O SAPO TEK está a acompanhar toda a edição do Web Summit em direto até dia 4 de novembro. Siga todas as notícias aqui, acompanhando também a transmissão em direto no palco principal.

Veja ainda algumas das principais imagens que a equipa do SAPO TEK vai recolhendo por dentro do Web Summit