O relatório anual da Europol identificou um crescimento significativo da utilização de criptomoedas anónimas como a Monero, para fazer transações, na chamada Dark Web. Embora a maioria das transações continue a ser feita em bitcoins, os ativos são depois trocados para moedas mais privadas e dispersos por várias plataformas, conclui a Polícia Europeia.

As conclusões da Europol estão em linha com as suspeitas levantadas por outros relatórios divulgados ao longo do ano, que apontam uma utilização crescente das criptomoedas e de outros ativos digitais, como os NFT, para lavar dinheiro. Estes ativos estão a ser cada vez mais usados para permitir que fundos ilícitos passem de plataforma em plataforma no ciberespaço, para poderem voltar ao circuito normal do dinheiro sem histórico e sem rasto.

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Um relatório recente da Chainalysis, especialista em blockchain, debruçou-se sobre este tema e concluiu que os principais destinos de criptoativos de fontes ilícitas são os Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e Ucrânia. A Rússia destaca-se pela quantidade de fundos oriundos de negócios na Dark Web. A China continua a ser o país onde vão parar mais fundos obtidos a partir de esquemas de extorsão e roubo de dados.

O documento indicava também que “o principal objetivo dos criminosos que aceitam pagamentos de bens ilícitos com criptomoedas é esconder a fonte desses fundos e convertê-los, o mais rapidamente possível, em dinheiro que possam gastar ou depositar num banco”.

Em declarações ao jornal espanhol Cinco Dias, que também cita o estudo, Maxim Kon, consultor da polícia suíça e fundador da empresa de segurança Cheksy, destaca também os NFT, como outra forma emergente de lavar dinheiro recorrendo a criptomoedas. O valor subjetivo da arte é o argumento perfeito para fazer grandes transações em dinheiro virtual, que pode juntar qualquer tipo de interveniente.

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“Quanto vale uma Mona Lisa? O valor da arte é subjetivo e com os NFT nem sequer podemos atribuir-lhes um valor físico, nada pode determinar o preço correto”, destaca o responsável. “Neste sentido, os criminosos podem utilizá-los para transações enormes. Numa casa de leilões não pode sentar-se na audiência e comprar a sua própria obra, mas isto está a acontecer com os NFT”, alerta.

As finanças descentralizadas escapam ao controlo do sistema financeiro convencional e dos reguladores e são estas zonas cinzentas que começam a ser cada vez mais aproveitadas pelos criminosos, usando várias estratégias. Cada pessoa tem aqui o “controlo total dos seus ativos, não tem de fornecer dados que a identifique, nem ter os seus registos concentrados numa única entidade” nota Ian Lee, cofundador da plataforma de deteção de riscos das criptomoedas para os mercados financeiros Merkle Science, ao diário.

O caminho escolhido para disseminar fundos, explica o mesmo responsável, é usarem moedas digitais privadas, como a Monero, e usar programas que facilitam a distribuição destes ativos por diferentes plataformas. Usam-se ainda outros esquemas, refere a mesma fonte, como páginas de apostas ou serviços que oferecem a possibilidade de misturar os ativos de diferentes donos para dificultar ainda mais seguir o rasto do dinheiro.