Portugal está muito bem colocado nos indicadores de serviços electrónicos disponibilizados pela Administração Pública mas tem ainda muitos passos a dar na inclusão da maioria da população na Sociedade da Informação, defendeu José Dias Coelho, presidente da APDSI, numa conferência promovida pela associação esta manhã em Lisboa.

"Esta é uma temática da maior importância para o pais, que tem uma barreira de e-inclusão a ultrapassar", reconhece José Dias Coelho. "O fosso digital é o grande fosso de divisão do futuro, e não tratar a info-exclusão desde já pode ter consequências graves para a exclusão social nos próximos anos", defendeu o presidente da APDSI.

Os indicadores estatísticos mostram que o acesso à Internet está a estabilizar nos 36 por cento da população, o que deixa cerca de 70 por cento dos portugueses fora da Sociedade da Informação. "As taxas de utilização da Internet são muito elevadas, até acima da média europeia, entre a população que concluiu o ensino secundário o superior, mas muito baixas entre os que não atingiram esse nível de ensino, o que é um factor que nos impede de dar o salto para a Sociedade do Conhecimento", justificou José Dias Coelho.

Luis Vidigal, da direcção da APDSI e coordenador da conferência de hoje, lembra que Portugal já foi reconhecido internacionalmente pelo seu empenho na e-inclusão e que tem no histórico iniciativas meritórias para garantir o acesso sem barreiras, como a criação do Infocid e o serviço de certidões electrónicas mas que depois se deu uma paragem nesse esforço. "Quando todos acreditaram que a Internet veio resolver todos os problemas de generalização do acesso temos que enfrentar a exclusão", salienta.

Os desafios colocados pela e-inclusão, e a necessidade das TI não criarem novas formas de exclusão social, centraram o debate que contou com a participação da directora da Unidade da Inclusão na Direcção Geral do Emprego da Comissão Europeia e com a coordenadora do Plano Nacional para a Inclusão, PNAI, assim como do Alto Comissário para a Imigração e Minorias Éticas, também coordenador nacional do Programa Escolhas, que alinharam a gestão das políticas de inclusão social com o combate à info-exclusão, ou digital divide, como é referido a nível internacional.

Níveis de prioridade diferentes

Todos os participantes do debate reconhecem a importância da qualificação da população como factor de combate à exclusão social, mas o mesmo reconhecimento não existe já em relação à utilização das Tecnologias da Informação. Embora estas sejam vistas como factor que fomenta a inclusão social, nomeadamente no Programa Escolhas que tem um segmento de intervenção específica para as TIC, com o Cid@net, os profissionais de acção social não olham para esta área como prioritária.

Essa visão foi transmitida pela coordenadora do Plano Nacional para a Inclusão, Fernanda Rodrigues, que apesar de ter no PNAI uma área específica para a e-inclusão confessa não ser essa uma prioridade no trabalho do Plano. "Quanto ao facto da info-exclusão ser a forma mais severa de exclusão no futuro, penso que é uma afirmação que está longe de ser apropriada", admite Fernanda Rodrigues, lembrando que na área da exclusão os planos são muitas vezes obrigados a gerir a urgência do presente o que limita a capacidade de antecipar o futuro.

Maria Vânia Nunes, do Fórum Não Governamental para a Inclusão Social (FNGIS) coloca a questão num plano ainda mais prático. "Há níveis de problematização. Vamos pensar em colocar computadores em casa quando as pessoas não têm o que comer?", alerta.

Esta colaboradora da Cruz Vermelha Portuguesa, agora destacada no FNGIS, admite mesmo que a e-inclusão não está na agenda das Organizações não Governamentais que trabalham no terreno o problema da Inclusão Social, tendo realizado um inquérito junto das 56 organizações que compõem o fórum para perceber qual a importância dada ao tema.

Entre as respostas, que foram apenas de três dezenas, 26 por cento mostrou-se sensibilizado para a questão, enquanto 19 por cento responderam estar muito sensibilizados, mas só 21 por cento admitiu que a e-inclusão é determinante para a inclusão social. Do inquérito percebe-se ainda que apesar da maioria dos inquiridos conhecer as medidas nesta área (54%) e mais de 44 por cento já ter trabalhado directa ou indirectamente com essas medidas, 97 por cento ainda sente necessidade de mais informação sobre as mesmas.



Face a estas perspectivas Luis Vidigal admite que há ainda uma grande separação entre o mundo tecnológico e o plano social e que é necessário juntar os dois planos. "Há um problema de prioridades com aspectos muito importantes mas há uma oportunidade enorme de Portugal desenvolver um trabalho nas tecnologias para a inclusão, que têm de ser reinventadas", admite o membro da direcção da APDSI.

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