O Dia da Internet Segura tem este ano um foco especial nos relacionamentos online, mas isso não é por acaso. Os dados de contactos para a Linha Internet Segura em 2020 mostram um aumento das questões ligadas aos relacionamentos online, e um aumento de casos de sextortion bem como o aumento muito significativo do crime de ameaça que entre outras práticas envolve a ameaça de divulgação de imagens íntimas.

“O confinamento e o aumento do tempo de utilização da Internet e das redes sociais medidas pelos jovens proporcionam uma forma de se conectarem com amigos e familiares segura em termos de infeção e, portanto, pode ser um meio de apoio social. Contudo, existe evidência científica anterior à pandemia que estabelece uma relação entre o uso excessivo das redes sociais por adolescentes e um menor bem-estar psicológico, como depressão, comportamentos de risco e distúrbios da imagem corporal.”, explica Sofia Rasgado, coordenadora do Centro Internet Segura, ao SAPO TEK.

O tema foi discutido hoje numa conferência que decorreu online e onde se debateram os riscos e as oportunidades de aprender a prevenir comportamentos que podem promover relações pouco saudáveis, apontando caminhos para quando as situações fogem ao controle dos jovens.

Um estudo recente da Youth Partnership – Partnership between the European Commission and the Council of Europe in the field of youth identificou três formas como a pandemia de COVID-19 pode afetar a saúde mental dos jovens. A alteração das rotinas diárias e a incerteza sobre o presente e o future é uma fonte de stress para jovens e adultos, sendo a pandemia também classificada como um fator multi-sistémico com efeitos a longo prazo, em que as interações sociais forma interrompidas e minimizadas, resultando no aumento da solidão. Ao mesmo tempo indica-se a interrupção de vários fatores de proteção para a saúde mental,  com os jovens privados de interações sociais de apoio com membros da família, parentes, amigos ou outros membros da comunidade que possuem uma função estabilizadora.

Sofia Rasgado defende que algumas questões não se limitam aos jovens e são intergeracionais, mas no caso dos mais novos há aspectos que devem ser reforçados, nomeadamente na cibersegurança. Inclui aqui o cyburbullying e relacionamentos online.

Os contactos com a Linha Internet Segura, agora gerida pela APAV, cresceram significativamente em 2020, o que é em grande parte explicado pela pandemia que estamos a viver, com a maioria da população portuguesa a passar muito mais tempo online, em teletrabalho ou telescola, para lazer ou mesmo para fazer compras.

Entre os casos que chegam a esta linha de apoio há situações de crime associadas às injúrias e difamação online, bem como as ameaças – do tipo de ameaças a destacar é sobretudo a de divulgação de imagens e vídeos íntimos, em troca do envio de mais imagens. O Centro Nacional de Cibersegurança aponta ainda que há a destacar, pela negativa, a manutenção do número de casos denunciados à Linha de conteúdos de abuso sexual de menores online (544) e de discurso de ódio sobretudo disseminado através das redes sociais (216).

Segundo o CNCS, apesar de não ser um número tão expressivo como os anteriores, foram também denunciados conteúdos de abusos sexual de menores online, 5 dos quais estavam alojados em Portugal, ou a sua divulgação estava a ser facilitada por serviços de alojamento contratados a empresas portuguesas. Estas situações foram prontamente encaminhadas para a Polícia Judiciária, com a qual a APAV| Linha Internet Segura tem um protocolo de cooperação que permite o encaminhamento de uma forma mais célere deste tipo de situações.

Adultos mais atentos ou mais permissivos?

Sem muitas alternativas para brincar ou divertir-se fora de casa, os telemóveis e computadores são cada vez mais um recurso de entretenimento e pode haver uma “tentação” para relaxar as regras de tempo de utilização dos equipamentos.

“É importante reforçarmos que tentar manter o equilíbrio saudável na utilização dos dispositivos móveis seja para trabalhar, estudar, comunicar ou lazer é uma tarefa desafiante neste momento de pandemia e confinamento que vivemos”, admite Sofia Rasgado, lembrando que vários estudos mostram que em teletrabalho se trabalham mais horas e estamos mais tempo em frente ao ecrã. “As crianças e jovens direcionam a sua atenção e tempo para os ecrãs para acederem às aulas, brincadeiras, jogos e conversas com familiares e amigos”, afirma, apontando que “as alterações das rotinas, o enfraquecimento das relações e afetos podem levar a uma utilização excessiva da tecnologia, fenómeno fácil e silencioso.

O Centro Internet Segura desenvolveu em parceria com a Professora Ivone Patrão o “Guia: Dependências Online Orientações para a gestão saudável dos comportamentos online”, que tem como objetivo central abordar as questões mais frequentes sobre o impacto do comportamento e das dependências online na saúde em geral e que está disponível para download gratuito.

Na área dos relacionamentos online o CNCS deixa algumas recomendações para pais e educadores, alertando que quando as coisas correm mal têm de estar atentos a alguns sinais.

Mudanças repentinas nos comportamentos das crianças e jovens geralmente são um sinal de que algo está errado. Em alguns casos, pode estar associado ao uso de tecnologia. Os pais e educadores devem prestar atenção e estar atentos especialmente a:

  • Mudanças de atitude no uso da tecnologia - as crianças e jovens podem começar a passar mais tempo na Internet (https://www.esafety.gov.au/parents/big-issues/time-online) ou, pelo contrário, podem evitar o uso das redes sociais e outros espaços online. Podem também mudar os seus hábitos e estarem online em tempo que normalmente utilizariam para fazer outras atividades.
  • Necessidade repentina de privacidade para utilizar os dispositivos - frequentemente, podem mudar de divisão da casa quando recebem uma mensagem ou chamada, ficam nervosos ao verificar o dispositivo ou ficam ansiosos ou violentos quando alguém tenta olhar para o seu telemóvel.
  • Distúrbios comportamentais ou do sono - a angústia ou o medo causado pela situação de abuso pode levar à redução do sono ou mesmo a pesadelos.
  • Baixo desempenho escolar – o cansaço e o stress causado pelas situações que estão a viver pode causar falta de concentração e falta de atenção na escola. Os pais e educadores podem estar atentos e notar que as notas estão a baixar, que há mais erros nas atividades e trabalhos escolares ou que existe uma participação reduzida nas aulas.
  • Isolamento social ou mudanças nos hábitos sociais – devem estar atentos se as crianças e jovens perdem contato com os amigos ou mudam repentinamente o seu círculo de amizades e modelos de comportamento.
  • Estados emocionais tristes ou mesmo choro sem razão aparente - A gravidade do problema pode causar sentimentos de culpa e vergonha, que reduzem a autoestima das crianças e jovens e provocam outras mudanças de comportamento.

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