Os ataques lançados pelo grupo radical Hamas desde o fim de semana e a resposta de Israel na faixa de Gaza deram uma escala sem precedentes ao conflito que dura há décadas na região. No ciberespaço, o conflito também tem vindo a ganhar dimensão, com um número crescente de grupos de hacktivistas a intervir para defender interesses de um dos lados do conflito, prejudicando o outro.
Logo no fim-de-semana foram noticiadas tentativas de ataques informáticos a alvos estratégicos de Israel e da Autoridade Palestiniana, por grupos que, alegadamente, atuam na defesa de causas políticas e sociais. Os dados disponíveis são tão definitivos como o conhecimento sobre as reais ações e motivações destes grupos, mas a CyberKnow diz que são já, pelo menos, 58 (10 pró-Israel). Por enquanto, o apoio destes ciberexércitos ao lado palestiniano do conflito parece maior, mas a expectativa dos especialistas é que mais grupos pró-Israel se juntem à campanha.
À Reuters, que também cita especialistas, foi ainda indicado que, na sequência destes ataques, mais de uma centena de sites em Israel foram descaracterizados ou deixaram de funcionar durante algum tempo nos últimos dias, provocando o caos no acesso a serviços online e informação importante.
Embora as ameaças de ataques a infraestruturas críticas tenham sido já feitas por mais do que um grupo, a maior parte dos resultados visíveis do “trabalho” destes hacktivistas, até à data, são ações que têm como objetivo precisamente aumentar a confusão e diminuir o acesso à informação. Aparentemente, a maioria são ataques de negação de serviço (DDoS), uma técnica consiste em sobrecarregar os sites com pedidos de acesso simultâneos, até que os servidores de suporte deixem de ter condições para responder.
O Jerusalem Post foi alvo de vários ataques deste tipo desde o fim-de-semana e, em consequência disso, o site tem estado inacessível por longos períodos. Este é o maior jornal de Israel em inglês e terá sido atacado pelo conhecido AnonymousSudan, um grupo com ligações aos russos do Killnet.
O Killnet também já assumiu uma posição clara sobre o conflito, com esta declaração no Telegram: "O Governo de Israel é o responsável por este derramamento de sangue [...] todos os sistemas do governo israelita estarão sujeitos aos nossos ataques!"
E porquê? também explicam: "Em 2022, apoiaram o regime terrorista da Ucrânia. Traíram a Rússia”.
Outro grupo ligado à causa palestiniana e defensor do Hamas, o AnonGhost, reclamou o ataque à aplicação que faz os avisos de emergência à população quando são detetados mísseis a caminho. Além de suspender temporariamente o envio destes alertas à população, o ataque ainda permitiu lançar um aviso falso à população israelita de lançamento de uma bomba atómica, relatou o grupo de investigadores Group-IB.
Os Ghosts of Palestine, também alinhados com o lado palestiniano do conflito, anunciaram igualmente na segunda-feira, na sua conta do Telegram, que tinham lançado ataques contra os sites do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel e do principal aeroporto do país, mas nenhum dos dois deixou de funcionar, pelo que ainda não está confirmada a veracidade da informação.
Recorde-se que o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia também ficou marcada por vários episódios deste género. Na altura foi ativamente promovida a criação de um ciberexército de voluntários de todo o mundo para ajudar a Ucrânia a proteger os seus ciberativos. Ao longo de todo o conflito têm surgido várias notícias que mostram que no mundo digital o conflito continua ativo e também alimentado por diferentes interlocutores. Numa fase inicial, os eventos que chegaram a público estavam também mais focados na interrupção de serviços, hoje parecem estar mais vocacionados para ações silenciosas de ciberespionagem.
Entretanto, no Médio Oriente, a Recorded Future, uma empresa de cibersegurança, garante à Reuters que "há dezenas de vítimas por dia, de ataques reivindicados tanto por grupos (hacktivistas) pré-estabelecidos como por novos grupos".
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