O Twitch é casa de muitas comunidades, incluindo da LGBTQIA2+, que se tem vindo a afirmar na plataforma de streaming um pouco por todo o mundo. Portugal não é uma exceção à regra e, ainda em janeiro, Eevoh, streamer e artista drag português, tornou-se num dos embaixadores da plataforma.

Ao SAPO TEK, Eevoh conta que, apesar de se considerar desde cedo como alguém muito criativo, também se sentia como “uma pessoa meio perdida no tempo e no espaço”. Mas quando descobriu que era possível viver dos videojogos de forma mais profissional, dentro do mundo do streaming, isso despertou em si toda uma nova faceta que não existia antes.

“Eu comecei a ver o streaming como um meio de canalizar todas as minhas energias, toda a arte em mim. De humor a entretenimento à minha paixão por videojogos e agora o drag…foi uma salvação para mim”, explica.

“Para uma pessoa que nunca soube muito bem o que estava a fazer no mundo eu encontrei um sítio onde finalmente conseguia colocar tudo aquilo em que era bom para meu proveito e do público”, relembra.

Eevoh apaixonou-se por videojogos ainda em criança, por influência do irmão mais velho, e recorda com especial carinho as consolas da época, da NES e Mega Drive à Sega Saturn e PlayStation, sem esquecer os jogos que marcaram a sua juventude, incluindo Super Mario, Sonic e Final Fantasy.

Muito mais tarde, motivado pela combinação entre o seu fascínio pelos videojogos e pelas possibilidades que o streaming traria, abriu uma conta no Twitch, onde só jogava League of Legends, fazendo transmissões a partir do seu portátil. “Só que eu tive de parar, porque streaming é uma atividade que puxa muito pelo PC e eu não podia perder aquele portátil”, conta.

Depois de conseguir comprar um PC de gaming, centrou as suas atenções em Overwatch. No início de cada jogo, usava a funcionalidade de voice chat para anunciar a sua chegada num tom mais cómico e encarnando uma personagem inspirada pela Beyoncé, algo que chamava a atenção dos outros jogadores e que os divertia.

“Houve alguém que me disse que devia fazer stream e que até já pensava que era mesmo streamer. Pensei que estava aqui uma oportunidade para realmente começar a focar-me em algo pelo qual era apaixonado e que tinha deixado um pouco de lado”, afirma.

De Beyoncé Plays a Eevoh e a evolução no Twitch

Abriu então uma nova conta, inspirada na personagem que tinha criado, naquilo que descreve como uma espécie de paródia mais “low budget” da bem conhecida diva da música. Eevoh ainda não se sentia muito ligado à arte do drag, porém, através das personagens que interpretava durante os streams começou a entrar neste mundo “sem ter bem noção” de que já o estava a explorar.

A sua primeira personagem inspirada na Beyoncé acabou por dar lugar à persona que interpreta atualmente, com uma maior ênfase no aspeto da transformação visual. Depois de dois anos iniciais a familiarizar-se com o Twitch, numa aventura marcada pela experimentação, começou também a embrenhar-se pela cultura drag e a conhecer mais artistas que eram streamers no Twitch.

Embora no início tudo fosse um pouco mais difícil, porque tinha trabalho, tanto em part-time ou a full-time, e nem sempre havia tanto tempo para se dedicar às transmissões ou para criar e ter novas ideias, Eevoh conta que sempre esteve num processo de evolução desde 2017, o que também acaba por se refletir no seu número de seguidores que, a par e passo, se vai encaminhando rumo aos 20 mil.

#ILikeYouLike: Como combinar videojogos, streaming e a arte do drag? As aventuras de Eevoh no Twitch
créditos: Eevoh (via Twitch)

Do lado da sua comunidade de seguidores, o streamer detalha que há uma grande ligação e que são muitas as pessoas que, ao começarem a ver o seu canal, sentem que o conhecem há já imenso tempo.

“Eu gosto muito de cultivar esta comunidade como se fosse  uma família ou como um grupo de amigos onde todos se conhecem e todos sabem lidar uns com os outros. Todas as conquistas, as pequenas coisas que eu consigo atingir, não é só por mim, a minha comunidade está a apoiar-me. Todas as vitórias são em conjunto”.

Porém, entre os momentos positivos, há situações que refletem o lado mais tóxico do streaming e que ainda são uma realidade para múltiplos streamers LGBTQIA2+.

“Apanhamos muita homofobia e imensa transfobia. Eu sou um homem gay cisgénero, ou seja, não me identifico como não-binário ou trans, mas como me apresento de uma forma mais feminina existem muitas pessoas transfóbicas que vêm ao meu canal chamar-me de tudo e mais alguma coisa”.

“No fim do dia eu fico a pensar que aquelas pessoas poderiam ser um de nós, poderiam estar aqui na comunidade a divertir-se, mas escolheram esse caminho e é triste”. É verdade que alguns comentários magoam, mas para Eevoh o foco está mesmo naquilo que faz e nas pessoas a quem pode trazer mais felicidade. “Eu apresento-me da forma que me quiser apresentar e nunca vou dar parte fraca a esses comentários e a essas pessoas”, enfatiza.

Abrir a porta ao Arco-Íris no streaming em Portugal

Da evolução da sua drag persona a ganhar um espaço de destaque na página inicial do Twitch durante o mês do orgulho LGBTQIA2+ em 2019, sem esquecer quando se tornou parceiro da plataforma e ainda Fog Whisperer do jogo Dead by Daylight, são vários os momentos que marcaram a sua carreira enquanto streamer.

Ainda no final do ano passado, abriu a porta a mais um projeto importante, a Team Íris, a primeira equipa de streamers LGBTQIA2+ portuguesa no Twitch, que fundou com Miss Cookie Doe e Marge Mellow, também artistas drag e streamers na plataforma.

Tudo começou após ter sido convidado por um amigo da esfera do Twitch para participar num painel de uma conferência em Aveiro. Em busca de outros streamers LGBTQIA2+ apercebeu-se que havia uma necessidade de criar algo em Portugal à semelhança da Rainbow Arcade, a primeira equipa no Twitch completamente dedicada a criadores desta comunidade e da qual também faz parte.

“Ao longo destes anos fui aprendendo imenso sobre a cultura LGBTQIA2+, sobre minorias, sobre o impacto que nós temos nas nossas plataformas, sendo pequenas ou grandes, e como é que podemos influenciar da melhor forma as nossas comunidades. Sendo um dos poucos streamers desta comunidade que são parceiros do Twitch senti-me na responsabilidade de iniciar alguma coisa que a fosse beneficiar em Portugal especificamente”, afirma.

Para o criador, a decisão de criar a Team Íris requereu alguma coragem, porque há muito que sentia que não seria bem recebido em Portugal, dado aos contornos mais tóxicos que a comunidade gamer ainda assume, espelhando o que acontece em outras partes do mundo.

“Decidimos ir em frente com a Team Íris para mostrar a Portugal que estamos aqui, fazemos parte do mundo do gaming e do streaming e também para inspirar outras pessoas LGBTQIA2+ que querem começar, mas não sabem se há um espaço para elas. Nós estamos cá para provar que sim”.

Olhando para o futuro, Eevoh afirma que quer levar as coisas com calma. “Eu sou uma pessoa que, desde novo, fui quase obrigado a viver um dia de cada vez. A minha vida era muito incerta quando era mais novo e isso marcou-me de uma forma muito mais vincada do que às vezes quero admitir”, conta.

Mesmo assim, o criador espera fazer stream “até estar de bengala”, continuando a dedicar-se à arte do drag e a empenhar-se naquilo que sente que faz melhor. “Até agora, as melhores coisas da minha vida vieram até mim através do mundo dos jogos e do streaming. Quem sabe o que vem a seguir? Estou aberto a novos projetos, não só no Twitch. Sinto-me contente pelo meu progresso e pelo meu trajeto e acho que vêm aí coisas fenomenais para o futuro”.

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