Paddy Cosgrave não pára de elogiar o Mingle, a funcionalidade da plataforma do Web Summit que permite a qualquer participante começar uma conversa "às cegas" com qualquer outra pessoa disponível. Parece uma "roleta russa" de encontros, ou os speed datings que estiveram bastante na moda nos últimos anos para fomentar o empreendedorismo, mas na verdade, por detrás da aparente incerteza de quem se vai encontrar há um algoritmo que faz a conjugação de interesses. E isso faz toda a diferença.
Sentados à frente dos computadores para assistir às talks e conferências de mais de mil oradores, em cinco palcos diferente, os participantes do Web Summit têm recorrido a esta ferramenta para minglar. O CEO do Web Summit não partilhou números na conferência de imprensa, mas já divulgou num tweet que há alguém que já fez quase 200 "Mingles".
São no total mais de 13horas de videoconferências com desconhecidos. Alguém consegue bater este recorde?
A equipa do SAPO TEK também decidiu "minglar" e este networking teve resultados interessantes, encontrando pessoas de diferentes partes do mundo, repetentes e estreantes no Web Summit, que gostavam mais de estar ao vivo em Lisboa mas que não se importam de contar as suas histórias. Afinal, os 3 minutos servem para isso.
É quase viciante utilizar o Mingle. Aliás, é uma sequência automática de ligações que são feitas e passam rapidamente de uma conversa para outra. Talvez rápido de mais, porque não há grande tempo para "estudar" a pessoa com quem se vai conversar e os temas para quebrar o gelo acabam por consumir muito dos 3 minutos definidos.
A forma de funcionamento da ferramenta, que estávamos a testar, acabou por ser descodificada por Mike Sexton, CMTO do Web Summit, com que "minglámos" em modo aleatório. Responsável pelo desenvolvimento da parte técnica, Mike confessa que tem reservado algum espaço para conversar com os participantes para perceber o que acham da plataforma, e que isso é uma boa forma de fazer benchmarking.
Pelo meio explicou que a ferramenta olha para as conferências em que as pessoas se inscreveram, os temas de interesse e as experiências anteriores para decidir com quem "ligar" e a referenciação é importante para futuros "Mingle".
Repetições, tempo demasiado curto e benchmarking do Web Summit
O tempo é curto ou longo consoante o interesse das conversas. Isso acontece no mundo real e também no "Mingle", mas quase todos os meus interlocutores acabaram por confessar que passa demasiado depressa, e que era bom haver um botão para se poder prolongar a conversa se fosse necessário. É que várias das seis conversas que fiz hoje acabaram um pouco abruptamente. Há sempre hipótese depois de procurar a pessoa na aplicação, pedir ligação e enviar uma mensagem, mas isso também podia estar logo disponível no ecrã de Mingle. Tornava tudo mais fácil.
Entre as várias Mingles encontrei empreendedores de São Francisco, curiosamente dois, e um de Melbourne. George Heldon confessou que já tinha feito alguns mingles e que o primeiro foi com Paddy Cosgrave, com quem gostava de ter tido mais tempo para conversar neste tipo de "black dates".
Phil Libin entrou na ferramenta para ajudar um amigo que estava com problemas técnicos e acabou por ficar, mas foi um dos que deu mais elogios à plataforma, que acredita que é uma boa forma de substituir os encontros ocasionais de networking nas conferências físicas. E espera poder voltar a Lisboa para comer pastéis de nata. Aproveitou para recomendar a startup de uma amiga que está em Lisboa.
Para Neal Strickberger os Mingles estão a servir para promover ao fundo de investimento que gere, mas nota que há uma grande diversidade de pessoas neste modelo de speed dating, e que nem todos são interessantes para o seu objetivo.
Curiosamente, uma das pessoas com quem fiz Mingle tinha acabado de conversar com outra jornalista da equipa do SAPO TEK. O mundo virtual também é uma "casquinha de noz".
Uma fuga da "seca" das videoconferências
“É o que todos dizem, e até já decorei as primeiras frases dos encontros que fiz aqui no Mingle”, disse-nos Arilda Lleshi, uma empresária que está no Web Summit à procura de oportunidades para a sua linha de roupa artesanal na Albânia, depois de dizermos que estávamos a testar pela primeira vez a funcionalidade de encontros.
A empresária confessou que estava a achar as conferências “uma seca”, depois de ter passado o primeiro dia a assistir, mas neste segundo experimentou a funcionalidade de encontros e não a largou mais. Teve alguns contactos interessantes, mas considerando que tratar-se de um evento tecnológico, o vestuário não era o mais importante para as pessoas que encontrou.
O cenário de fundo nos encontros são sempre excelentes formas de quebrar o gelo nos primeiros segundos constrangedores. E no caso do italiano Matteo Lombardi, as prateleiras com jogos e o SAPO do Rui Parreira quase dominam os três minutos de limite da conversa. O fundador da startup Stratega veio ao Web Summit para mostrar a sua plataforma de marketing digital.
Erros técnicos e apostas fortes
Depois de duas tentativas sem sucesso, uma em que parecia que a câmara e o microfone da pessoa do outro lado estavam desligados e outra que durou pouco mais de cinco segundos, à terceira foi de vez. Conversei com três participantes do Web Summit e todos eles ligaram as câmaras e confessaram que o Mingle tem sido uma aposta muito forte nesta edição.
Manuel Sousa, da portuguesa Kiss My Score, mostrou-se bastante satisfeito com a experiência de Mingle. Já Luigi Spina, business consultant italiano, garantiu que é uma pessoa de "contacto" e, por isso, não tem sido fã da experiência online. Yajur Sondhi, marketing and product lead na Nyoka Design, tem uma opinião positiva sobre o evento e preconizou um momento divertido durante a conversa: quando soube que íamos fazer um printscreen, em poucos segundos, e aqui com a câmara tapada, trocou de roupa. Uma camisa foi a opção escolhida.
Toque mais humano e a experiência "avassaladora"
Depois de algumas tentativas, encontrei Austin Che, fundador da Gingo Bioworks, que está a participar no Web Summit pela primeira vez. Austin sempre ouviu dizer que a versão presencial da conferência costuma ser uma experiência um pouco “avassaladora”, dado a sua dimensão, mas a versão online é muito mais fácil de gerir, contou ao SAPO TEK.
Já Ariel Garten é fundadora da InteraXon, uma empresa que desenvolveu a Muse, uma headband que ajuda os utilizadores a meditar e a dormir melhor. “É um gadget monitoriza as ondas cerebrais durante a meditação e que permite saber se a estamos a fazer corretamente e se a nossa mente não anda a «vaguear», explicou.
Para a responsável, que já participou em várias edições do Web Summit e do Collision, os Mingles são uma ótima forma de dar um toque mais “humano” e de assegurar as interações entre participantes. Através do Mingle, Ariel conseguiu falar com alguns participantes com quem queria mesmo contactar. De todas as conversas, pelo menos 50% foram mesmo “valiosas” a nível de networking. “É sempre muito giro entrar no «mundo» de outra pessoa”.
Esta foi a nossa experiência no Mingle geral. Para os oradores também há um modo de Mingle, que recria o Speakers Lounge que normalmente está aberto no Web Summit, com acesso reservado e numa área "premium", entre a sala de imprensa e a recepção VIP da conferência. O funcionamento é o mesmo mas a audiência é mais selecionada.
Também andou pelos "Mingles" do Web Summit? Quer partilhar a sua experiência?
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