As plataformas digitais têm ajudado a dar mais voz a quem vive em conflitos, como no caso daquele que se passa atualmente entre Israel e Hamas na Palestina. No entanto, a desinformação continua a minar os esforços para a discussão de assuntos fulcrais, Robert Opp, Chief Digital Officer do UNDP, durante a sessão Human rights in the digital age, no Web Summit 2023.
Em linha com Robert Opp, DeRay McKeeson defende que as redes sociais deram a ativistas como ele a oportunidade de se expressarem, se bem que, há quase 10 anos, a ideia de alguém partilhar informação falsa sobre assuntos tão sensíveis para se tornar viral seria algo quase impensável.
É certo que a desinformação existe há muito mais tempo do que as plataformas digitais, mas esta "nova" versão do fenómeno prolifera nas redes sociais de forma instantânea e com alcance global, trazendo ainda mais desafios, realça Robert Opp. A própria luta contra a desinformação é marcada por uma variedade de abordagens entre Governos, organizações como a ONU e empresas tecnológicas.
Nos últimos 10 anos, as redes sociais mudaram imenso, e, para lá das oportunidades que existem para debater e aprender, a falta de moderação adequada continua a minar essas mesmas discussões, defende DeRay McKeeson, apontando para o TikTok como uma das plataformas que mais “peca” neste aspecto.
Na visão de Robert Opp, quando se reduz o conteúdo de tal forma a caber num vídeo tão curto, perde-se o espaço para compreender diferentes pontos de vista. É neste contexto onde o reforço das competências de literacia digital se tornam fundamentais, caso contrário, o panorama online pode tornar-se ainda mais polarizado.
É possível recuperar a confiança nas Big Tech?
Das plataformas digitais passamos a confiança “quebrada” pelas práticas das gigantes tecnológicas em relação a direitos fundamentais, numa sessão que reuniu Meredith Whittaker, presidente da Signal, e Veena Dubal, professora de direito na Irvine School of Law da Universidade da Califórnia.
Na visão de Meredith Whittaker, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) foi a primeira vez em que muitas destas grandes empresas tecnológicas se viram forçadas a implementar infraestruturas centradas nos dados que recolhem, processam e criam.
O regulamento veio provar que, independentemente do local, se for um mercado suficientemente grande, é possível ter um grande impacto na forma como as gigantes tecnológicas se comportam. Mas, para a presidente da Signal, esta não se trata de uma questão de colocar os Estados Unidos e a União Europeia frente a frente como rivais no que respeita à regulação das tecnologias.
Veja na galeria imagens do Web Summit 2023
Em linha com a presidente da Signal, Veena Dubal, acredita que, para lá da proteção de dados, os Estados Unidos têm muito a aprender na regulação do trabalho, sobretudo no que respeita às práticas das tecnológicas, onde a Europa “está anos-luz à frente”. É certo que os lobbys têm influência na Europa, mas é nos Estados Unidos onde o seu efeito mais se faz sentir, afirma.
Para os funcionários das Big Tech, contrariar o peso de gigantes quando os seus direitos não são respeitados é uma tarefa quase hercúlea. Os movimentos de trabalhadores também podem fazer “mossa” e conseguir trazer alguma mudança para este panorama onde o “motor da indústria da tecnologia continua a ser o lucro e o crescimento a todo o custo”, afirma Meredith Whittaker.
No entanto, como defende Veena Dubal, estes movimentos que apelam a uma maior justiça social são também aproveitados pelas Big Tech, não para apoiar estas causas, mas para alimentar uma ilusão de que se preocupam quando, na verdade, estão simultaneamente a minar estes esforços.
O ativismo local e estatal tem desempenhado um papel relevante e que pode fazer avançar a mudança nos regulamentos que guiam a tecnologia nos Estados Unidos, afirma Veena Dubal.
Haverá forma de as big tech recuperarem a confiança? Ambas as oradoras concordam que seria necessária uma mudança estrutural na forma como as gigantes tecnológicas operam, quiçá só mesmo por "artes mágicas"...
O SAPO TEK mudou a redação para o Web Summit e até 16 de novembro está a acompanhar tudo o que se passa na conferência e e nos eventos paralelos que sempre decorrem em Lisboa a par da conferência. A agenda é longa e há muito para descobrir dentro e fora dos palcos.
Pode acompanhar tudo no nosso especial do Web Summit 2023 e também ver a transmissão em direto do palco principal com o SAPO.
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