Longe vai o tempo em que apanhar uma boleia era sinónimo de um dedo esticado à beira da estrada, à mercê da sorte e da boa vontade dos condutores que iam passando. E apesar de ainda existir quem prefira este método “old school”, são cada vez mais as boleias conseguidas com a ajuda das novas tecnologias.

O sistema de partilha de carros modernizou-se, aliando uma perceção dos automobilistas em relação ao futuro do automóvel em que este é cada vez menos um objeto de posse e mais de partilha a uma crescente preocupação com a sustentabilidade ambiental.

Um estudo do Observador Cetelem Automóvel 2018 revelou que três em cada quatro europeus elegem o carpool (boleia) e o carsharing (partilha do carro) como uma realidade num horizonte temporal de uma década, imaginando um futuro em que o automóvel passará a ser também um serviço. Já segundo dados da plataforma Car2go, lançada pela Mercedes, um carro partilhado é até seis vezes mais utilizado do que um automóvel privado.

É nesse sentido que as plataformas de carsharing como a DriveNow,  de carpooling como a Boleia.net e páginas de boleias combinadas no Facebook têm conquistado um número cada vez maior de adeptos que os vêem como uma solução para os problemas de trânsito, de falta de espaço nas cidades, para a poluição e, também, como uma forma de poupar dinheiro. E há vantagens e desvantagens em cada uma delas.

A redução de custos foi a razão que levou Carolina Vaz-Pires a experimentar este modelo. A portuguesa de 26 anos, em Bruxelas desde 2017, experimentou a plataforma de boleias Bla Bla Car numa viagem de ida e volta a Paris.

“Quando fiz Erasmus, um amigo meu francês comentou comigo que ele e os amigos utilizavam muito a app para se deslocarem e, como eu tinha um evento na cidade francesa de Nancy, decidi experimentar para ir e vir de Paris” explica em entrevista ao SAPO TEK. A opção foi feita por curiosidade, mas “também porque à partida iria poupar algum dinheiro”.

O fator poupança é também apontado por Ricardo Botelho como aquele que desencadeou as suas aventuras no mundo das boleias, mas "a grande possibilidade de trajetos e de horários" também são apontados pelo português como pontos a favor destas alternativas ao uso de carro próprio.

Embora a segurança seja referida como um dos motivos que leva os portugueses a aderir com entusiasmo ao sistemas de partilha de carros e motas, como a Citydrive, a 24/7 City e a eCooltra ou ao serviço Via Verde Boleias, também há espaço para sustos, como explicou ao SAPO TEK o o gestor Fábio Vasques, assíduo utilizador do Bla Bla Car e de grupos de boleias do Facebook.

“Estava no Lago Como em Itália e queria ir para Nice. Esperei pela minha boleia durante duas horas e pensei mesmo que o condutor não ia aparecer e já não tinha mais alternativas. Nestas alturas o coração bate mais forte e questionamo-nos sempre se estas plataformas valem mais a pena  do que os transportes tradicionais”. Mas esta experiência não o fez desistir.

Carolina Vaz-Pires não tem dúvidas que estas opções são melhores alternativas. Não só porque em plataformas como a uberPOOL “não há dinheiro físico envolvido, com os pagamentos online a salvaguardarem problemas com trocos e faturas”, mas porque são opções mais confortáveis e que, geralmente, vão diretas ao destino, sem as constantes paragens de transportes como os comboios e autocarros.

Para Fábio Vasques, independentemente do serviço escolhido, trata-se de algo mais do que partilhar despesas com amigos, conhecidos e mesmo desconhecidos.

“A partilha é muito mais do que dividir custos, muitas vezes é ajudar o próximo. É dar algo de nós e deixar que "entrem" no nosso espaço” desabafa, acrescentando  que "conhecer novas pessoas e partilhar experiências" também é muito importante.

“No meio de tantas boleias creio ter estado presente em algumas alturas importantes da vida das pessoas” e dá como exemplos os casos de quem “está há um ano a viajar pelo mundo, a quem vai fazer uma entrevista de emprego, a quem vai mudar de cidade por motivos profissionais ou a quem vai fazer uma surpresa a um familiar”.