Numa altura de grandes mudanças na União Europeia e esforços empenhados para fazer da região um farol para o rumo da regulação da inteligência artificial a nível mundial, manter viva a inovação é a outra grande preocupação da Europa, que não quer ficar atrás da China ou dos Estados Unidos nesta corrida mas, pelo menos para já, não segue em vantagem.
“O maior desafio da regulação é ser à prova de futuro”, defendeu Carme Artigas, num dos painéis do primeiro dia do 33º Congresso da APDC, que decorre esta terça e quarta-feira em Lisboa. A copresidente do Conselho Consultivo de Alto Nível da ONU para a Inteligência Artificial acredita que a Europa está no caminho certo e que regular a IA é imprescindível para promover a inovação, a segurança mas principalmente a confiança que hoje a tecnologia não acolhe.
A rápida mudança do mercado e a novidade de alguns dos desafios que estas tecnologias colocam dão escala à missão, que ainda assim deve ser aproveitada, por ser a primeira vez que a região está em condições de guiar o mundo num processo deste tipo.
Na saúde, na educação como no alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, a IA traz um mundo de oportunidades, sublinhou Carme Arigas, que não vão concretizar-se em pleno sem que sejam definidos limites. Limites que existem em qualquer outro mercado - deu o exemplo do automóvel e das regras de segurança aplicáveis aos veículos - e salvaguardas para questões como os direitos de copyright.
Siim Sikkut, antigo CIO do governo da Estónia e Managing Partner da rede Digital Nation concordou com a importância de um enquadramento legal, mas lembrando que inovação e regulação devem seguir alinhadas. É a testar soluções e tecnologias que se vai percebendo onde e como a regulação deve estar, considerou, afirmando que os governos não devem ter medo de experimentar e de criar use cases para perceber como podem tirar mais partido da tecnologia em cada cenário. Numa Europa que caminha para regras iguais continuará a haver espaço para a diferença, porque boa parte dela está na forma como cada país aborda (ou não) as ameaças e oportunidades da tecnologia.
A desinformação foi também aqui um tópico de debate, com Siim Sikkut a defender que o poder da IA não é só um perigo nesta área. É uma oportunidade e uma ferramenta para ajudar os governos a criarem e disseminarem mais e melhor informação.
“As ferramentas por si não vão tornar o mundo melhor. É a forma como as usamos que vai fazer a diferença”, frsiou Siim Sikkut.
Na Estónia, confessou o responsável, os grandes desafios encontrados pelo governo para começar a explorar o potencial da IA foram, logo à partida, a escassez de talento com competências nessas áreas, por serem novas. Num segundo momento, pesou a qualidade dos dados, essenciais para alimentar os modelos de IA e nem sempre afinados para que sejam gerados os melhores resultados.
A Europa segue longe da liderança da IA em volume de investimento aplicado, ou no número de empresas relevantes na transformação que o mercado está a viver, sublinhou-se. Eliminar as barreiras de uma economia regional fragmentada por regras diferentes em cada país é fundamental. Colocar o talento e a inovação europeia ao serviço das melhores oportunidades é igualmente importante, acrescentou o responsável da Estónia.
Como lembrou Giorgia Abeltino, Senior Director of Public Policy & Government Relations for South Europe da Google, no painel seguinte, a IA generativa pode dar um contributo de 1,3 biliões de dólares para a economia europeia em 2032. Para Portugal, o impacto previsto é de 15 mil milhões de dólares e de 80 horas de trabalho por ano.
As recomendações da gigante da internet para alcançar este potencial vão para o investimento em infraestruturas e inovação e para o desenvolvimento de uma estratégia para os recursos humanos, adequando competências às novas necessidades do mercado.
O SAPO TEK é media partner do 33º Congresso da APDC e está a acompanhar os debates e apresentações. Acompanhe tudo aqui e veja as imagens.
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