No ano passado a tecnológica portuguesa anunciou a grande novidade: a aquisição por parte de uma companhia norte-americana, que por acaso (ou não) era sua cliente do serviço de Threat Intelligence. 

Os valores da transação não foram divulgados, mas logo de início a fasquia foi colocada alta: o objetivo era duplicar os recursos humanos, aumentar a faturação e alargar a pegada global em termos de clientes, numa área onde a AnubisNetworks já está na lista das empresas que lideram em inovação e qualidade de dados.

Quase a completar um ano da realização do negócio, Francisco Fonseca faz um balanço muito positivo e explicou ao TeK porquê. “A integração correu melhor do que esperávamos […] De parte a parte a transação correu muito bem, sem resistências, até porque temos muitas sinergias e complementaridade, o que levou ao crescimento em vez dos cortes que muitas vezes acontecem”, justifica o CEO da AnubisNetworks. “No nosso caso a integração mostra que um mais um é maior do que dois”.

Culturalmente as duas empresas são semelhantes, como indica Francisco Fonseca que garante que de ambos os lados se “sentem em casa”. A AnubisNetworks cresceu cerca de 60% em recursos humanos neste ano, uma percentagem equivalente ao crescimento da faturação, embora a empresa não revele os números concretos.

“Temos beneficiado com o conhecimento e know how norte americano e a abordagem de escala e produtização. O crescimento é já consequência disso mesmo”, justifica o CEO. Mas os benefícios são para os dois lados, e a BitSight está a integrar a criatividade e a agilidade da equipa portuguesa, que pediu especificamente para não se perder nesta integração. 

Apesar da fusão, a tecnológica portuguesa mantém o nome, o posicionamento de mercado e a linha de produtos, mas a exploração de áreas de complementaridade com a BitSight tem vindo a ser feita, através da integração de metodologias mais orientadas a resultados e o desenvolvimento de produtos que complementam o negócio da Bitsight. 

A empresa americana está focada no desenvolvimento de ratings de segurança de TI, onde já detém uma posição relevante que tem trabalhado para reforçar no sentido de se tornar um standard internacional, à semelhança do que acontece nos ratings de crédito com a Moody’s e a Standard & Poor's. Francisco Fonseca acredita nesta visão e também no contributo que a AnubisNetworks pode dar nesse sentido, desenvolvendo soluções com qualidade de dados que permitem ter uma visibilidade sobre a segurança de uma determinada organização e ajudando assim a criar um ecossistema também mais seguro. 

“Motiva-nos saber que estamos numa viagem que vai levar a BitSight a ser uma referência global”, afirma Francisco Fonseca, que desde a aquisição participa também no board da empresa norte-americana como observador.

 

“Ainda vivemos no Faroeste Digital”

A AnubisNetworks já tem uma história de quase uma década na área da segurança. Inicialmente a empresa começou por desenvolver soluções de proteção para o correio eletrónico de empresas mas foi evoluindo na análise de ameaças em tempo real, Threat Intelligence, desenvolvendo o Cyberfeed que disponibiliza aos seus clientes um “filme” de eventos de cibersegurança. 

O produto destina-se a diversos tipos de organizações, como a entidades policiais e de segurança, fornecedores de serviços de segurança (MSPP - Managed Security Service Providers), Centros de operação de Segurança (SOC - Security Operations Center) e Centros de Estudos, Resposta e Tratamento de ameças de cibersegurança (CERT). Em tempo real a AnubisNetworks faz a análise das fontes abertas de acordo com uma série de indicadores que a sua equipa de analistas define e investiga e é capaz de identificar os endereços IP de equipamentos que estão comprometidos, ou de cartões de crédito que têm os dados publicados online.

A recente análise às botnets com o trojan bancário Tinba ou TinyBanker publicada no blog AnubisLabs mostra um pouco da realidade das ameaças com que a empresa se depara todos os dias.

“Estamos a ver 5 milhões de IPs comprometidos, e muitos são empresas. São dezenas de milhares de eventos por segundo”, explica Francisco Fonseca, que admite que na cibersegurança “ainda vivemos no Faroeste Digital”. 

Além de comercializar o Cyberfeed, e fornecer informação à Bitsight que a usa para aplicar o seu rating de IT Security, a AnubisNetworks também partilha informação em diversos fóruns especializados e em Portugal há várias organizações que já utilizam o serviço de monitorização de ameaças em tempo real.

O vídeo que reproduzimos abaixo mostra o funcionamento do Cyberfeed.

 

 

Compromisso com o mercado nacional

Apesar do enfoque de negócio da AnubisNetworks estar muito direcionado ao mercado internacional, que tem um peso de cerca de 70% entre os seus clientes, Francisco Fonseca garante o compromisso da empresa com o mercado nacional e reconhece a importância que teve o sucesso no mercado local antes de avançar para a internacionalização.

Em Portugal a AnubisNetworks é líder na área de segurança de email com o Mail Protection Service e conta com empresas de grande dimensão e importância no rol dos seus clientes.

Este ano a empresa lançou uma nova versão do seu produto de proteção de email, o que mostra que mantém a aposta nesta área apesar do crescimento da aposta no Cyberfeed. 

“Sabemos também que chegámos onde chegámos porque muitas empresas portuguesas acreditaram em nós”, adianta Francisco Fonseca, explicando que a internacionalização foi um processo moroso que não poderia ser feito se em Portugal a AnubisNetworks não tivesse conseguido ganhar músculo. 

 

Fátima Caçador


Nota da redação: Foi corrigida uma gralha no primeiro parágrafo.