Várias universidades e institutos de investigação chineses conseguiram comprar recentemente chips de inteligência artificial topo de gama da Nvidia através de revendedores, possivelmente contornando as restrições impostas pelos Estados Unidos às exportações destas tecnologias para aquele país asiático.
Recorde-se que no final do ano passado, os EUA reviram as restrições à exportação de tecnologias de última geração a mais produtos e mais países, mantendo a China como o principal alvo destas restrições, alegando riscos para a segurança nacional, se o país tiver acesso a tecnologias de última geração que pode usar para fins militares. Antes disso, em 2022 já tinham proibido a exportação de chips de IA.
A informação é avançada pela Reuters, que garante ter tido acesso a centenas de documentos dos concursos que levaram às compras em questão, onde estão referidas 10 entidades chinesas que tiveram acesso aos chips em questão, incorporados em servidores fabricados pela Supermicro Computer, Dell Technologies e Gigabyte Technology (Taiwan).
Os documentos foram identificados em bases de dados de acesso público e, como sublinha a agência, representam apenas uma pequena parte das compras públicas chinesas, mas servem para mostrar que o bloqueio não cumpre integralmente o propósito.
Nestas propostas estarão equipamentos com versões mais avançadas dos chips da Nvidia, o que não é claro é se essas unidades foram compradas na origem antes ou depois do reforço das restrições. Os documentos referem-se a concursos realizados entre 20 de novembro e 20 de fevereiro e mostram que o negócio envolveu 11 retalhistas chineses pouco conhecidos.
Em declarações à agência, a Nvidia disse que as propostas referem produtos que foram exportados e disponibilizados ao mercado antes das restrições. "Não indicam que algum dos nossos parceiros tenha violado as regras de controlo das exportações e constituem uma fração insignificante dos produtos vendidos em todo o mundo", sublinhou um porta-voz.
Também a Supermicro garantiu que está a cumprir as regras definidas pelos Estados Unidos e, tal como a Nvidia, indicou que se identificar falhas e vendas em parceiros que não cumpram os pedidos de licenciamento obrigatório vai agir em conformidade. A empresa esclareceu ainda que nos procedimentos que envolvem os seus produtos estão em causa "servidores de gerações mais antigas ou de uso geral, que não são capazes de operações de IA de grande escala”, acrescentando que esses produtos estavam disponíveis na China antes dos regulamentos de controlo das exportações” entrar em vigor.
A Dell tem uma posição idêntica e diz que não conseguiu identificar evidências da expedição de produtos configurados com os chips que são alvo de restrições às exportações, garantindo ainda que todos os seus distribuidores e revendedores estão sujeitos às diferentes regulações globais.
Daniel Gerkin, do escritório de advogados Kirkland & Ellis, em Washington, confirmou à Reuters que, mesmo que o vendedor tome todas as medidas ao seu alcance é difícil impedir completamente o desvio de produtos para a China, por causa da complexidade das cadeias de distribuição. E se fosse possível identificá-lo "presumivelmente seria um desafio para o governo dos Estados Unidos tomar medidas coercivas".
As autoridades americanas, através do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, não quiseram fazer comentários diretos sobre o caso, mas confirmaram que têm investigado o desvio de tecnologias barradas pelas sanções para a China, nomeadamente através de empresas de fachada.
Entre os compradores destes equipamentos estão a Academia Chinesa de Ciências, o Instituto de Inteligência Artificial de Shandong, a Administração de Terramotos de Hubei, duas universidades, uma empresa estatal de investimentos em tecnologia, um centro público de investigação aeronáutica e outro de ciências espaciais.
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