As empresas de todos os sectores são hoje desafiadas a definir o que significa para elas “transformação digital” e como vão responder e desenvolver estratégias na sua adoção. Portanto, não é surpresa que o papel do CIO (Chief Information Officer) também esteja em mutação, com a sua importância a ter aumentado substancialmente nos últimos cinco anos.
Tal como acontece com todas as iniciativas estratégicas, a revolução digital deve ser conduzida a partir da gestão executiva para todas as funções dentro da organização. Não é um projeto de tecnologia pura, um projeto de operações ou um projeto de marketing, mas antes deve ser difundida por toda a organização.
Mas, se esta transformação digital dentro de uma empresa pode ser estimulante e promissora, também requer liderança para garantir que toda a organização se dedica à implementação e ao sucesso de novas soluções tecnológicas.
É aqui que o Chief Information Officer desempenha o seu papel mais importante. Se antes, o CIO estava muito focado na componente operacional de manutenção e atualização dos sistemas, a garantir que as empresas não paravam devido a falhas nos sistemas ou a assegurar que não se perdiam informações, "com o aparecimento e migração para soluções Cloud, o SaaS, PaaS, IaaS, o CIO passou a assumir um papel destacado nas organizações, liderando a estratégia da empresa digital", esclarece António Pereira, CIO da Primavera BSS.
Para o melhor CIO português do ano de 2017 na categoria PMES, “o CIO deve ser um líder e um evangelizador tecnológico. No passado, era visto como um polícia que monitorizava tudo e todos, que andava preocupado com a utilização abusiva da largura de banda ou com a utilização das redes sociais pelos colaboradores. Hoje é quem traz as novidades para as organizações, assumindo um papel preponderante na agilização dos processos e na produtividade das empresas”.
Em entrevista ao SAPO TEK, o Chief Information Officer da Jerónimo Martins, Benedetto Conversano, revela ter a mesma opinião que o seu par de que o papel de um CIO vai muito para além da tecnologia.
“O desafio mais importante para os CIOs é ter a capacidade de estabelecer um diálogo com as outras áreas da empresa não como um fornecedor de tecnologia, mas sim como um parceiro de negócio”, defende o vencedor de melhor CIO português do ano de 2017 na categoria Corporate, para quem a excelência dos produtos, a qualidade do atendimento ao cliente e a eficiência da sua estrutura de custos “são os pilares da competitividade que saem fortalecidos quando a tecnologia é uma componente integrada do pensamento estratégico”.
E, se Benedetto Conversano aponta a velocidade da luz com que o mercado está a evoluir como um dos muitos desafios que os CIOs têm em mãos, Ana Cristina Neves aponta a “demora na efetivação dos processos” e a “falta de perceção do que é institucional” como as duas coisas que lhe tiram o sono enquanto diretora do Departamento da Sociedade de Informação da Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT).
Eleita a melhor CIO portuguesa do ano de 2017 na vertente Government, Ana Neves afirma compreender “a prestação de contas no Estado e que isso esteja cada vez mais apertado, com o Ministério das Finanças a obrigar a que passemos cada vez por mais etapas que alongam as situações por meses”, mas defende que “isso não se compactua com uma sociedade digital”.
A máquina pesada e extremamente complicada, para tudo o que são decisões, diplomas e financiamentos que é o Estado aliada a uma época de transformação digital, “disruptiva, diária e em que a realidade muda da manhã para a tarde” torna a reação estatal a essa mudança um desafio constante.
“Enquanto que numa empresa se decide mudar a estratégia e, na semana seguinte, a mudança acontece de facto, isso não acontece no Estado. Não acontece porque existem uma série de regras que têm que existir quando falamos de dinheiros públicos. Tem que haver uma prestação de contas total, mas não podemos deixar de estar neste movimento fantástico que é esta transformação digital”, esclarece ao SAPO TEK.
No entanto, se o Estado tem perfeita consciência que a mudança é necessária e que é preciso ajudar todos os stakeholders nessa mudança, para muitos dos interlocutores com quem a Administração Pública dialoga diariamente, entre os quais vários ministérios, empresas, organizações não governamentais, a Academia e a comunidade técnica, é difícil perceber o que é uma instituição como o Estado.
Como podem ser ultrapassadas todas as dificuldades inerentes a um perfil profissional que ainda não é muito comum nas empresas portuguesas?
António Pereira defende que as caraterísticas essenciais de um CIO são as de saber conduzir os processos de decisão, apontar estratégicas e ser um consultor da organização, contribuindo para as decisões daqueles que realmente vão utilizar os sistemas.
“Mas para que um CIO possa desempenhar esse papel, tem de estar muito bem informado sobre as tecnologias que existem, conhecer as tendências do momento, sair da empresa e contatar com outras realidades”, acrescenta.
Também é preciso ser “um excelente psicólogo”, aponta o CIO da Jerónimo Martins, uma vez que é preciso conhecer e compreender muito bem os “clientes internos” porque, na maioria das vezes, não vão dizer “que precisam de um carro, mas sim de cavalos mais rápidos. É preciso conhecer em detalhe a verdadeira raiz do problema, que na maior parte das vezes é muito mais profunda do que os sintomas que nos são apresentados”, remata Benedetto Conversano.
Para Ana Cristina Neves, o importante é o trabalho de equipa e a noção de que é preciso trabalhar de uma forma integrada, apesar deste não ser um trabalho fácil no Estado.
“Essa noção não é algo que exista muito na Administração Pública, apesar de existir em muitos serviços com os quais trabalho, mas na minha equipa não podia ter muitas pessoas com um pensamento que não fosse este”, refere a responsável pela Sociedade de Informação da FCT.
Ana Neves, António Pereira e Benedetto Conversano foram eleitos os melhores CIO portugueses do ano de 2017, um prémio que tem como objetivo distinguir, reconhecer e galardoar os melhores Chief Information Officer (CIO) portugueses que utilizam as TIC para ter um maior sucesso dentro das organizações que representam.
A 11 de junho vão representar Portugal nos prémios de CIO Europeu do Ano, em Bruxelas, um galardão que em 2014 veio para o nosso país.
Quanto à possibilidade de repetir a proeza, Ana Cristina Neves defende que é merecido, pois, apesar de se estar a fazer muita coisa interessante no resto da Europa, “Portugal está a ter uma dinâmica nesta área, em termos de Governo, que é invejável e vejo isso pelas reuniões em que estou, nomeadamente, do Grupo Estratégico relativo ao Mercado Único Digital”.
“Vejo que há um refreshing por parte do pensamento estratégico político nesta área que não vejo nos outros países . Um exemplo disso é o facto do INCoDe.2030 ter cinco eixos que vão desde a inclusão digital ao conhecimento e que é algo que não encontro em nenhum outro membro. Temos uma estratégia holística, integrada, e é disso que o digital precisa e, por isso, acho que Portugal merecia ter esse galardão”, explica.
“Competitivo por natureza”, António Pereira assume que pode ganhar o prémio de CIO Europeu do Ano, mas se isso não acontecer, acredita ficar com o “segundo lugar após perder depois do prolongamento, no desempate por grandes penalidades”.
Para Benedetto Conversano a resposta é apenas uma: “trust the journey”.
Nota da Redação: Foi feita uma correcção no último parágrafo.
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