A tecnologia europeia poderá alcançar um valor acumulado de mais de 7 mil milhões de euros, impulsionada por uma força de trabalho qualificada de 20 milhões de profissionais. Portugal emerge como um exemplo de crescimento sólido, mas também como um reflexo dos desafios ainda presentes na região.
Estas são algumas das conclusões do relatório State of European Tech, divulgado pela Atomico Venture, que analisa a evolução do ecossistema tecnológico europeu nos últimos dez anos. O estudo celebra uma década de análises ao setor e projeta que, na próxima década.
Há uma década, Portugal não tinha nenhuma empresa avaliada em mais de 900 milhões de euros. Hoje conta com dois unicórnios, sinalizando uma transformação significativa no seu ecossistema tecnológico. A par de Portugal são igualmente mencionados os casos de países como Itália, que passou de zero para sete unicórnios, e Espanha, que viu o número crescer de três para 14.
Além disso, o financiamento para empresas tecnológicas em Portugal disparou na última década. Entre 2005 e 2014, as startups portuguesas conseguiram captar cerca de 92 milhões de euros em capital de risco. Nos dez anos seguintes, esse valor superou os 1,4 mil milhões de euros, representando um crescimento marcante. Estes números refletem uma crescente atratividade do país para investidores, alinhada com a evolução tecnológica e o aumento da qualificação da força de trabalho.
Apesar desses avanços, o relatório sublinha que o ecossistema português ainda enfrenta desafios na diversidade de género. Embora as equipas fundadoras exclusivamente femininas tenham obtido o dobro da proporção de financiamento inicial nos últimos anos (4,9%), estas continuam a receber apenas 1,7% dos fundos nas rondas mais avançadas, como a Série B.
O relatório destaca também o papel de certos países na liderança tecnológica. A Estónia, por exemplo, surge como um líder global no rácio de investimento em capital de risco em relação ao PIB, consolidando-se como um exemplo de sucesso num ecossistema ágil e eficiente. Em termos de trabalhadores no sector tecnológico per capita, Finlândia, Suécia e a própria Estónia lideram a Europa.
Atualmente, há sete vezes mais pessoas a trabalhar em empresas de tecnologia financiadas na Europa do que em 2015. As reservas de talentos nos EUA e na Europa estão a crescer ao mesmo ritmo. O sector tecnológico europeu emprega atualmente 3,5 milhões de pessoas, o mesmo número que os EUA em 2020.
Mais de 2,5 milhões destes postos de trabalho foram criados desde 2015, o que significa que o mercado de talentos tecnológicos da Europa registou um aumento de 24% da Taxa de Crescimento Anual Composta (CAGR) - a par dos EUA.
Neste contexto, o Sul da Europa registou um aumento significativo da sua força de trabalho tecnológica. Entre 2015 e 2024, o número de trabalhadores no sector em Portugal passou de 5.200 para 20.700, em Espanha o aumento foi de 14.000 para 175.000 e em Itália de 26.000 para 167.000.
A próxima década: oportunidades e desafios
Com uma reserva de talentos que já ronda os 20 milhões de profissionais, a Europa está bem posicionada para competir globalmente nos próximos anos. Para Portugal, o caminho parece promissor, mas exigirá um esforço contínuo para atrair mais capital, melhorar a igualdade no acesso a financiamento e diversificar as equipas fundadoras.
O continente europeu está igualmente bem posicionado para aproveitar as oportunidades no domínio da deeptech, mas o dinheiro e a mentalidade têm de a acompanhar. De acordo com o relatório, este ano a deeptech (incluindo a IA) captou 33% dos níveis de financiamento total da Europa. Nos últimos dez anos, as empresas europeias de deeptech angariaram mais de 87 mil milhões de euros, face aos 114 mil milhões de euros na Ásia e mais de 270 mil milhões de euros nos EUA.
A reserva de talentos em inteligência artificial da Europa é um dos seus grandes trunfos. Com a explosão da adoção da IA, o número de funções relacionadas com a mesma na Europa aumentou seis vezes - com 30.000 funções de IA ativas só em Espanha. "Graças às excelentes instituições académicas do continente, existe muito talento para preencher estas funções".
O relatório da Atomico deixa claro que, enquanto a Europa tem mostrado um crescimento invejável, os próximos dez anos serão cruciais para consolidar o progresso alcançado. No caso português, o foco deve estar na criação de um ambiente mais inclusivo e diversificado, capaz de sustentar o ritmo de evolução tecnológica e maximizar o impacto socioeconómico.
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