A inovação tecnológica na área da saúde está a transformar o panorama global da medicina e Portugal começa a posicionar-se como um dos protagonistas neste cenário. Graças a um ecossistema robusto de startups, centros de investigação de excelência e apoios institucionais, o país tem atraído investimentos significativos, estabelecendo-se como um "hub" europeu para o desenvolvimento de soluções inovadoras.

A União Europeia tem dado prioridade à integração de inteligência artificial (IA) e tecnologias inovadoras na saúde, com iniciativas como o programa Horizonte Europa e a rede EIT Health. Estas plataformas fomentam a colaboração entre startups, investigadores e empresas, promovendo a criação de soluções disruptivas.

Aliados a fundos de capital de risco e aceleradoras especializadas, os apoios europeus têm sido essenciais para que empresas emergentes possam superar barreiras críticas, como regulamentação e financiamento.

Iniciativas como o Health Cluster Portugal e o Testing and Experimentation Facility for Health AI and Robotics (TEF-Health) desempenham papéis chave em Portugal. Esta última, coordenada pelo Instituto Pedro Nunes (IPN), visa acelerar a certificação de tecnologias baseadas em IA e robótica, permitindo que startups testem e lancem os seus produtos no mercado.

Startups portuguesas na vanguarda

As startups portuguesas destacam-se em diversas áreas da saúde, abordando desafios complexos com soluções inovadoras e impactantes. No domínio do diagnóstico e monitorização médica, empresas como a iLoF, a Glooma, a PURR.ai e a C-mo Medical Solutions estão a revolucionar o sector.

A iLoF utiliza inteligência artificial e fotónica para facilitar a descoberta de biomarcadores e personalizar tratamentos, enquanto a Glooma desenvolveu o dispositivo “Emma”, que permite autoexames mamários em casa, promovendo a deteção precoce do cancro da mama. Por outro lado, a PURR.ai recorre à análise de imagens médicas para melhorar diagnósticos, e a C-mo Medical Solutions oferece uma solução inovadora para monitorizar a tosse, ajudando na gestão de doenças respiratórias.

Na área de terapias e engenharia biomédica, destacam-se startups como a TargTex, a Beat Therapeutics e a Metatissue. Estas empresas trabalham em soluções para doenças difíceis de tratar ou na regeneração de tecidos humanos. A TargTex foca-se em terapias direcionadas para glioblastomas, enquanto a Beat Therapeutics está a desenvolver tratamentos que regeneram tecidos cardíacos danificados. Já a Metatissue aposta em engenharia de tecidos para criar substitutos biológicos que restauram funções corporais perdidas.

No que toca a plataformas digitais e tecnologias de suporte clínico, a MyCareForce, a Clynx e a Virtuleap têm dado um contributo importante para tornar os cuidados de saúde mais eficientes e acessíveis. A MyCareForce conecta profissionais de saúde a instituições que precisam de suprir lacunas de pessoal, proporcionando flexibilidade e rapidez na resposta a necessidades do sector. A Clynx, por sua vez, gamifica a fisioterapia, transformando as sessões de reabilitação em experiências mais interativas e motivadoras. Já a Virtuleap utiliza realidade virtual combinada com neurociência para ajudar a treinar e monitorizar capacidades cognitivas, com aplicações em ambientes clínicos e educativos.

Por fim, no campo da biotecnologia e de soluções médicas especializadas, surgem empresas como a expressTEC, a BH4U (BestHealth4U) e a Lampsy. A expressTEC investe na produção de proteínas recombinantes e no desenvolvimento de vacinas e kits de diagnóstico. A BH4U criou adesivos médicos biocompatíveis que oferecem maior conforto ao paciente, e a Lampsy aposta na iluminação inteligente para melhorar os ambientes clínicos, promovendo o bem-estar de pacientes e profissionais.

Do conjunto de exemplos resulta a conclusão que a aplicação de IA e outras tecnologias na saúde traz benefícios significativos. Ferramentas digitais permitem diagnósticos mais precisos, como mostram os algoritmos desenvolvidos pela PURR.ai, enquanto dispositivos como o "Emma" da Glooma democratizam a prevenção do cancro. Por outro lado, plataformas como a Clynx tornam os tratamentos mais acessíveis e envolventes.

Além disso, a medicina personalizada, impulsionada por startups como a iLoF, permite adaptar tratamentos às características individuais de cada paciente, melhorando resultados e reduzindo custos. Estas inovações tornam-se ainda mais relevantes num momento em que os sistemas de saúde enfrentam desafios crescentes, como o envelhecimento da população e a necessidade de soluções mais sustentáveis.

Futuro promissor para Portugal

Portugal está a emergir como um dos principais polos de inovação na área da saúde na Europa e para Jorge Pimenta, diretor de inovação do Instituto Pedro Nunes, este crescimento reflete a combinação de fatores favoráveis.

“Portugal tem demonstrado esse crescimento significativo na atração de investimento para a inovação em saúde, resultado de uma combinação de dois fatores principais: o ecossistema consolidado de startups e os centros de investigação de excelência”, defende Jorge Pimenta.

No entanto, o percurso não está isento de desafios. A competição por talento especializado e o acesso a financiamentos elevados são entraves apontados. Apesar disso, a aposta em redes colaborativas e políticas institucionais pode consolidar Portugal como um "hub" europeu de inovação em saúde.

“O sector da saúde coloca desafios muito complexos a qualquer empresa ou novo produto, e daí a importância de uma rede colaborativa que permita a rápida validação e posterior crescimento das soluções”, destaca Jorge Pimenta.

O IPN tem sido um catalisador neste ecossistema, apoiando startups e liderando projetos internacionais. Para 2025, a instituição planeia expandir iniciativas como o TEF-Health, bem como explorar tecnologias emergentes, como o 6G e a computação de alto desempenho. “Manteremos um foco no suporte a novas ideias de negócio, nunca esquecendo a transferência de tecnologia e a promoção do empreendedorismo através de iniciativas como o InovC+ ou o programa de pré-aceleração Ineo Start”..

O crescimento de startups portuguesas na área da saúde é um testemunho do potencial do país. Desde a aplicação de IA em diagnósticos até a criação de terapias inovadoras, estas empresas estão a moldar o futuro da medicina, com impacto em Portugal e além-fronteiras. O ambiente favorável, reforçado por iniciativas como as do IPN e o apoio europeu, promete catapultar o país para a linha da frente da inovação em saúde.

Como sublinha Jorge Pimenta, “Portugal pode consolidar-se como ‘hub’ europeu de inovação em saúde, se avançarmos com apostas e políticas institucionais que criem ambientes regulatórios e ferramentas de experimentação”. O caminho está traçado.