Por cá foi assim, há quase nove anos, porque lá fora o “Magalhães”, sob os seus diversos nomes adaptados localmente para diferentes países da América Latina e África, continua a “brilhar” em projetos muito bem-sucedidos.

Hoje a JP Sá Couto reclama em seu nome, através da JP Inspiring Knowledge, acima de 200 projetos de transformação de sistemas educativos a nível mundial, envolvendo mais de 12 milhões de alunos. Venezuela, Argentina e Uruguai e, há menos tempo, a Bolívia - ou mais recentemente o Quénia - são apenas alguns exemplos.

Em Portugal, a chegada do pequeno computador portátil às escolas do Primeiro Ciclo, através do e-escolhinha, teve muita visibilidade, mas no final o Magalhães acabou subaproveitado. “Tratava-se de um grande projeto de massificação digital e não um projeto de educação”, fez questão de sublinhar João Paulo Sá Couto, acerca do antigo programa do governo.

O CEO do recém-oficializado JP Group recordou que antes tinha havido um grande investimento no e-escolas, “em que foram entregues mais de 1,2 milhões de equipamentos Toshiba, HP, entre outras marcas, a alunos do 7º, º e 9º ano, numa primeira grande tentativa de massificação de ligação à internet”.

O e-escolinha, com o Magalhães, era um segundo passo. Mas “as escolas tinham que estar mais preparadas para recebê-lo [ao Magalhães]”, referiu. “Devia ter havido mais formação dos professores ou mais conteúdos para aqueles equipamentos, mas com certeza alguma coisa devia ter sido feita para não se perder o investimento”.

Embora tenha ficado aquém das suas potencialidades, com uma suspensão que alguns encaram como precoce, os fundadores da JP Sá Couto consideram que o programa não deixou de dar os seus frutos. “Ainda há pouco tempo fomos campeões nas olimpíadas da matemática e se fizermos as contas podemos perceber que são miúdos da geração Magalhães…”, deu como exemplo João Paulo Sá Couto, sugerindo uma possível relação causa-efeito.

O maior obstáculo ao e-escolhinha e ao “seu” Magalhães terá estado, acima de tudo, na sua politização. “Normalmente os projetos muito politizados têm sempre problemas quando muda o Governo”.

À politização acrescente-se a polémica em redor dos programas de financiamento, não apenas no que diz respeito aos computadores para os alunos do Primeiro Ciclo, mas também ao e-escola e que envolveram inclusive a Comissão Europeia.

Um emigrante de sucesso

O Magalhães pode não ter conseguido marcar a história da política da educação em Portugal (ou será que marcou?), mas sem dúvida que ajudou a definir o rumo da JP Sá Couto. “O Magalhães foi o nosso início. Aprendemos muito. Foi o ‘pontapé de saída’ para o resto do mundo”, referiu João Paulo Sá Couto. Além disso, continua a ser visto como uma referência, ao ser replicado por vários países.

“O projeto Magalhães foi o que nos permitiu, passados estes anos todos, vender mais de 1.000 milhões de dólares noutros países [na área da educação]”, rematou por sua vez Jorge Sá Couto.

O co-fundador defende que hoje a empresa “consegue fazer um projeto muito melhor do que há oito anos atrás”, sabendo avaliar os diferentes estágios das políticas de educação e os diferentes objetivos ambicionados de país para país.

Depois do que aconteceu com o e-escolinha considerariam fazer uma proposta ao Governo português para outra iniciativa na área da educação? “Neste momento temos tantos desafios lá fora e com mercados muito maiores que não seria uma prioridade”, admitiu Jorge Sá Couto. Mas nunca estaria fora de questão, acrescentou João Paulo Sá Couto.

“Por ser politizado, houve pessoas que gostaram muito, houve pessoas que gostaram menos do e-escolinha”, salientou. “Acho que os projetos de educação têm de ser pensados fora da política, tem de ser pensados em contexto e continuidade”, defendeu.

Lá fora as iniciativas têm sido conduzidas de maneira diferente do que aconteceu em Portugal, garantem os responsáveis. A Venezuela, por exemplo, mesmo com dificuldades financeiras, tem avançado ao longo dos anos com o seu projeto, assim como a Argentina, desde 2009, ou o Uruguai, referiram. “Há países em que não tem a ver com ‘modas’, mas com políticas de continuidade para as tecnologias da educação”.

Patrícia Calé