
A infraestrutura tecnológica é o “coração” da escola digital, mas o que acontece quando está parada no tempo? Ao TEK Notícias, Fernanda Ledesma, presidente da direção da Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI), afirma que, nas escolas, o “parque informático está muito desatualizado”, lembrando que a infraestrutura remonta a 2009.
Se, por um lado, houve investimento nos kits Escola Digital, por outro, “nas escolas, os computadores ficaram exatamente tal como estavam”. Os kits em si demonstram também sinais de desgaste. Como aponta a responsável, “os kits vão já para o terceiro ano” e os primeiros lotes têm equipamentos que já estão a “entrar num prazo de obsolescência”, numa situação à qual se somam avarias e indisponibilidade.
Embora o executivo tenha estado a aprovar, de vez em quando, “verbas para substituir os [equipamentos ]que já não são recuperáveis”, Fernanda Ledesma defende que o plano de manutenção não foi pensado de maneira consistente. “Este investimento, a manter-se num projeto deste género, tem que ser renovado anualmente. Todos os anos há equipamentos avariados”, afirma.
“Não é só pôr os kits e depois não há nenhum plano de manutenção nem de substituição. Faltou sempre esse plano, seja da instalação e adequação das salas aos equipamentos, quer depois da manutenção, a nível dos recursos humanos e dos recursos técnicos e substituição de equipamentos”, indica a responsável.
A falta de técnicos de informática é outro problema estrutural. Em linha com o que Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), contou ao TEK Notícias, Fernanda Ledesma afirma que, em muitas escolas, são os professores de informática que acabam por improvisar essa tarefa.
“Quando se pega num computador nunca sabemos se é uma hora ou se serão duas para o reparar”, aponta. O dia a dia escolar e as práticas pedagógicas acabam por ficar condicionadas. "Cada vez que há constrangimentos técnicos, sejam eles humanos ou de equipamento, acabam por ter impacto nas práticas pedagógicas", realça.
Para lá das avarias, outros problemas com os kits Escola Digital agravam a sobrecarga, entre questões que envolvem os pais e alunos, mas também estudantes que depois não trazem os computadores para as aulas. A responsável conta que muitos dos seus colegas "agradeceriam ao Ministério se ficassem apenas os computadores das escolas”.
Recorde-se que, no ano passado, o anterior Governo autorizou a atribuição de até 5 horas semanais de serviço docente extraordinário aos professores. No entanto, com as mudanças governamentais, não é certo se continuará."Este ano não sabemos se aquela questão das horas extra ainda está em vigor. Já perguntámos ao ministério e ainda não obtivemos resposta", indica. “Estamos preocupados com isso, porque voltamos ao início com os professores a fazer trabalhos sem horas”.
Competências digitais pedem tempo e espaço
Além dos problemas técnicos, o início do ano letivo fica marcado pela entrada em vigor da proibição do uso de smartphones para o 1.º e 2.º ciclos. No entanto, a responsável defende que os alunos precisam de tempo e orientação para aprender a usar as tecnologias de forma mais produtiva e saudável.
“Não é só pôr regras para se proibir. É preciso que haja espaço para podermos preparar os alunos para depois poderem usar como deve ser”, afirma.
Fernanda Ledesma detalha que os jovens “não têm outra referência a não ser esta de uma sociedade onde nasceram já com computadores, telemóveis” e outras tecnologias. A maioria dos estudantes está habituado a “manejar as máquinas”, mas depois não sabem tirar partido disso quer para o trabalho escolar.
Mas, para tal, e como sucede noutras disciplinas, “é preciso tempo e espaço para trabalhar isso com eles”. Este é precisamente um dos apelos que a responsável deixa ao Ministério da Educação neste início de ano letivo. Como realça, é necessário “mais espaço para podermos trabalhar com os alunos estas competências para que depois não tenhamos de andar a proibir”.
Para a ANPRI, as prioridades que o Ministério deve ter em conta são claras, sendo encabeçadas pelo “reforço do parque informático das escolas”, equipando-as de maneira a que possam “dar resposta às necessidades e às provas e aos projetos que estão a decorrer”, acompanhada pela melhoria das infraestruturas e dos equipamentos.
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