De acordo com um email interno da Microsoft datado de 1999 e revelado ontem pelos advogados litigantes no caso contra a produtora do Windows, a gigante de software planeou na altura juntar o seu leitor de conteúdos multimédia e sistema operativo como forma de atacar a rival Real Networks, informou a agência Associated Press.



Este email data da altura em que um tribunal federal dos Estados Unidos estava prestes a sancionar a empresa por iniciativas semelhantes que ocorreram no mercado de browsers de navegação na Web. Nessa época, a Real Networks detinha uma grande vantagem sobre os produtos de Media Player da Microsoft.



A mensagem de correio electrónico, enviada pelo presidente e co-fundador da Microsoft, Bill Gates, aponta para uma nova estratégia que passava pela junção de streaming de conteúdos multimédia - áudio e vídeo difundidos através da Internet - com o Windows. Pouco tempo depois, a gigante de software passou a integrar o Media Player no seu sistema operativo. O programa da Real Networks continua a ser uma aplicação isolada.



Confrontado com o email, Will Poole, executivo da Microsoft afirmou, citado pela AP, que a companhia "necessitava de comunicar a gama inteira de tecnologia Windows disponível".



Essa prática comercial e outras semelhantes levou a que um tribunal de recurso emitisse uma sentença em que acusou a empresa de Bill Gates de ter sido anti-concorrencial quando misturou software independente ao sistema operativo e acrescentou funcionalidades como um Web browser, de forma a que não pudessem ser removidas. Nessa altura, o tribunal estava a referir-se principalmente ao Microsoft Internet Explorer, que estava nessa altura a conquistar terreno ao Netscape Navigator.



A Microsoft e a Real Networks também debateram ontem perante o tribunal se o leitor de media desta última iria funcionar no caso de a Microsoft decidisse retirar o seu próprio software do Windows.



Na perspectiva da gigante de software, o RealOne, o mais recente programa de conteúdos digitais multimédia da sua concorrente baseia-se em funcionalidades essenciais do Windows, e que por isso não iria funcionar caso o Windows Media Player fosse retirado. A Real Networks, por seu lado, contestou esse argumento.



Onde as duas companhias divergem mais é no que as propostas dos estados litigantes requerem que a Microsoft remova. Os estados e a Real Networks defendem que deve ser permitido que o Windows mantenha funcionalidades básicas de áudio e de reprodução de CDs de música, mantendo-se assim a mesma situação antes da introdução do Windows Media Player.



Mas a Microsoft diz que as propostas estão escritas de uma forma tão vaga que essas funções teriam que ser retiradas. As produtoras de software concorrentes argumentam que a Microsoft detém uma vantagem injusta quando acrescenta novas funcionalidades ao Windows.



Por seu lado, a empresa de Bill Gates defende, com o apoio do governo federal, que a remoção de ícones e outras formas semelhantes de aceder a funcionalidades adicionais seria suficiente para equilibrar o mercado.



Os nove estados litigantes estão em desacordo com essa perspectiva e apelaram ao tribunal que obrigue a Microsoft a lançar uma versão básica do Windows, na qual, algumas funcionalidades, como o navegador da Web e o leitor de conteúdos multimédia, poderiam ser removidos e substituídos por produtos da concorrência.



Outras sanções pretendidas pelos estados iriam exigir que a Microsoft licenciasse o seu pacote de ferramentas de escritório Office de modo a ser utilizado em sistemas operativos alternativos e que distribuísse gratuitamente o código-fonte do Internet Explorer.



O Departamento de Justiça dos Estados Unidos e outros nove estados resolveram o seu processo antitrust contra a Microsoft no final do ano passado, tendo requerido penalidades mais leves.



O juiz original deste caso, Thomas Penfield Jackson, ordenou que a Microsoft fosse dividida em duas companhias, depois de ter concluído que a empresa tinha "abafado" ilegalmente concorrentes. Um tribunal de recurso manteve várias das acusações de violações, mas anulou a sentença de divisão e nomeou a juíza Colleen Kollar-Kotelly para determinar uma nova pena.



Os estados que rejeitaram o acordo entre o governo federal dos Estados Unidos e a Microsoft e que estão a exigir sentenças mais duras são Iowa, Utah, Massachusetts, Connecticut, Califórnia, Kansas, Flórida, Minnesota e West Virginia, bem como o distrito de Columbia.



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