O diretor executivo do Netflix, Reed Hastings, esteve em Portugal para assinalar o lançamento do serviço no mercado português. Num encontro com a imprensa o CEO definiu o objetivo: estar em 33% das casas portuguesas num prazo de sete anos. Foi a quota e tempo necessários no mercado norte-americano, parecem estar no mesmo ritmo em alguns mercados europeus e acreditam que em Portugal será semelhante.

"Pensamos que a televisão pela Internet vai ser muito popular em Portugal. E pensamos que um terço das casas portuguesas vão subscrever o Netflix. Esse é o nosso objetivo", disse Reed Hastings.

Para atingir este sucesso há um ingrediente muito crucial. "O período de utilização grátis é a parte mais importante. E ainda que isso nos saia caro, é muito eficaz. A maior parte das pessoas que experimentam o Netflix, continuam a usar. Mas isso é com cada um - nós fazemos com que também seja muito fácil cancelar o serviço".

O CEO não adiantou números sobre os registos que o Netflix já teve em Portugal, mas admitiu que possa haver alguma desilusão sobre os conteúdos disponíveis no sentido em que as pessoas pensam no Netflix como o 'Spotify dos vídeos'.

Mas este é um caminho impossível de se conseguir no mercado das séries e dos filmes. O que os responsáveis da gigante norte-americana garantem - dito pelo próprio diretor de conteúdos, Ted Sarandos, que também esteve em Portugal - é que o catálogo está sempre a aumentar. Em França e na Alemanha, por exemplo, a base de conteúdos duplicou em apenas 12 meses. "Intencionalmente não lançámos tudo, pois queremos fazer evoluir o catálogo à medida que vai evoluindo o número de espectadores", salientou.

"Se os portugueses gostarem mais de filmes do que de séries, vamos acrescentar mais filmes do que séries. Amanhã saberemos 100 vezes mais sobre os vossos gostos do que aquilo que percebemos com um ano de estudo", acrescentou ainda Ted Sarandos.

Uma ameaça ou um parceiro?

O Netflix traz concorrência para os mercados, não só para os canais por cabo, como para os grandes emissores de conteúdos. Se 'rouba' a atenção dos utilizadores para conteúdos que estão ali, à distância de uma aplicação, sem publicidade, essa atenção não estará por exemplo nem na SIC, nem na RTP, nem na TVI.

Ainda que sejam formas diferentes de distribuir conteúdos, Reed Hastings está convencido que essa diferença não vai perdurar por muito tempo.

"Todas as emissoras de televisão vão transformar-se em emissoras online, como a BBC - tem um imenso sucesso na Internet com o serviço iPlayer. Em reação à competição, os canais vão transformar-se em emissoras online".

Já Ted Sarandos considera que não é só uma transformação de mercado, é uma alteração no comportamento dos utilizadores e que isso também obrigará a uma adaptação por parte das emissoras.

Mas nem tudo é 'mau' com a chegada do Netflix. O responsável de comunicação para a Europa, Médio Oriente e Ásia (EMEA na sigla em inglês), Joris Evers, confirmou que a Netflix está em negociações com a SIC para que a emissora seja uma potencial produtora de conteúdos. Tudo ainda está em fase de negociações, mas já existem sinais de fumo à vista.

O responsável de conteúdos da Netflix, Ted Sarandos, disse ainda que o objetivo passa por tentar fazer uma produção 'nacional' em quase todos os mercados nos quais o Netflix marca presença e que 'não há motivo para não fazer um programa em Portugal'. Mas deixou o alerta: pode demorar alguns anos até acontecer.

Dizemos-lhe onde é que a Netflix está fora de jogo
Conteúdos de desporto? Não vai acontecer. Transmissões em direto? Não faz sentido. Uma versão gratuita do Netflix? Tentador para os utilizadores, impossível para a empresa. Em resumo é esta a reposta da Netflix a algumas questões que se colocam sobre o futuro da plataforma.

Sobre uma versão gratuita, está mesmo fora de equação. "Estamos focados nos 7,99 euros", garantiu Reed Hastings, enquanto Ted Sarandos lembrou que os custos de licenciamento dificilmente conseguiriam ser pagos por via publicitária.

Quando ao alargamento dos conteúdos disponíveis na plataforma, prevaleceu a ideia de que o Netflix é sobre filmes e séries. É o núcleo do ADN do serviço e é através deste núcleo que conseguirá resistir à concorrência.

Rui da Rocha Ferreira