No ano passado, Portugal fez progressos assinaláveis na área da saúde digital e da conectividade, com os avanços no desenvolvimento das redes 5G, incluindo nas faixas de 3.4 e 3.8 GHz. Continua a ter grandes desafios para resolver em matéria de transformação digital, em áreas como as competências digitais da população, tanto básicas como avançadas.
O segundo relatório de avaliação dos progressos da Europa e dos seus Estados-membros, face às metas traçadas para a iniciativa Década Digital, foi divulgado esta terça-feira e integra uma análise aos progressos de cada país nas áreas abrangidas pelo programa.
O documento considera que o roteiro de Portugal para a Década Digital é pouco ambicioso. Revela um “esforço limitado para atingir os objetivos” da iniciativa, com metas definidas apenas para quatro dos 14 indicadores chave de desempenho monitorizados.
“Portugal deve melhorar o seu desempenho em relação às metas e objetivos da Década Digital, para fomentar a competitividade, a resiliência, a soberania e promover os valores europeus e a ação climática”, recomenda o relatório.
Sobre Portugal destacam-se como áreas de maior evolução a da conectividade, já que o país segue avançado na cobertura com uma rede de alto débito (gigabit) e 5G e deve atingir os 100% de penetração da população, com estas infraestruturas, muito antes de 2030. O relatório destaca que Portugal está entre os melhores da Europa neste indicador, com o 5G a chegar já a 65,2% da população.
Na saúde, as estatísticas mostram que a maturidade dos serviços eletrónicos aumentou quase 40% desde o ano passado para ficar agora acima da média europeia ( 86 vs 79,1).
Menos positivos têm sido os avanços em matéria de competências digitais. A edição especial do Eurobarómetro, que tomou o pulso à evolução dos países nos vários indicadores que refletem as metas da Década Digital, contextualizam a conclusão. Só 56% da população portuguesa tem competências digitais, ainda que básicas. Um número, que vale a pena também dizer, ainda assim está alinhado com a média europeia (55,6%).
Nas competências digitais mais avançadas, Portugal fica atrás da média da UE com os especialistas em Tecnologias de Informação e Comunicação a representarem apenas 4,5% da população empregada (são 4,8% em média na UE). A percentagem de mulheres nesta população pouco tem evoluido, mostram também os números, e até decresceu: passou de 21% em 2021 para 20% em 2023.
Em termos de recomendações concretas, a Comissão Europeia apela a que o país prossiga com a atribuição das restantes faixas pioneiras 5G e reforce as medidas relativas à implantação do 5G.
No domínio das competências, deve adotar medidas adicionais para melhorar o número de especialistas em TIC, incluindo peritos em cibersegurança e ”incentivar os jovens (em especial as mulheres) a prosseguirem estudos e carreiras no domínio das TIC”.
O país deve ainda intensificar as medidas existentes para aumentar a intensidade digital básica das empresas e prever medidas específicas para a adoção da computação em nuvem, da IA e da análise de dados nas organizações. Apela-se ao reforço da colaboração entre os setores público e privado e com o meio académico, para melhor poder adequar o potencial destas tecnologias às necessidades das empresas.
Para levar ao terreno a sua transformação digital, Portugal planeia gastar 854 milhões de euros (0,3 % do PIB), uma verba que exclui investimento privado, diz a UE.
O Eurobarómetro Especial "Década Digital 2024" permitiu apurar mais alguns dados sobre Portugal. Por exemplo, 43% dos inquiridos portugueses acreditam que a UE protege os seus direitos digitais, ligeiramente abaixo da média da UE de 45%.
A confiança na privacidade digital é de 48%, também inferior à média da UE, e 60% dos inquiridos dizem-se preocupados com a segurança online das crianças (mais 20% que em 2023). Já 52% manifestam também preocupações com o controlo dos dados pessoais (+15%).
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