A solução da Primavera BSS para gestão de ativos e instalações empresariais (Enterprise Asset Management) vai dar origem a um spin-off. A fabricante portuguesa quer autonomizar a ferramenta do resto do negócio e já está a trabalhar no processo. Desenvolvida de origem como serviço cloud, a EAM vai ganhar uma estrutura independente para promover o seu crescimento e explorar novas oportunidades, explicou em conversa com o TeK José Dionísio, co-CEO da empresa.

A plataforma soma hoje 30 clientes e o objetivo é levá-la a novos mercados, fora do país, e para isso a Primavera quer dar-lhe uma estrutura mais competitiva e mais focada. Para concretizar o objetivo a software house está à procura de investimento, adianta José Dionísio

Já este ano a companhia usou a mesma estratégia para a área da Administração Pública, numa decisão que já nessa altura não foi inédita na história da software house portuguesa. Fê-lo para dar condições à nova estrutura de definir uma estratégia própria e tomar decisões mais focadas em três áreas principais, explica José Dionísio: definição dos parceiros com os quais quer trabalhar; escolha das soluções que quer juntar à oferta; análise de oportunidades em mercados internacionais.

A nova empresa do grupo está a posicionar-se para tirar partido das oportunidades que possam surgir no mercado português, decorrentes da introdução de um novo sistema contabilístico na Administração Pública, uma mudança agendada já para o próximo ano. Mas não só. “Esperamos que com este formato este grupo melhor se possa preparar para uma internacionalização”, defende José Dionísio, que vê nesta autonomia “uma forma de andar mais depressa”.

A equipa que transitou para a nova empresa tem cerca de 15 pessoas e já fazia parte de um grupo específico dentro da Primavera, uma unidade dedicada à consultoria que trabalha de forma mais direta com o mercado e que existe para complementar as competências da rede de parceiros. Atua sobretudo numa fase mais inicial dos projetos e soma meia centena de pessoas.   

Fora de Portugal, Espanha e os PALOP são as prioridades da nova empresa e coincidem com os mercados onde a tecnológica portuguesa hoje já tem uma presença mais forte.  “Queremos mostrar que temos a capacidade de acompanhar as entidades [públicas desses países] nesse processo” quando chegar a altura, explica ainda José Dionísio. O responsável reconhece que, sobretudo nos PALOP, ainda não há diferenças significativas na utilização de software entre entidades públicas ou privadas – nem legislação que o exija – mas defende que, mesmo assim, faz sentido “estar atento às oportunidades”.

Nesta e noutras áreas, a Primavera admite chegar a mais países mas não tem planos concretos para essa expansão, no que se refere a países. A última aposta da companhia nesta matéria levou à criação de um escritório no Dubai, em 2014. Dois anos passados a presença no Médio Oriente está a ser reavaliada e a companhia admite a hipótese de sair fisicamente do país.

A aposta no Dubai fez-se numa altura em que o mercado crescia 8% ao ano. Isso e dois distribuidores fortemente interessados em trabalhar com a software house portuguesa levaram à decisão. Neste momento, “não queremos desaproveitar o trabalho que fizemos neste tempo mas estamos a reavaliar” a manutenção da presença física, admite José Dionísio. A solução pode passar por continuar a endereçar o mercado mas à distância.

A cloud transformou o negócio das software houses

Nos últimos dois anos a Primavera tem vindo a preparar a oferta para a cloud, desenvolvendo a framework que vai usar para criar os produtos cloud native. Em algumas componentes o resultado desse esforço já deu resultados. Ao longo do ano – entre setembro e outubro - serão lançadas mais novidades nesta área, mas José Dionísio reconhece que abrir a porta à entrega de software como serviço é um passo complexo para fabricantes com ofertas completas de software de gestão empresarial, como é o caso da Primavera. Por causa desta transformação, das soluções on premise para o mundo as a service “o negócio das infraestruturas é também cada vez mais o da Primavera”, nota o responsável. “Quando vendemos serviços estamos a vender infraestrutura. É uma nova área que surgiu e que é exigente em termos de investimento”, continua José Dionísio, que identifica os três grandes campos de ação da companhia neste momento: gerir 30 mil clientes legacy Windows; criar soluções cloud native e desenvolver infraestruturas para suportar esses produtos.

Enquanto promove a sua própria transformação digital, a Primavera está a trabalhar com os parceiros, que têm de adaptar o modelo de negócio à nova realidade da cloud e a posicionar-se para ajudar os clientes a encontrarem o seu novo rumo neste desígnio, que parece ter tomado conta da indústria TI: o da transformação digital. José Dionísio defende que o tema ainda é mais um palavrão do que um ponto de partida para novas estratégias, mas vê a tendência como inevitável. O facto de Portugal ter um tecido empresarial sobretudo composto por pequenas e médias empresas aguça o desafio.

Cristina A. Ferreira