As tecnologias que procuram melhorar o apoio à área de saúde são muitas e diversificadas, abrangendo várias áreas que vão dos cuidados à gestão de processos e ligação da informação entre unidades de saúde. A GMV decidiu especializar-se na área de serviços, produtos e soluções, focando o seu conhecimento em desenvolvimento de software e em segurança e privacidade, fugindo “da área mais saturada dos sistemas de soluções de gestão”, onde existe muita oferta, como explicou hoje Pedro Lopes Vieira, responsável pelo desenvolvimento de negócio na multinacional, que já está em Portugal há mais de 20 anos.
A GMV Digital Health tem várias soluções no seu portfólio e Inmaculada Pérez Garro, Diretora de Saúde da GMV, avisa que o sector mudou muito nos últimos 5 anos, através do Big Data e Analytics, que permitiu centrar a atenção no utente de uma forma mais consistente. Pensar a saúde é hoje mais do que analisar uma única doença e um contacto, é avaliar um conjunto de informação que está ligada ao ambiente, ao contexto profissional e social, e tudo deve ser adicionado à biografia do paciente, sempre tendo em conta as questões da privacidade e da segurança, assim como do consentimento informado. “Esta é a realidade que se vive agora e para cada solução tem de haver uma integração tecnológica, ou várias”, justifica.
A saúde digital é hoje cada vez mais omnicanal, sendo gerida de acordo com o contexto e a experiência de uso. “Tem de se adaptar como um cubo de Rubick”, e a inteligência artificiar permite uma camada adicional de interpretação e relacionamento de dados complexos, adianta ainda a responsável.
O tema não é de futuro, é do presente. “A saúde digital já está ai”, afirma a responsável que define três pilares de atuação na área de Smart Health, Health Evidence e Privacy and Security.
Consultas médicas e de enfermagem por computador ou telemóvel
Dentro da oferta da GMV já existem casos de utilização em vários países, e também em Portugal há projetos a avançar. O do Centro Hospitalar Lisboa Norte é um dos projetos bandeira e Luis Salavisa, diretor do serviço de sistemas de informação do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, explicou aos jornalistas o projeto que está em curso e que deve ser implementado até ao final do ano, garantindo teleconsultas de especialidade no Hospital de Santa Maria com vantagens da eficiência dos serviços e na redução do tempo de deslocação dos utentes.
A teleconsulta é um conceito que já existe, mas com a solução Antari da GMV o Hospital vai começar a fazer consultas de continuidade a utentes, inicialmente em seis especialidades. “Muitas vezes os doentes deslocam-se ao hospital sem necessidade, para reverem as análises ou conseguirem a prescrição […] com esta solução podemos evitar trazer pessoas ao Hospital, onde têm um tempo de espera e podem encontrar doenças”, afirma.
O Hospital de Santa Maria é “uma pequena cidade” onde circulam diariamente 20 mil pessoas, e como é um Hospital de fim de linha recebe doentes de várias proveniências. O recurso às urgências tem vindo a crescer ao nível dos dois dígitos e as soluções tecnológicas são consideradas por Luis Salavisa um bom aliado para melhorar a eficiência e os cuidados aos utentes. A Teleconsulta vai estar a funcionar já em seis especialidades médicas, mas abrange também consultas de enfermagem.
“Vamos ser o primeiro Hospital Público a ter esta telemedicina em consultas”, explica Luis Salavisa que adianta que a solução permite as comunicações interativas, com acesso a audiovisuais e dados em consultas médicas, em tempo real, com um computador ou mesmo um telemóvel.
A solução vai ser também aplicada a pacientes em estabelecimentos prisionais, onde o Hospital de Santa Maria presta cuidados continuados de acompanhamento a doentes com Hepatite C e HIV. Vai ser disponibilizado um computador numa sala das prisões com condições para os utentes falarem com os médicos.
“A primeira consulta será sempre presencial, isto é para consultas de continuidade sem atos médicos envolvidos”, adiantou questionado pelo SAPO TEK, que refere que este tipo de consultas já existem muitas vezes por telefone. Em todos os casos os utentes têm sempre opção de recusar a teleconsulta e continuar com as deslocações ao Hospital, sendo que haverá sempre uma pré-avaliação sobre a existência de condições técnicas para realizar este acompanhamento à distância.
Numa primeira fase a teleconsulta vai ser usada ainda sem ligação aos sistemas de informação do GlobalCare do Hospital, ou à Plataforma de Dados de Saúde, desenvolvida pela SPMS, o que deverá acontecer em 2019.
Luis Salavisa admite ao SAPO TEK que, para já, um dos entraves à adoção de mais soluções do género é a resistência (natural) à mudança. “Aquilo estranha-se e depois entranha-se”, afirma, lembrando que quando foi lançada a prescrição eletrónica foi um caos e que agora ninguém dispensa.
“O processo [de transformação digital na Saúde] não é fácil, mas se ficarmos parados não acontece. Temos de arriscar”, defende o diretor do serviço de sistemas de informação.
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