Oeiras quer tornar-se a Silicon Valley portuguesa e nos últimos anos deu origem a um projeto para a criação de um ecossistema único onde reúne negócios, ciência e tecnologia num único “teto”, recebendo o sugestivo nome de Oeiras Valley. Segundo as palavras do presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, houve uma mudança de ambição, foco e visão do posicionamento do concelho, e a forma como quer transformar a sociedade portuguesa. Oeiras tem sido uma cidade escolhida por muitas multinacionais tecnológicas e laboratórios de investigação e desenvolvimento. E a estratégia do Oeiras Valley assenta numa economia baseada em ciência, inovação e tecnologia, de forma a atrair para o concelho empresas ligadas a estes sectores.
Embora seja fácil ver o logotipo Oeiras Valley em bibliotecas e outros espaços abrangidos pelo conhecimento e tecnologia, o ecossistema tem no seu centro cinco parques empresariais localizados em Oeiras. O principal, e maior de todos, é o Taguspark, um espaço com uma ampla área onde se instalaram PMEs, assim como sedes de grandes empresas desde os anos 1990. Ao todo, estão alojadas 150 entidades e trabalham 13 mil pessoas.
No Lagoas Park pode encontrar 14 edifícios de escritórios que albergam mais de uma centena de empresas, neste caso ligados ao sector alimentar, automóvel, banca, construção, desporto e também tecnologia. O campus tem um hotel, colégio, ginásio, centro desportivo, uma praça central com área comercial e restauração, entre outros, estimando-se um total de 5 mil trabalhadores.
A Quinta da Fonte tem 24 edifícios onde trabalham cerca de 4 mil pessoas, disponibilizando serviços comerciais e um ginásio. E as empresas residentes estão ligadas ao sector da banca, biotecnologia, automóvel, consultoria, design, farmacêutica, informática, telecomunicações e outras.
O Arquiparque envolve uma infraestrutura com edifícios com escritórios e habitacionais, mas também restauração. Aqui trabalham cerca de 1.600 pessoas nos sectores farmacêutico, saúde, informática, financeiro, telecomunicações, imobiliário, consultoria, eletrónica e cosmética. Por fim, o Campus Agrotech, inserido no Campus de Ciência e Tecnologia da Quinta do Marquês, é um campus de inovação e investigação com foco principal na Agricultura e Floresta, assim como a saúde animal e sanidade vegetal, em torno da Bioeconomia. Aqui estão entidades da I&D nacionais como o Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITBQ NOVA), o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET).
Se Oeiras é a Silicon Valley portuguesa, o Taguspark passa a “Cidade do Conhecimento”
O Taguspark é o reflexo da ambição do concelho liderado por Isaltino Morais e o seu novo posicionamento reflete-se na mudança da sua assinatura que antes era “Parque de Ciência e Tecnologia” para algo mais direto, mas ao mesmo tempo abrangente: “Cidade do Conhecimento”. Esse novo posicionamento permite salientar o que se faz no Taguspark, que é conhecimento, alinhado com o projeto Oeiras Valley para o seu território de inovação.
Em entrevista ao SAPO TEK, o CEO do Taguspark, Eduardo Baptista Correia, destaca que o campus tem características para uma cidade especial. “Uma cidade de trabalho que desenvolve riqueza e conhecimento baseado em ciência e tecnologia”, referindo que junta aos serviços, áreas de comércio e volumes significativos de produção económica. “Tudo aquilo que aqui acontece é em contexto urbano. Seja do ponto da vista das artes, do mercado tradicional semanal, na forma como as pessoas circulam, no respeito pelo espaço coletivo”, sublinha.
Eduardo Baptista Correia diz que as suas políticas de civismo colocam o Taguspark entre os referenciais europeus ao nível energético, reciclagem e dignidade laboral. “O conhecimento constitui o denominador comum na génese do desenvolvimento, permitindo-nos ir mais longe, desenvolver e alargar fronteiras”. E por isso, dentro do contexto Oeiras Valley, o Taguspark significa uma Cidade do Conhecimento.
Dando sentido ao projeto Oeiras Valley, o CEO do Taguspark refere que se trata de um grande centro de desenvolvimento científico e tecnológico de Portugal. “Aqui está instalada entre 30% a 40% da capacidade tecnológica portuguesa, um feito extraordinário e um exemplo nacional”. Eduardo Baptista Correia diz que Oeiras teve a capacidade de pensar a médio e longo prazo e de executar uma estratégia que colocou o município na rota da inovação.
“A atratividade que Oeiras hoje representa para o mundo empresarial reflete um ecossistema único para o desenvolvimento de negócios e para a criação de riqueza”, salientando a sua boa localização, excelentes acessibilidades, o que permite oferecer às empresas instaladas e pessoas que vivem no município “condições excecionais”.
O conhecimento que se produz no Taguspark
Relativamente ao Taguspark, estão instaladas cerca de 150 empresas, das quais destaca o cluster farmacêutico composto pela Novartis, Jaba, Hoya, Fresenius, Medarthrex, ASP Fortive e Daiichi Sankyo. Depois na área da tecnologia conta com a PHC Software, a maior multinacional portuguesa de produção de software. E na área da eletrónica serve de sede à LG. Ainda como referências tem a presença da Altice Portugal, o Millenium BCP, o Novo Banco e o polo do Instituto Superior Técnico mais orientado para as tecnologias.
Nem mesmo o gaming ficou de fora do polo tecnológico e a Miniclip, que é uma produtora líder mundial de jogos online está alojado na Cidade do Conhecimento. “A Miniclip está no Taguspark há cerca de 10 anos. Começou com quatro profissionais e hoje emprega perto de 300 pessoas. Vai mudar-se em breve para um edifício que está a ser construído de raiz neste momento e representa um investimento de 11 milhões de euros do Taguspark”.
O novo edifício, conhecido como Simulator II, vai permitir à Miniclip renovar as suas ambições de crescimento e expansão em Portugal, disse Eduardo Baptista Correia ao SAPO TEK. “O edifício é uma peça arquitetónica de referência e será certamente um dos melhores locais para trabalhar na Península Ibérica. A arquitetura está a cargo da Openbook, empresa de referência em Portugal para a área dos escritórios.
Eduardo Baptista Correia diz que “a Miniclip está no Taguspark há cerca de 10 anos. Começou com quatro profissionais e hoje emprega perto de 300 pessoas. Vai mudar-se em breve para um edifício que está a ser construído de raiz neste momento e representa um investimento de 11 milhões de euros do Taguspark”.
Referindo exemplos de produtos tecnológicos que são hoje um sucesso e que nasceram o Taguspark, o seu líder destaca a tecnológica Talkdesk, que oferece serviços de call center. Refere que o unicórnio português, que agora está sediado no Silicon Valley nos Estados Unidos, iniciou as suas operações em Oeiras e é atualmente reconhecido mundialmente. “A ascensão da empresa personifica a interface única que existe na Cidade do Conhecimento. A Talkdesk começou na Incubadora Taguspark através de Cristina Fonseca e Tiago Paiva, antigos alunos do Instituto Superior Técnico.
Mas o que torna o Taguspark tão atrativo para as empresas se instalarem? Para o seu CEO, este junta as peças essências para o desenvolvimento científico e tecnológico: empresas, centros de investigação, uma universidade e uma incubadora de startups de referência. “Esta interface única é o grande elemento diferenciador da Cidade do Conhecimento. Permite ao Taguspark, às organizações, aos empresários e às startups desenvolver soluções comercializáveis, com capacidade de exportação e internacionalização”.
Salienta ainda o espírito comunitário do polo, com maior proximidade e sinergias entre as diferentes empresas instaladas. Por fim, realça a excelente localização do Taguspark, por estar próximo da cidade, “mas conta com um índice bastante elevado e privilegiado de zonas e espaços verdes, e vista para o mar”. O Centro de Congressos, o Instituto Superior Técnico e uma escola internacional até ao ensino secundário são outros fatores considerados, assim como serviços, mercado tradicional, entre outros espaços de bem-estar e saúde.
O impacto da pandemia de COVID-19 no polo tecnológico
A pandemia de COVID-19 alterou por completo os hábitos profissionais dos cidadãos, remetendo-os para o teletrabalho, durante este último ano e meio. Questionado sobre se sentiu algum tipo de desinvestimento das empresas nos espaços empresariais, visto que muitas vão querer manter o regime de teletrabalho (ou misto) mesmo depois do fim da pandemia, Eduardo Baptista Correia diz que o Taguspark se encontra em pleno processo de regeneração do edificado.
Afirma que houve “um investimento de 9 milhões de euros para dotar os nossos edifícios de condições de trabalho dignas do século XXI”. Em paralelo, diz que foi inaugurada a nova sede da PHC e a obra da nova sede da Miniclip decorre a bom ritmo, sendo que o investimento total nos dois edifícios chegou aos 23 milhões de euros.
Diz ainda que estão conscientes de que a pandemia veio provocar algumas alterações na forma como se trabalha e que o teletrabalho passará a fazer parte das nossas vidas. “É inevitável. No entanto, os escritórios continuarão a ter uma importância fundamental para transmitir a cultura da empresa e o sentimento de identidade”.
Acredita que os escritórios vão evoluir e adaptar-se a uma realidade de trabalho potencialmente híbrida, oferecendo novas experiências em local de trabalho “e condições de excelência para aumentar a produtividade, o bem-estar e a felicidades das pessoas”.
Um discurso que parece alinhado com o de Isaltino Morais, que refere que o objetivo final do Oeiras Valley é captar riqueza para promover a coesão social. O município prevê investir perto de 400 milhões de euros até 2026 para dinamizar a economia, educação, habitação, ambiente e inteligência territorial.
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