A Bolt lança esta terça-feira em Portugal um nova funcionalidade que usa inteligência artificial para validar, junto dos utilizadores das suas trotinetes, se estas ficaram bem ou mal estacionadas. Para terminar uma viagem numa trotinete da Bolt, a aplicação associada passa a pedir ao utilizador que tire uma fotografia para confirmar que o estacionamento foi feito nas condições adequadas.
Com o recurso a Inteligência Artificial, a aplicação deteta a localização do estacionamento da trotinete e o posicionamento. Verifica se está a bloquear passeios, ciclovias ou saídas de edifícios e se a trotinete está numa posição vertical. “Se a trotinete estiver de facto estacionada corretamente, o condutor poderá terminar a viagem sem qualquer percalço. Caso isto não aconteça, a aplicação enviará uma notificação a informar que o veículo está mal estacionado”, explicou ao SAPOTeK Santiago Páramo, responsável de micromobilidade Bolt Portugal.
A empresa recusa-se a quantificar a dimensão do problema que está a tentar resolver e não revela a taxa de abandono ou mau estacionamento de trotinetes. Admite que a questão é muito relevante, mas acredita que a maior parte dos maus estacionamentos acontece por desconhecimento.
Num estudo realizado com um parceiro externo, 68% dos utilizadores consultados referiram que estacionavam mal as trotinetes, por desconhecimento em relação às regras de estacionamento da cidade em que se encontravam. “Com esta informação compreendemos como é de extrema importância criar formas e ferramentas de informação para todos os utilizadores”, defende Santiago Páramo, revelando que os primeiros dados recolhidos mostram uma redução de 20% nos comportamentos de estacionamento incorretos.
Algoritmo que vai “fiscalizar” estacionamento de trotinetes foi treinado com 150 mil fotografias
Portugal é o segundo país onde a Bolt implementa a solução. O primeiro foi a Suécia, mesmo que a empresa não confirme se Portugal é ou não uma das capitais onde este tipo de transporte é usado de forma menos cívica. “Os hábitos de estacionamento variam de cidade para cidade, mas é seguro dizer que este é de facto um dos maiores problemas e desafios, para qualquer operador de trotinetes”, reconhece apenas o responsável da Bolt.
Para poder lançar esta nova funcionalidade suportada em IA, os engenheiros da empresa - a solução foi toda desenvolvida in house, na sede da empresa na Estónia - usaram um algoritmo que foi “treinado” com mais de 150 mil fotografias de trotinetes, tanto correta como incorretamente estacionadas, para poder aprender a discernir os vários cenários.
Espera-se que o resultado final seja uma via para ajudar os clientes mais distraídos com as regras de estacionamento, mas também uma ferramenta importante na gestão de uma solução de micromobilidade que continua a crescer na utilização. Para quem usa a aplicação, pouco muda.
A inteligência artificial não traz mais complexidade à utilização da app, que já pedia a recolha de fotos. Já a empresa que gere a frota ganha a possibilidade de melhorar a capacidade de análise dessa informação. Antes fazia-o com a ajuda de operadores humanos. Agora passa a fazê-lo em tempo real e a poder interagir com os clientes de forma imediata, para pedir a correção de opções de estacionamento menos próprias.
E o que acontece a quem mesmo avisado estacionar mal? “Para já, os nossos utilizadores continuarão a poder terminar a viagem mesmo que a IA aponte para o mau estacionamento da trotinete, porque ainda há algumas imprecisões que estamos a trabalhar para corrigir. A acrescentar a esta notificação, é também enviado um e-mail para o utilizador com informação didática sobre como estacionar devidamente a trotinete”, explica Santiago Páramo
A Bolt também não quer falar na possibilidade de ir construindo uma espécie de cadastro para quem reiterar más práticas de estacionamento. A empresa está convicta que a maior parte dos estacionamentos incorretos derivam da falta de conhecimento e, como tal, acredita que sensibilizar e educar vão chegar para reduzir drasticamente o fenómeno.
Novas estações de carregamento da Bolt chegam até ao final do ano
Sem divulgar a dimensão da frota, a Bolt vê Portugal como um caso de sucesso. “O que me continua a espantar é a adesão massiva dos portugueses às nossas soluções de micromobilidade, tanto às trotinetes como às bicicletas elétricas”, reconhece o responsável de micromobilidade, da startup que no ano passado começou a instalar em Portugal um centro de desenvolvimento.
Em pouco mais de um ano, a Bolt aumentou a presença em Portugal de uma para seis cidades. Ao nível de adesão dos portugueses, a empresa quer responder com incentivos para a troca do carro ou outro meio de transporte por este tipo de soluções, algo que em Portugal tende a ser bem recebido, mesmo que o incentivo em questão seja apenas a elevada disponibilidade de trotinetes partilhadas.
Um estudo da própria Bolt, divulgado no início do ano, mostrava que os portugueses são dos mais disponíveis para trocar o carro por uma trotinete nessas condições. Em Lisboa, por exemplo, a oferta abundante destes serviços fez aumentar em 210% a preferência por uma trotinete para viagens com duração inferior a três quilómetros.
O caminho para responder a este interesse e fazer expandir serviços de micromobilidade como os da Bolt, defende Santiago Páramo, passa por assegurar as infraestruturas necessárias e apostar em parcerias estratégicas, lembrando que muitos municípios estão já a criar incentivos e a lançar projetos-piloto para promover a mobilidade sustentável.
Em Lisboa, e no âmbito de uma parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e os Transportes Metropolitanos, os serviços da Bolt já podem ser adicionados aos serviços cobertos pelo Passe Navegante, por um acréscimo de 15€ ao valor mensal do passe.
No que se refere às infraestruturas, a empresa também tem planos para breve. “Uma novidade sobre a qual poderei começar a levantar o véu será a da introdução de estações de carregamento para as nossas soluções de micromobilidade”, adianta Santiago Páramo.
“Estas virão contribuir para um estacionamento mais organizado e um processo de carregamento mais eficiente”, antecipa o responsável, estimando que a solução, já disponível na Estónia, deve ser implementada também em Portugal, ainda antes do final do ano.
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