Durante a campanha eleitoral, Donald Trump, que venceu as eleições presidenciais norte-americanas esta terça-feira, prometeu retomar a guerra comercial com a China, ameaçando aplicar direitos aduaneiros de 60% sobre todos os bens provenientes daquele país. Isso é quatro vezes mais do que os impostos que provocaram o pânico da indústria tecnológica durante o seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021.
Os direitos aduaneiros são um imposto aplicado às importações que podem incidir sobre uma percentagem do valor das mercadorias ou unidades de medida. São barreiras às importações e, neste caso, destinam-se a desincentivar o comércio entre os EUA e outras potências adversárias, como a China.
Durante a campanha, Mary Lovely, do Peterson Institute for International Economic, que já transmitira anteriormente ao Congresso as suas preocupações sobre estes impostos, analisou os números no caso de uma vitória de Trump. Em agosto, foi coautora de um relatório que estimava que custaria a “um agregado familiar típico dos EUA mais de 2.600 dólares por ano” se Trump tomasse posse e seguisse os seus planos de direitos alfandegários, que também incluem uma tarifa universal de 20% sobre todas as importações de qualquer país, explica uma notícia da ArsTechnica.
Incluem-se nestas estimativas todos os bens importados afetados pelos direitos aduaneiros e não apenas os produtos eletrónicos, muitos dos quais, para já, estão isentos desses impostos. “Os direitos alfandegários são um imposto regressivo que recai mais fortemente sobre os americanos menos abastados”, disse, em maio, Mary Lovely, ao Congresso. “Como pode ser justo que as tarifas sejam cobradas sobre produtos vendidos no Walmart, mas não sobre computadores sofisticados vendidos em lojas especializadas?”
Já este mês, a CTA publicou um relatório no qual concluiu que a promessa eleitoral de Trump “vai contribuir para aumentos significativos”, provavelmente quase duplicando o preço dos laptops. As consolas de jogos poderão subir 40% e os smartphones 26%.
Atualmente, as empresas tecnológicas debatem-se para encontrar alternativas para a cadeia de abastecimento, enquanto os custos de fazer negócios com a China continuam a aumentar e cada nova administração muda os objetivos, lê-se no mesmo artigo da ArsTechnica.
O vice-presidente de Comércio Internacional da CTA, Ed Brzytwa, disse à ArsTechnnica que os aumentos que se antecipam, tornam “proibitivo” fazer negócios com a China, sugerindo que as tarifas propostas por Trump pretendem “bloquear as importações” e não salvaguardar a tecnologia americana.
Quando se irão concretizar os aumentos anunciados em campanha que se irão refletir no aumento dos preços ao consumidor? Não é ainda claro. Dependerá dos fabricantes que terão de escolher entre continuar a fazer negócio com a China ou considerar outras alternativas. O estratega do sector tecnológico e fundador da Tirias Research, Jim McGregor, disse à ArsTechnica, antes das eleições, que, se Trump fosse eleito e as tarifas aplicadas, o impacto poderá fazer-se sentir dentro de alguns meses.
A maioria destes direitos aduaneiros foi inicialmente implementada por Donald Trump por meio de uma série de ações executivas com início em 2018 e tornaram-se permanentes em maio deste ano. Este imposto aplica-se “não só a quase 50% dos produtos tecnológicos de consumo acabados, mas também aos componentes necessários para fabricar esses produtos nos Estados Unidos”, explica a mesma notícia.
Donald Trump afirmou, no anterior mandato, que, “a China paga os direitos aduaneiros”, mas na realidade, “esse imposto é pago pelas empresas e pelos cidadãos dos EUA sempre que estes pretendem comprar um bem restrito à China”, explica uma notícia do ArsTechnica. Na prática, o custo do imposto é retirado da margem de lucro da venda dos produtos e, no limite, levar ao aumento dos preços de smartphones, laptops, tablets e consolas de jogos.
No entanto, os produtos tecnológicos mais populares estão agora isentos do pagamento dos direitos alfandegários. Em 2019, a Consumer Technology Association (CTA) em parcerias com marcas como a Microsoft, a Nintendo e a Sony opuseram-se à aplicação deste imposto e resultou. A categoria de produtos mais beneficiados foram os smartwatches, transmitiu, Mary Lovely, do Peterson Institute for International Economics ao Congresso no início deste ano.
A administração Biden também anunciou novos direitos aduaneiros focados em veículos elétricos, semicondutores, componentes de bateria e minerais críticos utilizados no fabrico de tecnologia, bem como sobre produtos demasiado baratos que contornam as regras alfandegárias adquiridos na Shein, na Temu entre outras.
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