Durante anos a Huawei cresceu e chegou a ameaçar a liderança da Samsung a nível global em vendas de smartphones. Mas o embargo imposto pelos Estados Unidos, que acusava a fabricante de ligações ao governo chinês o que colocava em causa a segurança nacional, levou a que fosse impedida de utilizar tecnologia e software de empresas americanas. A ação atirou a Huawei para um abismo, numa cambalhota de eventos que a impediram de aceder à tecnologia 5G ou mesmo aos serviços da Google.
A empresa chinesa procurou expandir outros negócios enquanto preparava o seu regresso aos grandes palcos. E conseguiu novamente conquistar o mercado doméstico e passar a Apple com o Mate 60 e depois com o Pura 70, equipamento que continua a ser considerado com a melhor câmara fotográfica do mercado, segundo a DXoMark.
Com a recuperação do hardware, a Huawei assumiu uma posição mais “provocadora”, apontando mesmo que a empresa inovou mais em 10 anos que a Europa em 30 e voltou a demonstrar que não precisa dos serviços da Google com o seu próximo sistema operativo, o HarmonyOS Next.
A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos continua ao rubro. De um lado a China terá pedido às operadoras de telecomunicações do país para retirar os chips estrangeiros dos seus equipamentos, substituindo a tecnologia da Intel e AMD. Do outro, os Estados Unidos procuram apertar o certo à Huawei e adicionar outras empresas chinesas na lista negra. E em maio foram revogadas novas licenças de exportação de tecnologia para a empresa. A China voltou a responder com a criação de um fundo de investimento direcionado ao sector dos semicondutores, com o foco de alcançar a autossuficiência na tecnologia.
A Huawei parece agora gravitar em torno dos embargos e continua a mostrar que os seus novos equipamentos são inovadores e são desejados. Exemplo disso foi o recente anúncio do Mate XT, considerado o primeiro smartphone dobrável com ecrã tripartido no mercado e que só na China terá registado 2,3 milhões de reservas, mesmo a um preço acima dos 2.400 dólares.
Expansão da IA com “ajuda” da TSMC?
O certo é que a evolução da recuperação da Huawei tem levantado suspeitas de que a fabricante chinesa tem contornado os embargos e acedido a tecnologia “proibida”. As mais recentes acusações chegam do republicano John Moolenaar, chairman da Comissão do Congresso dos Estados Unidos que chama à situação de “falha catastrófica” das políticas de controlo das exportações.
O comentário surge que a gigante Taiwan Semiconductor Manufacturing Corporation (TSMC) poderá estar envolvida no crescimento no desenvolvimento de chips com inteligência artificial da Huawei, naquela que terá sido um grande contorno nos controlos dos produtos exportados dos Estados Unidos.
“Os relatórios de que os chips inovadores produzidos na TSMC contribuíram para o desenvolvimento da Huawei AI representam uma falha catastrófica nas políticas de controlo de exportação dos Estados Unidos”. Acrescenta que esses aceleradores de IA disponíveis nos chips causaram danos e terão consequências significantes para a segurança nacional dos Estados Unidos.
O congressista pede respostas tanto do Departamento de Comércio como da TSMC sobre o volume e extensão do caso e ainda que o governo dos Estados Unidos tome as medidas imediatas para garantir que isso não volte a acontecer.
A polémica começou com uma reportagem do The Information de que o Departamento de Comércio dos Estados Unidos estava a investigar se houve ou não produção de chips de IA para a Huawei, o que seria uma quebra ao embargo. Em causa está a encomenda à TSCM por um cliente de chips que seriam semelhantes ao IA Ascend 910B da Huawei. Um exame ao chip da Huawei revela que este foi fabricado pela TSMC através do processo de 7 nm e que serve para treinar modelos de linguagem, lê-se no Financial Times.
A TSMC “chutou para canto”, dizendo que comunicou, de forma proactiva, ao regulador que foram feitas encomendas semelhantes ao chip em questão. Suspeita-se que tenha sido uma empresa que funciona como “procuradora” da Huawei para submeter as encomendas na fabricante de chips para contornar as sanções, tendo pago várias centenas de milhões de dólares pela produção da tecnologia.
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