A APDC assina esta ano o seu 40º aniversário e no Congresso anual levou ao palco três gerações de líderes históricos da maior associação do sector que, como contou o presidente fundador Sequeira Braga começou com 100 ou 150 associados. “Quando criamos a associação estávamos a tentar recuperar dos atrasos que tínhamos na telefonia e no telex”, lembrou o responsável.

“Nascemos numa época (para as telecomunicações) em que não se falava ao telefone. Quem queria fazer uma chamada tinha de lugar com a telefonista. O país estava num caos” e as comunicações estavam longe de favorecer o crescimento da economia, como veio a acontecer uns anos mais tarde, lembrou também Graça Bau.

Quarenta anos depois, as mudanças são inegáveis. Vai longe o tempo em que um engenheiro português criou o primeiro cartão de telemóvel do mundo, como ali se lembrou, o ano em que a Via Verde foi inventada, ou a altura em que os telemóveis eram tão grandes que se transportavam à tiracolo. A tecnologia mudou e o sector também mudou e para Graça Bau não mudou para melhor, em algumas áreas.

“As telecomunicações estão a transformar-se em gestores de dinheiro. A missão já não é promover o desenvolvimento para ir buscar dinheiro mais tarde é ir buscar dinheiro hoje”, lamentou o gestor, que esteve mais de 30 anos na antiga Portugal Telecom e mais de 10 à frente da TV Cabo, que liderou a inovação nos serviços de televisão em Portugal durante vários anos.

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“A implosão da PT prejudicou muito o desenvolvimento do sector em Portugal”, defendeu Graça Bau. “Hoje as telecomunicações, na ambição que tinha para elas de serem motor de desenvolvimento económico, estão a perder força”. Tiveram esse papel durante vários anos em sectores fundamentais da economia, hoje não têm e isso teria um poder verdadeiramente transformador, em áreas como a saúde ou a educação. “Estamos a investir milhares de milhões em educação mas os professores não estão preparados para trabalhar com tecnologia”, exemplificou.

Mais otimista, Sequeira Braga vê com ânimo a posição do mercado português das comunicações na comparação com o exterior em termos de inovação, tanto na engenharia como nos serviços, mas sublinha o peso da questão demográfica.

“Falta-nos demografia. Estamos com um problema gravíssimo a esse nível e com 500 mil licenciados emigrantes. Estamos a financiar os licenciados na Europa a baixo custo”, sublinhou.

São precisas medidas urgentes para inverter a tendência e dar às empresas os recursos que precisam para continuarem a inovar e a posicionar-se num mercado cada vez mais global.

Pedro Norton também participou neste painel. O responsável que liderou a associação durante os anos da pandemia é reconhecido o seu papel na aproximação dos sectores de telecomunicações e media, de onde veio. Lembrou o legado do já falecido Diogo de Vasconcelos, a quem sucedeu, para a associação e o sector e como associação tentou aproveitar um período de grandes desafios da pandemia para mobilizar o setor a apresentar a contribuir com ideias para medidas que otimizassem o sector público. Na altura foi lançado um estudo sobre o tema.

Sob a liderança de Rogério Carapuça, a APDC está novamente a abraçar o mesmo desafio, com o lançamento neste Congresso de um documento que reúne medidas em seis eixos, para relançar Portugal na economia digital a nível europeu.

“Acreditamos que devemos pôr no terreno algumas medidas verdadeiramente diferenciadoras”, sublinhou o responsável entrevistado no evento, considerando que fazem mais falta medidas concretas, do que planos longos e detalhados que na prática não produzem resultados.

Há muito dinheiro desperdiçado em iniciativas não transformacionais”, acrescentou Carapuça, e as propostas da APDC visam agilizar a economia, mas também contribuir para acelerar a verdadeira transformação digital do Estado. Olham ainda para o vector da formação onde, como lembrou o responsável, “temos 55% de pessoas com competências digitais básicas e isso não é suficiente”.

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