A intervenção do comissário europeu era um dos pontos antecipados nas conferências do Mobile World Conference (MWC), a principal conferência de tecnologia e telecomunicações na Europa que hoje abre portas e que é organizada pela associação que junta mais de 750 operadores de todo o mundo. A consulta pública lançada na semana passada volta a trazer para a mesa de negociações o tema do pagamento das Big Tech (leia-se Google, Meta ou Netflix) pela utilização das infraestruturas das telecomunicações, e o investimento na infraestrutura que deve sustentar a visão Gigabit da União Europeia, ligando até 2030 toda a população europeia com redes de alta velocidade.

Na sua intervenção durante a abertura do MWC, Thierry Breton destacou a importância de apostar nesta indústria e de conseguir que a Europa esteja na liderança da inovação, nas redes de fibra e no 5G e 6G. Mas garante que o seu propósito não é fomentar uma guerra entre as Big Tech e as Big Telecom

"Temos de nos perguntar como chegar a este objetivo da sociedade Gigabit, como é feito e investimento e como garantir que é eficiente. E se a regulação está adaptada a este novo modelo no mercado único", defendeu o comissário europeu, explicando que esta não é uma escolha binária entre quem fornece as redes e que as usa para fazer chegar os conteúdos aos consumidores.

Para o executivo europeu, é preciso encontrar um modelo de financiamento das redes que respeite os elementos fundamentais, da liberdade de escolha para os utilizadores finais e a neutralidade das redes, assim como a liberdade de oferecer serviços num mercado equilibrado. E deixou claro que para ele o que é mais importante é que os cidadãos tenham conetividade em todo o lado, e com boa qualidade.

Ainda assim lembra que a conetividade tem de se fundir com a transmissão de conteúdos, alojamento de dados e computação.

"A indústria de telecomunicações tem de fazer uma mudança radical. A Europa vai ter um papel de liderança na transformação 4.0", destacou Thierry Breton.

O governo dos Países Baixos já criticou a possibilidade da Europa impor uma taxa de passagem de internet a empresas de tecnologia, defendendo que uma medida semelhante pode violar as regras da neutralidade da internet e provocar uma subida de preços para os consumidores europeus.

A Comissão Europeia tem na mira as empresas que fornecem serviços ao consumidor, como a Google ou a Meta, dona do Facebook e Instagram, mas também os hyperscallers, empresas como a AWS ou a Microsoft, com grandes datacenters baseados em Cloud que estão a tirar partido da sua posição neste mercado para entrar no mercado das telecomunicações, com modelos de negócio fechados.

O tema da consolidação das telecomunicações entre diferentes países foi também abordado, sobretudo face às críticas das operadoras que defendem que os negócios são difíceis de concretizar face às regras que impõem autorizações e implementação das empresas nos vários países. O comissário europeu defendeu que existem benefícios num mercado integrado de recursos escassos, como o espectro de rádio, e alerta que isso pode atrasar o desenvolvimento do potencial europeu de inovar nas comunicações em comparação com outros países.

Ainda assim Thierry Breton mostrou-se confiante na possibilidade da Europa liderar na tecnologia 6G e deixou uma mensagem de confiança à indústria das telecomunicações.

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