Mais de um milhão de casas passadas com tecnologia de fibra é o número certificado pelo FTTH Council Europe para a infra-estrutura em Portugal até Dezembro de 2009, um número que cobre os objectivos definidos pelo Governo para as redes de nova geração, mas que sobe nas contas dos operadores, que consideram a oferta através de outras tecnologias, no modelo de neutralidade tecnológica defendido.

Os principais operadores a investir nesta área subiram hoje ao palco da maior conferência internacional sobre fibra, que se realiza em Lisboa, para mostrar as suas experiências, que colocaram Portugal no mapa da Europa e permitiram entrar no ranking dos países com maior penetração da tecnologia.

José Sócrates já tinha salientado ontem, na abertura oficial da conferência, que Portugal quer ser um dos primeiros países europeus a ter uma cobertura integral do território com redes de nova geração. Um objectivo que foi reforçado hoje por Paulo Campos, secretário de Estado das Obras Públicas e Comunicações, que garantiu que esta é uma "aposta absolutamente decisiva" para o país e recordou que apenas há duas décadas atrás Portugal estava na cauda da Europa na maioria dos indicadores das telecomunicações.

A criação de condições para incentivar o investimento nas redes de nova geração passaram pela criação de um quadro regulatório previsível, de legislação e condições para a eficiência do investimento. "Com estes passos Portugal conseguiu caminhar e evoluir nesta matéria", garante o secretário de Estado que refere números já antes citados de mais de 100 mil empregos lados às RNGs e os 500 milhões de euros investidos em 2009 pelos operadores.

As redes rurais, cujos concursos já foram adjudicados, são um dos projectos-bandeira do Governo, com o envolvimento de 139 concelhos, que permitirão ligar 800 mil casas e 1,2 milhões de pessoas.

Xavier Rodriguez-Martin, CEO da ONI, definiu como tema da sua apresentação "Não pode haver só elefantes na selva", mas as alegorias animais não foram mais referidas na sua apresentação, onde se centrou no modelo de negócio da empresa que lidera e do espaço que acredita existir para as diferentes opções de investimento e estratégias de oferta.

40% das receitas da Oni já são oriundas de acesso em fibra, mas o CEO da Oni continua a antever "um futuro brilhante" para a tecnologia, que poderá ter um papel relevante na recuperação económica.

"As redes de nova geração são uma oportunidade para rever paradigmas tradicionais", sublinha Xavier Rodriguez-Martin, mas alerta que temos de encontrar novas respostas para os novos ecossistemas, mesmo do lado da regulação, onde alerta que existe o risco de re-monopolização.

Do lado da Zon e da PT foram visíveis as diferenças que já se mostram sobre o conceito do que é oferta de fibra, mas ambos os oradores se demoraram nas explicações técnicas que tornaram bem claro as opções definidas por cada um dos operadores.

Luís Lopes, COO da Zon Multimédia, voltou a garantir que a empresa tem a maior rede de nova geração em Portugal, que cobre 70 por cento das casas portuguesas, com 2,5 milhões de casas passadas com tecnologia DOCSIS 3.0, que permite velocidades de 200 Mbps. A empresa já está a investir em GPON, para chegar ao 1GB, e tem essa tecnologia em demonstração na feira, com a implementação da Alcatel-Lucent.

O investimento na infra-estrutura da rede permite à Zon ter um "fat pipe" e multiplicar por oito a capacidade de rede disponível para cada cliente até ao final do ano. A arquitectura é assumidamente híbrida, mas Luís Lopes justifica a opção com a racionalidade do investimento. "fazemos o upgrade da rede coaxial de acordo com as necessidades (…) é a maneira óptima de investir de forma eficiente", defende. No final os custos de upgrade da rede serão 2 vezes menores num cenário a três anos.

Apresentado por Diogo Vasconcelos, moderador do painel, como "um homem de fibra", Luís Alveirinho, director de planeamento e implementação de rede da PT detalhou o investimento da empresa no último ano e os desafios de instalar fibra para um milhão de casas num espaço tão curto. A aposta na tecnologia GPON é clara e definida como a mais eficiente, com garantias de crescimento futuro. Mas uma das preocupações da PT, que não traçou para já dados sobre a continuação do desenvolvimento desta infra-estrutura, é "encher o canal" com conteúdos e serviços.

Como já se sabia, o Meo é a peça central, não só na conjugação do serviço triple play com TV, Internet e telefone, mas também como "service enabler", permitindo a distribuição de serviços de home control, domótica e vigilância.

Numa visão mais macro, Manuel Ramalho Eanes, administrador executivo da Optimus, foi muito expressivo quanto à qualidade dos serviços e da rede da operadora, mas parco em números de clientes e de casas passadas, referindo que a empresa tem 33 por cento da quota de mercado do FTTH em Portugal e que 17por cento das casas já têm fibra, mas ficando pouco claro se estava a referir-se apenas às ligadas na rede da Optimus.