A sustentabilidade do sector dos media dominou o debate do Estado Nação do sector, no 33º Congresso da APDC. As receitas de publicidade, um dos grandes motores de financiamento do sector, têm vindo a crescer mas esse crescimento não beneficia os ditos meios tradicionais. Vai direto para as plataformas digitais.

“O mercado da publicidade, neste momento, não chega para ninguém. 2024 será o ano em que as plataformas digitais vão ultrapassar as televisões de sinal aberto em receitas. Enquanto isso, o mercado digital está a crescer a dois dígitos”, sublinhou Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital no debate.

No mesmo palco estiveram os responsáveis da Impresa, RTP e Medialivre, que lança um novo canal de notícias a 17 de junho. Todos concordam que não está ao alcance de nenhum autor nacional travar, nem mesmo moderar, o impacto das grandes plataformas digitais na distribuição destas receitas.

“É muito difícil competir com as grandes plataformas europeias se não houver uma regulação europeia que ajude a uma distribuição mais justa, onde os players nacionais estejam mais defendidos. De contrário não temos hipótese”, defendeu o CEO da Medialivre, Luís Santana.

As estratégias para concorrer num mercado cada vez mais povoado de novos concorrentes fora do espectro “tradicional”, com os hábitos de consumo de conteúdos de TV em profunda transformação, podem passar pela criação de plataformas próprias (como a SIC fez com a Opto) ou pelas parcerias (como tem a Medialivre com a Amazon Prime Video). Este último, é um caminho que a RTP também já experimentou, com a distribuição da série Rabo de Peixe pela Netflix “e não nos caíram milhões daí”, admitiu Nicolau Santos, para quem a melhor estratégia passaria mais por entendimento entre operadores nacionais.

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Uma cooperação deste tipo “para desenvolver determinadas áreas de atividade seria importante e possível” e uma via para criar uma oferta com peso internacional, defendeu o presidente da RTP. “O caminho é difícil e só a união entre os operadores nacionais é que pode ajudar a trazer alguma sustentabilidade ao sector”, acrescentou o responsável, que também defendeu o financiamento público de grupos privados de media, como forma de ajudar a manter uma imprensa livre e diversificada, indispensável para combater os fenómenos da desinformação.

Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa, acredita que o tempo ainda é mais de perguntas do que de respostas, no que se refere aos modelos digitais para os conteúdos de TV.

“Lá fora só há um vencedor neste mundo do streaming que é o Netflix. Com uma estratégia e capacidade de adaptabilidade muito forte”, lembrou. Em Portugal, pela dimensão, o desafio de encontrar um modelo rentável para estar nos novos canais preferidos dos espectadores é ainda maior, reconheceu o responsável do grupo que mantém a Opto.

Olhando para o que acontece lá fora, Pedro Morais Leitão, da Media Capital, encontra outros sinais iminentes de novas ameaças aos players “tradicionais”. “Os principais grupos de media nos EUA estão fundir plataformas desportivas numa única, que é um sinal do que aí vem”. Silenciosamente, a Amazon está a replicar a posição de gigante do comércio eletrónico na distribuição de vídeo, com uma quota já próxima da Netflix, alertou também este responsável, reconhecendo o interesse do grupo em lançar a sua própria plataforma de conteúdos em streaming. “Gostaríamos de também trilhar este espaço, mas ainda não vimos caminho para isso”.

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