O relatório Draghi agitou as águas quando nas várias mudanças que apontou como necessárias à Europa para reforçar a competitividade face a outras regiões do globo, incluiu a consolidação nas telecomunicações. O documento sublinhava que as regiões do globo com operadores mais fortes e de maior músculo financeiro não têm mercados tão fragmentados como o europeu.

Sugeria que operadores mais fortes têm maior capacidade de investir em inovação, promover o desenvolvimento do mercado e da região e apelava à abertura de espaço regulatório para operadores transnacionais. Os operadores históricos e mais fortes aplaudem a visão. Os novos entrantes defendem que menos concorrência não é um incentivo para inovar nem para investir mais, mas um convite para manter posições confortáveis.

Um novo estudo vem agora mostrar que ambos os argumentos estão certos, em parte. Há vantagens em mercados maiores, principalmente ao nível dos preços para os clientes. Há mais investimento nos países com menos operadores, mas só em algumas áreas.

Uma das grandes conclusões da pesquisa é por isso que os mercados precisam de mais do que consolidação para serem equilibrados. Esse efeito resulta de um conjunto de ferramentas políticas específicas capazes de atender às diferenças de um “bloco com contextos de mercado muito diversos”.

Fusões e Aquisições que têm animado o sector nos últimos 24 anos
Fusões e Aquisições que têm animado o sector nos últimos 24 anos créditos: Oookla

A análise da Speedtest Intelligence (Ookla), que olha para o mercado móvel e compara realidades com três e quatro operadores (de rede), acaba por concluir que: não é possível concluir que a consolidação resolve todos os problemas e cria operadores e mercados mais fortes. Em alguns casos, ajuda, noutros o impacto desse músculo financeiro adicional (ou falta dele, no caso dos países onde a disputa de preços consome muitos recursos) é mais difícil de perceber.

A primeira conclusão da pesquisa A Reality Check on Telecom Consolidation in Europe é "pró-Draghi": “os mercados de comunicações móveis com três intervenientes, na UE e noutros países de rendimentos elevados, apresentam melhores resultados em termos de desempenho da rede e de sentimento dos consumidores”.

A análise revelou que entre os dez principais países europeus em velocidade média de download, no segundo e terceiro trimestres de 2024, sete têm três operadores. Em regra, nos mercados europeus de três operadores considerados na pesquisa as velocidades médias de download são 56% superiores às dos mercados de quatro operadores.

Os outros três (Dinamarca, Suécia e França) têm quatro intervenientes que partilham redes entre si (espetro, infraestruturas ou estações-base) a um nível superior àquilo que acontece na maioria dos outros mercados de quatro operadores.

Já no que se refere à cobertura do 5G, a pesquisa conclui que o nível de concentração não é um indicador sólido de resultados. “Os fatores socioeconómicos, como a distribuição da população e o desenvolvimento económico, têm um maior impacto nas métricas relacionadas com o alcance global da rede”. Assim, verifica-se que os países mais ricos e mais urbanizados são aqueles onde se verificam condições de investimento mais propícias a este tipo de infraestruturas.

Sobre o mesmo tema, os autores do estudo ainda destacam que nos mercados com quatro intervenientes, as disparidades na disponibilidade global de 4G entre os operadores com melhor e pior desempenho tendem a ser mais acentuadas do que nos mercados com três intervenientes.

Por outro lado, verifica-se que mais concorrência conduz a preços mais baixos nos dados móveis. O custo médio por gigabyte para o consumidor em mercados altamente concentrados “é quase cinco vezes superior ao dos mercados pouco concentrados”, refere-se apontando aos países analisados onde existem três operadores.

Em conclusão, o estudo defende por isso que “não existe um perfil de concentração único que optimize uniformemente a qualidade da rede e os resultados em termos de preços para os consumidores em todos os países”. Para o provar dá o exemplo da Dinamarca, onde existem quatro operadores e a velocidade média de download nas redes móveis é elevada e o dos Países Baixos, onde só existem três operadores e acontece o mesmo.