As mulheres estão cada vez menos interessadas nos cursos superiores na área da tecnologia e o Departamento de Inovação, Ciência e Tecnologia (DICT) da Universidade Portucalense (UPT) receia que a sua fraca representação em lugares de decisão neste sector possa comprometer o desempenho da economia global nos próximos anos.

Este foi um dos motivos que levou a Universidade a avançar com um prémio especial para a melhor mulher concorrente na 7ª edição do seu 'Prémio de Programação', dirigido a estudantes do Ensino Secundário.

[caption]Filomena Castro Lopes[/caption]Filomena Castro Lopes, Directora do Departamento de Inovação, Ciência e Tecnologia da Universidade Portucalense, admite que a visão que é incutida no Ensino Secundário, de que a Informática se resume a programas de processamento de texto e de cálculo, pode estar na base do actual desinteresse das mulheres pelos cursos tecnológicos.

Se há dez anos as mulheres representavam cerca de 50% dos alunos dos cursos tecnológicos da Universidade, este ano não houve registo de uma única inscrição feminina, o que aumentou a preocupação com o tema.

Em entrevista ao TeK, realizada por email, Filomena Castro Lopes detalha a sua visão e os projectos desenvolvidos.

TeK: As mulheres continuam afastadas dos cursos superiores mais ligados às tecnologias. Qual o impacto que este afastamento pode ter a médio prazo?

Filomena Castro Lopes:
São atribuídas às mulheres algumas características não tão nítidas nos homens como criatividade, espírito crítico e organização. Estas características são fundamentais em qualquer área e em particular nas TI.

TeK: Quais são, na sua perspectiva, os factores que ditam esta falta de interesse das jovens pelas TI?

F.C.L.:
As tecnologias de informação são apresentadas às jovens como utensílios, numa perspectiva muito hard (máquina). A parte interessante que está por detrás da máquina, ou seja, o que estas permitem fazer (resolver problemas, dar resposta a necessidades da sociedade e até potenciar a sociedade com novas realidades) não é explorada no ensino básico nem no secundário.

TeK: De que forma se pode combater este afastamento?

F.C.L.:
Para combater este afastamento é necessário apresentar aos jovens, durante a sua formação, as TI de forma diferente. As TI são hoje uma importante área de conhecimento e com um papel muito relevante para o desenvolvimento da sociedade. Esta deveria ser uma área de saber mais presente no ensino básico e secundário e com programas mais apelativos. No entanto, em vez de se aumentar as disciplinas nesta área, no ensino básico e secundário, temos vindo a observar uma redução.

TeK: A UPT tem vindo a promover iniciativas para dinamizar a participação de mulheres nas TI. Quais são os resultados já obtidos?

F.C.L.:
A UPT começou a interessar-se por este fenómeno pois todos os anos observa a ausência de mulheres nos cursos das áreas das TI. Ainda é cedo para falar em resultados das iniciativas que estamos a promover. No entanto, a preocupação não é partilhada pelas empresas portuguesas, apesar de haver programas europeus preocupados com a falta de presença de mulheres nas profissões de TI. A necessidade de tomar medidas para cativar as mulheres para carreiras na área das TI também é uma preocupação da Agenda Digital da Europa da Comissão Europeia.