O FTTH Council Europe acredita que é preciso dar um novo passo para o desenvolvimento da fibra óptica na Europa. À medida que as infra-estruturas são criadas - e perante uma taxa de adesão dos assinantes relativamente baixa - os conteúdos e serviços que ajudem a "encher" a largura de banda disponível são considerados essenciais para atrair mais utilizadores.

O TeK falou com Hartwig Tauber, director geral do FTTH Council Europe, para perceber o que está a ser feito neste sentido, quais os serviços com maior potencial e o papel do Governo.

Tek: Como pode a FTTH promover o desenvolvimento de conteúdos e serviços necessários para dinamizar a utilização da fibra. Estão a criar parcerias nesse sentido?
[caption]Hartwig Tauber[/caption]Hartwig Tauber:
O conselho europeu do FFTH já fez uma grande mudança, passando de uma organização puramente focada na tecnologia, focando-se na forma de implementar a fibra, para uma organização preocupada com o que se pode fazer com a fibra, que é um dos pontos centrais desta conferência, onde empresas como a Microsoft e a IBM falam em como podemos "encher o canal" e tirar partido da fibra.
Estamos a fazer isto também do ponto de vista institucional, abrindo as portas da organização à indústria, aos broadcasters e produtores de conteúdos, para trabalhar com eles no sentido de perceber que novos serviços, aplicações e conteúdos podem ser melhorados ou desenvolvidos com a fibra.
O que vemos é que há serviços que podem ser melhorados com a nova infra-estrutura, como o teletrabalho ou a educação à distância, que já são falados há pelo menos 20 anos mas que agora acreditamos que a fibra poderá concretizar, ao retirar alguns dos impedimentos que existiam, das dificuldades de ligação e da velocidade.
Gosto de usar um exemplo recente nesta área, que está relacionado com os fortes nevões que afectaram a Europa este inverno. Assistimos a duas situações diferentes: no Reino Unido foram comunicadas as perdas de produtividade causadas pelo facto dos profissionais não terem podido trabalhar, enquanto um operador holandês fez um comunicado a dizer que o problema com a neve fez com que três vezes mais pessoas trabalharam a partir de casa, mantendo a produtividade habitual e sem disrupção as empresas. A diferença entre os dois é que enquanto no Reino Unido a implementação de redes de fibra está muito atrasada - e o Governo definiu a sua meta de ligação nos 2Mbps, na Holanda as infra-estruturas estão disponíveis em grande parte do país.

TeK: E qual é o papel dos Governos no desenvolvimento de novos conteúdos e serviços para a fibra?
H. T.:
Acreditamos que há serviços muito importantes de eGovernment e de cuidado com os idosos, por exemplo, que devem ser implementados pelos Governos, que devem pelo menos criar um framework nesse sentido.
Na área de cuidados com os idosos, este é um problema que afecta os países da europa e onde vamos precisar de novos modelos para quem está em casa mas precisa de acompanhamento de saúde. Alguns casos na Holanda mostram que as pessoas começam a usar a videoconferência para estar em contacto com a enfermeira, mas depois descobrem que este é um meio para se manterem em contacto com os amigos que já não vêm há muito tempo, reactivando contactos sociais. E para fazer isso é preciso ter mais largura de banda e simetria, porque não é só o download que interessa mas também o upload.
Em relação aos serviços, queria dizer também que há serviços standard que vão tirar mais partido da fibra e que serão grandes impulsionadores, como a televisão 3D, HD ou novas formas de entretenimento doméstico. Se fizer um cálculo simples, o download de um CD Blu-ray a uma velocidade de 10 megabits demora 5 horas, mas a 100 mbps demora 28 minutos. E esta é uma diferença importante porque estamos a tornar-nos uma sociedade on-demand e as grandes produtoras de conteúdo, como a Sony, que querem ter video on demand, não têm actualmente as melhores condições para avançar. Ninguém quer demorar 5 horas a fazer o download de um vídeo…

TeK: Mas referiram também que nem sempre é fácil avançar com parcerias na área dos conteúdos, que não tem tradicionalmente grande sintonia com as telecomunicações…
H.T. :
Essa é a questão que está na ordem do dia: quem pode distribuir o quê sobre que redes… Mas com um novo modelo de negócio, uma nova infra-estrutura, estes problemas serão resolvidos a prazo, entre os vários intervenientes… Haverá serviços que serão distribuídos pelos operadores, que vão ter de entrar em acordo com os produtores de conteúdos, mas muitas vezes haverá outros canais de distribuição. Cada um dos modelos terá o seu lugar no mercado.

TeK: Parece-lhe que esta é uma questão que o próprio mercado vai resolver ou que há necessidade de criar um enquadramento regulatório?
H.T:
Esta é uma questão difícil de responder… Na Europa ainda não há casos graves a resolver nesta área e a experiência mostra que tentar antecipar os problemas com um enquadramento regulatório é muitas vezes mais perigoso do que esperar para que o próprio mercado se organize… E os diferentes países da Europa têm modelos diferenciados de regulação entre as duas áreas.
Mas acredito que quando os operadores de telecomunicações entram no negócio de media e os operadores de cabo querem entrar nas telecomunicações, a situação complica-se e pode realmente exigir novos enquadramentos regulatórios.

Fátima Caçador