Há muitas coisas em comum na história das quatro tecnológicas que se tornaram líderes nos seus mercados e bandeiras da inovação e crescimento. O estudo GAFAnomics que o TeK hoje divulga faz uma análise onde demonstra as engrenagens dos motores destas empresas. E da experiência há muito que pode ser aplicado e replicado em empresas de vários setores e diferentes dimensões.

Os GAFA (acrónimo para os nomes Google, Apple, Facebook e Amazon) contam com mais de 300 mil milhões de dólares de receitas acumuladas, uma produtividade 3 vezes superior à média, e uma base de clientes equivalente a 50% da população online. E em menos de 20 anos tornaram-se 4 superpotências da nova economia, transformando as regras estabelecidas sobre as estratégias de negócio: ignoraram os conceitos clássicos de mercado, concorrência, posicionamento ou produto, para lançar uma “revolução copérnica” nos negócios, colocando os clientes no centro do seu universo.

Numa entrevista ao TeK, Nuno Ribeiro, Country Manager para Portugal da FaberNovel, justifica a escolha destas empresas e a razão porque outras companhias, como a Microsoft, a IBM ou o Twitter não entram na lista. Mas faz também considerações sobre a forma como outras empresas - e as startups - pode replicar o modelo.

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TeK: O estudo GAFAnomics aborda a estratégia de quatro empresas. Porque escolheram estas quatro tecnológicas?
Nuno Ribeiro:

Antes de mais, já não as consideramos como empresas tecnológicas. São empresas que começaram por ser tecnológicas, mas hoje, atuam em praticamente todas as indústrias (como demonstra o estudo), utilizando sim, a tecnologia como uma forte alavanca e acelerador de negócio. Este é, de resto, o desafio atual de todas as organizações.
Estas quatro empresas foram escolhidas porque tem um modus operandis muito semelhante e completamente disruptivo dos modelos tradicionais. Desde 2006, a FABERNOVEL tem vindo a apresentar estudos sobre cada uma delas (Google, Apple, Facebook e Amazon) e, este ano, decidimos fazer um estudo que abrangesse estas quatro, exatamente porque percebemos que abordam de forma semelhante o consumidor e consequentemente os diferentes mercados em que atuam. E sim, entendem primeiro para o consumidor e depois os mercados, o contrário das abordagens tradicionais (que analisam primeiro o Mercado).
Todas elas são empresas que têm no seu ADN um espírito de permanente inovação e sendo a FABERNOVEL uma agência de inovação, nada melhor do que entender estas empresas para extrairmos ensinamentos e poder partilhá-los com os nossos clientes, foi este o grande objetivo deste estudo.

TeK: O facto de serem empresas do mundo da Internet é dominante para chegarem a esta qualificação?

Nuno Ribeiro:
Todas as empresas são hoje do mundo da internet, ou deveriam ser. É verdade que estas empresas têm um ADN digital, mas não foi aí que assentou a nossa escolha. Assentou essencialmente na sua inovação e criação de valor, na capacidade de mudar o mundo e de mudar (para melhor) a vida das pessoas. A nossa questão de partida era “o que é que elas têm de tão diferente que as tornam incontornáveis ou indispensáveis?”.
Os GAFA – Google, Apple, Facebook e Amazon – são hoje empresas que estão presentes durante todo o dia nas nossas vidas e estarão cada vez mais. Esta é também uma das certezas que temos, pois a forma como olham e antecipam o futuro é única.

TeK: Há outros nomes da tecnologia que poderiam estar nesta lista? Porque não está aqui uma Microsoft, uma HP ou uma IBM?

Nuno Ribeiro:
Não vemos a mesma abordagem aos consumidores e aos mercados nas empresas referidas.
Sobretudo, porque têm tido atitudes mais “defensivas” e por isso, focando as suas atividades no seu principal “core-business”, algo que os GAFA evitam, pois têm uma atitude de seguir o consumidor em qualquer que seja a sua atividade diária (telecomunicações, saúde, mobilidade, retalho, media, etc.), não é a rentabilidade de curto prazo que os move, mas sim satisfazer e antecipar as necessidades de todos os consumidores.

TeK: Em cada uma das suas áreas a Google, Facebook, Amazon e Apple têm concorrentes mais ou menos próximas: lembraria uma Yahoo, Twitter, Alibaba e Samsung. Estas não estão a “jogar na mesma liga”?

Nuno Ribeiro:
Considero que a Alibaba possa talvez vir entrar nesta “Liga dos Campeões”.
Todas as que refere competem em alguns mercados, mas a abordagem é completamente diferente. Eu diria que são mais parceiras do que concorrentes dos GAFA, até mesmo a Alibaba, que de acordo com recentes declarações do CEO da APPLE – Tim Cook, estão a “namorar” e a pensar num “casamento” em relação à integração do sistema de pagamentos Apple Pay.

TeK: Entende que os exemplos destas empresas podem ser replicados por empresas de outros sectores? Como pode uma empresa “tradicional” adaptar este modelo ?

Nuno Ribeiro:
A abordagem dos GAFA, pode ser aplicada em qualquer setor ou empresa. É essa a nossa conclusão, por isso, criámos a metodologia GAFAnomics® que passa por 3 passos:
1) Redefinir o conceito de cliente (cliente grátis, todos são clientes)
2) Redefinir o conceito de criação de valor (modelo de valor da utilidade)
3) Aplicar um modelo de “Gestão Pirata”, que passa sobretudo pela gestão de talento e criação de um ambiente favorável à inovação.
Para mais detalhe sobre cada um destes pontos, podem consultar o nosso estudo.

TeK: Na génese destas empresas estão startups, ou empresas de garagem. O que é que fizeram bem para chegar a liderar estes sectores e que pistas podem deixar às startups portuguesas ?

Nuno Ribeiro:
Uma startup não é uma grande empresa em versão reduzida. Uma startup tem outro tipo de desafios no seu desenvolvimento, diferentes de uma grande empresa.
O que todas fizeram bem no início, foi fazer bem um determinado produto ou serviço e massificá-lo. O exemplo dos GAFA mostra isso: Google com motor de busca, Apple com computadores, Facebook com plataforma social e Amazon com a venda de livros.
Só depois, alargaram as suas atividades e agora antecipam o futuro: Google com carros auto-guiados, Apple com connected devices, Facebook com realidade virtual e Amazon a vender tudo de todos os fornecedores.

Para melhor ajudar as startups portuguesas recomendo um dos nossos estudos anteriores: “FACEBOOK: A Startup Perfeita” - http://www.slideshare.net/faberNovel/facebook-the-perfect-startup - que retrata bem os desafios que uma empresa têm de ultrapassar no seu início.

TeK: As empresas que estudaram no GAFAnomics estão também no top das mais desejadas por jovens que procuram emprego. A gestão dos recursos e a capacidade de atração do talento são também fundamentais na combinação de fatores de sucesso?

Nuno Ribeiro:
O talento das pessoas é e será, cada vez mais, o fator de sucesso das empresas. Por isso, a capacidade de atrair e reter as pessoas mais talentosas é um dos maior desafio dos gestores das organizações. Esse foi também um dos aspetos que destacamos no nosso estudo e que consideramos ter sido vital para o sucesso dos GAFA.

Fátima Caçador


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico