Por Vítor Rodrigues (*)


Balanço 2015

Positivo

Em 2015, a ANETIE congratulou-se com o plano da Comissão Europeia para a criação de um Mercado Único Digital. Trata-se do reconhecimento de que a Europa tem um grande potencial em matéria tecnológica. Potencial este que acreditamos ser capaz de superar a hegemonia norte-americana. Mas para que tal aconteça é, efetivamente, urgente um plano verdadeiramente concertado, de vocação comunitária, que nos permita eliminar barreiras há muito inexistentes em outros mercados.

Foi também um ano com uma evolução significativa em matéria de internacionalização do setor tecnológico português, com a ANETIE a distinguir-se, uma vez mais, como agente catalisador e facilitador da entrada das nossas empresas no exterior. Neste âmbito, deve destacar-se a crescente proximidade com o mercado da América Latina, para a qual contribuiu uma maior integração em entidades internacionais, nomeadamente a ALETI - Federación de Asociaciones de América Latina, El Caribe, Espanã y Portugal de Entidades de Tecnologias de Informácion y Comunicación. Recorde-se que a ANETIE acaba de integrar a direção desta federação internacional de entidades tecnológicas, que reúne as grandes associações latino-americanas com as suas congéneres de Portugal e de Espanha, pelo que será certamente um veículo privilegiado para a defesa dos interesses das empresas de TICE nacionais.

Ainda no que concerne à internacionalização é de salientar a atuação da ANETIE e das TICE em mercados alternativos, no sentido de expandir a presença internacional das tecnologias e também de diversificar estratégias, contornando os problemas inerentes ao contexto de destinos mais tradicionais como Brasil e Angola.

O ano que agora termina foi ainda particularmente positivo no que toca à emergência internacional do empreendedorismo tecnológico português. Com Lisboa eleita Cidade Empreendedora Europeia 2015, com o anúncio da mudança do Web Summit para território português em 2016 e com os recentes dados que dão conta de que as startups e scaleups portuguesas estão em crescimento acelerado e em estreita competição com outros países europeus, não restam dúvidas de que há um novo movimento empresarial de base tecnológica. O ecossistema empreendedor português está com um nível de dinamismo consideravelmente superior e as TICE destacam-se entre as áreas de negócio com maior potencial de investimento e internacionalização.

Negativo

Pela negativa, destaco, primeiramente, que continuamos, em 2015, a lutar contra o desfasamento entre a qualificação dos nossos recursos humanos e as necessidades das empresas. Este défice de competências técnicas é penalizador para a competitividade das tecnológicas e carece de uma intervenção estratégica mais abrangente, ainda que o trabalho iniciado pela ANETIE em 2014 tenha já começado a dar resultados. Mas é importante que todos tenhamos consciência disto: o défice de talentos não é um problema só nosso, é o calcanhar de Aquiles da fileira tecnológica de toda a Europa.

Depois, não posso deixar de evidenciar pela negativa um tema que tanto preocupou as tecnológicas nacionais, suscitando a intervenção direta da nossa Associação. Falo da Altice e das novas políticas de gestão impostas aos fornecedores da PT Portugal. Foi uma batalha delicada para estas empresas, sendo que a ANETIE assumiu a representação dos fornecedores e acabou por obter disponibilidade para a resolução das falhas reconhecidas.

Expectativas 2016

Positivo

Estamos convictos de que 2016 é o ano do tudo ou nada na materialização dos objetivos do Mercado Único Digital. Aliando a este projeto a aplicação dos apoios disponíveis no Horizon 2020, a Europa - e Portugal está naturalmente incluído - terá a oportunidade de mostrar ao mundo que tem tudo para entrar na corrida onde os mercados americano e asiático continuam tão bem posicionados.

No caso português, a realização do Web Summit será, certamente, um excelente impulso promocional e operacional para o desenvolvimento da competitividade lusa em áreas como o cloud computing, a internet das coisas e o mobile, bem como em setores complementares como a biotecnologia e até as atividades aeroespaciais. Trata-se de um certame de referência, com um elevado potencial de negócio, particularmente no que toca ao seu impacto a médio prazo. Falo da afirmação de Portugal como polo tecnológico internacional, que alia as valências do seu ecossistema empreendedor com as vantagens inerentes ao posicionamento geoestratégico.

No que depender da ANETIE, em 2016 não faltarão oportunidades de internacionalização e de qualificação, áreas em que vamos dar início a novos projetos. Continuamos empenhados na resposta eficiente e conveniente às reais necessidades dos empresários nacionais e assim orientamos a nossa intervenção institucional, não só ao nível da representação associativa, mas também no que toca ao nosso plano de ação, com a apresentação de alternativas viáveis e sustentáveis face aos constrangimentos internacionais.

Negativo

Não gostaria de começar um novo ano com previsões negativas. Por isso, limito-me a reforçar alguns receios, na sequência dos pontos abordados anteriormente.

Começo por sublinhar o grau de exigência e de compromisso que um projeto como o do Mercado Único Digital impõe no sentido de dar origem a resultados concretos.

Ressalvo ainda a importância de permanecermos atentos relativamente ao problema da escassez de talento, aliado à fuga e dificuldade de atração do mesmo.

Por fim, ainda que veja um enorme potencial no novo movimento empreendedor de base tecnológica, penso que teremos também de permanecer atentos com a possível aproximação da já anunciada “bolha tecnológica” inerente a uma eventual sobrevalorização generalizada das startups. 

(*) Presidente da ANETIE.