Nascido na Universidade de Aveiro em 1995, o SAPO desceu à capital poucos anos depois para iniciar um percurso que passaria por um pequeno apartamento nas Avenidas Novas onde seis servidores e um sistema de ar condicionado que incomodava a vizinha do piso de cima foram o motor de desenvolvimento do projecto, uns anos mais tarde adquirido pelo grupo PT.

Muita tinta correu até chegar à estrutura que hoje suporta o portal, com 600 servidores. Hoje as preocupações dos decisores estão mais focadas nos timings de lançamento de novos serviços, que permitam comparar com a oferta internacional dos players de Internet e encaminhar de forma eficiente a internacionalização do portal, que já está em Cabo Verde e Angola e se prepara para desembarcar em Moçambique.

Falámos com Celso Martinho, CTO do projecto, que partilhou as orientações estratégicas do SAPO e os momentos que, na sua perspectiva, mais marcaram a vida do portal.

TeK: Há algum tempo o SAPO mudou de rosto na homepage. Que feedback têm sobre o impacto nos utilizadores desta mudança de imagem e nova forma de organização de alguns conteúdos?
Celso Martinho:
A última mudança que se fez na Homepage foi uma das mais profundas que fizemos desde sempre. A mudança é sempre difícil num portal tão genérico como o SAPO, é difícil agradar a todos. Por isso mesmo o desenho da Homepage actual foi acompanhado de processos rigorosos de recolha de especificações, estudos de usabilidade, focus groups, inquéritos e versões beta antes de ser colocada em produção. Foi um projecto que demorou mais de 1 ano a realizar e foi também um processo de aprendizagem interno que contaminou positivamente a nossa cultura e cuja a metodologia adoptámos também para outros projectos críticos.

A nova Homepage é francamente superior no que diz respeito à organização dos conteúdos e à flexibilidade que tem e mais de um ano depois é seguro dizer que os nossos utilizadores gostaram da mudança e que isso se refletiu também na nossa audiência. A utilização da Homepage do SAPO é meticolosamente medida em tempo real pelos nosso sistemas. Sabemos como uma elevada precisão o que é as pessoas procuram, o que é que privilegiam e o que é gostam menos.

TeK: Quantas pessoas visitam hoje por dia o SAPO?
C.M:
Temos 3.6 milhões por mês, 900.000 por dia.

TeK: A ligação com a televisão e o telemóvel são apostas já referidas para o futuro, até agora sobretudo focadas nos conteúdos dirigidos a uma fatia de utilizadores mais jovem. É com esta fatia do mercado que contam continuar a trabalhar nos próximos tempos para explorar o potencial de ligação dos três canais?
C.M.:
A convergência é inevitável mas não fazemos disso um objectivo supremo. O importante para nós é centrarmo-nos no conhecimento dos nossos utilizadores, percebermos cada vez melhor o que é que procuram e conseguirmos fornecer-lhes um serviço personalizado e com qualidade. O segmento jovem é uma fatia que vamos "atacar" com especial interesse nos próximos tempos porque sentimos que os nossos 13 anos de Internet deram-nos muito mas também criaram fossos entre gerações. Vamos colmatar isso com ambição.

TeK: Pode adiantar alguma coisa sobre os planos de desenvolvimento de novos serviços para o resto deste ano, nomeadamente as áreas que vão visar?
C.M.:
O Mobile e a Internacionalização vão continuar na linha da frente até ao final do ano. Há serviços "core" do SAPO que vão ser renovados. E mais não posso adiantar.

TeK: O SAPO já chegou a Cabo Verde e Angola. Tendo em conta que a prioridade na internacionalização é dada a países de língua portuguesa ou com uma grande comunidade portuguesa, é de esperar que o SAPO cruze o atlântico e chegue ao Brasil?
C.M.:
Ainda é cedo para falar sobre isso. Só posso adiantar que estamos atentos e que compreendemos bem que o Brasil, tirando a língua claro, não tem paralelo com Portugal no que diz respeito aos hábitos de consumo, cultura e escala. Para além disso o Brasil tem um mercado de Internet mais consolidado que o nosso e com uma presença local dos grandes players mundiais, incluindo o Yahoo! e o Google.
No curto prazo vamos estar mais focados no Português do outro lado do atlântico. O SAPO Moçambique, depois de Angola, faz já parte das nossas prioridades.

Os momentos mais marcantes na vida do SAPO, por Celso Martinho:

- O momento em que atingimos os 1000 apontadores no directório. Logo nos primórdios do SAPO ainda em 1995.

- O momento em que saímos da Universidade de Aveiro em 1997 e fizemos uma pequena startup chamada Navegante que explorou os primeiros espaços comerciais do SAPO. A primeira equipa comercial que o SAPO teve, o Pina Serra e o Jorge Laranjinha que nos ajudavam em Lisboa com um empenho indescritível numa altura em que ninguém acreditava na Internet.

- Quando o SAPO se transformou oficialmente num Portal, apresentado na Internet World em 1999, já em Lisboa e com a Texto Editora, que teve um rasgo de visão e nos adquiriu. Lembro-me da maratona de 3 directas seguidas para ter tudo pronto a horas e de no fim ainda conseguir encontrar energia para comemorar com os colegas numa jantarada.

- Lembro-me do datacenter do SAPO numa pequena sala das nossas instalações na Av. João Crisóstomo. Seis servidores que suportavam todo o projecto e um sistema de ar condicionado que incomodava a vizinha do piso de cima. Hoje temos mais de 600 servidores nos nossos datacenters em Picoas.

- O crescimento desenfreado dos tempos loucos da "bolha" e a consequente queda e a necessidade de repensarmos o negócio, já na PT.

- O novo grande salto do SAPO em audiência e diversificação de conteúdos e serviços com a proliferação do ADSL e da Banda Larga em Portugal. Foi também aqui que a equipa cresceu mais e nos consolidámos, em que a concorrência se tornou feroz, sempre à escala global.

- O lançamento do SAPO em plataformas que extrapolam o PC e a reutilização dos nossos conteúdos em vários contextos: O mobile, o SAPO home.

- A internacionalização do SAPO. O SAPO Cabo Verde, o SAPO Angola.




Cristina A. Ferreira