A iPortalMais comemorou recentemente uma década de existência, 10 anos comemorados com cerca de 50 trabalhadores nos seus quadros e uma facturação no último ano de quase 4 milhões de euros.

A maioria dos produtos que hoje comercializa é criada e desenvolvida dentro da própria empresa e tem já uma rede de alianças internacionais - com distribuidores em 20 países - que levam a tecnologia IPBrick a todo o mundo.

Em entrevista ao TeK, Raúl Oliveira, director-geral da empresa, falou dos sucessos e das diculdades encontradas durante este tempo de existência e deixou "ambições" para o futuro.

TeK: A iPortalMais cresceu com capitais próprios e recorrendo a alguns financiamentos públicos disponíveis para a I&D. Que importância pode assumir este tipo de incentivos para uma empresa?

Raúl Oliveira:
Este tipo de incentivos tem a vantagem de nos ajudar a dedicar mais tempo e recursos para Investigação, para manter a empresa na procura permanente de novos produtos, ou inovações para os produtos existentes, sem estar preocupado em ter que ter retorno imediato desse trabalho ou recursos humanos afectados a esses projectos.

Permite-nos também fazer crescer a empresa em recursos humanos dando-nos tempo de começar a ser capazes de os sustentar por nós próprios. O que a iPortalMais faz sempre, é que estes recursos que são contratados para trabalhar em projectos de I&D financiados, quando os projectos terminam, são sempre integrados nos quadros da empresa em áreas ou domínios auto sustentados pelo negócio gerado.

Diria que temos aproveitado todos os incentivos para melhorar a nossa linha de produtos, inovar e ao mesmo tempo ter mais capacidade interna. Este aumento de recursos humanos é particularmente importante para enfrentar o mercado internacional, que necessita de mais gente em Portugal a apoiar a transferência de tecnologia para os nossos parceiros.

[caption]Raúl Oliveira[/caption]

TeK: Como avalia as políticas públicas para a área da Investigação e Desenvolvimento? O que poderia ser melhorado?

R.O.:
Desde que a empresa nasceu em 2000, eu tenho notado com agrado um maior esforço do Estado para apoiar a área da Investigação e Desenvolvimento, nomeadamente na aceleração da análise dos projectos de I&D, e maior rapidez no financiamento dos projectos.

Ainda me lembro do primeiro projecto de I&D apoiado pelo Estado no ano de 2002, cujo financiamento só chegou seis meses depois de o projecto ter acabado, o que correspondeu mais ou menos a 30 meses depois de ter começado.

Ao nível das melhorias, acho que era importante retirar burocracia a este tipo de processos. A documentação a fornecer, por vezes já está na posse do Estado, e as entidades promotoras voltam a pedi-la vezes sem conta. Empresas com vários projectos, tem que as fornecer várias vezes, havendo diferentes avaliações sobre os mesmos conjuntos de documentação. É uma perda de energia brutal.

Também, complica bastante as garantias bancárias que o Estado exige para poder começar a financiar os projectos. Basicamente, gasta-se imenso dinheiro nessas garantias, que os bancos agradecem, mas que não contribuem em nada para um I&D melhor. Aliás, acho que os custos dos projectos de I&D, tendo em conta a burocracia que é preciso tratar, devem ter certamente uma rendibilidade muito baixa, creio eu que talvez em média possa chegar aos 50 por cento. Ou seja, consultores necessários para preparar candidaturas, funcionários para analisar projectos e bancos ficam com metade do dinheiro disponibilizado. Se pensarmos bem, no número de postos de trabalho adicionais possíveis para fazer mais I&D ficaremos certamente boquiabertos.

TeK: Em altura de crise o que é necessário a uma empresa para sobreviver?

R.O.:
Para sobreviver a uma crise, é preciso uma equipa muito unida e consciente de que os salários não vêm do céu, e que esteja disponível para com muita atitude "dar o litro" de forma a podermos continuar a vender as soluções que produzimos, que é isso que sustenta os salários das pessoas.

Eu costumo dizer que quando não há crise as empresas podem trabalhar ao sabor do vento, mas em tempo de crise o vento deixa de soprar, e portanto é preciso arregaçar as mangas, pegar nos remos e remar. É preciso entender melhor os clientes e parceiros, é preciso lutar para não perder oportunidades, garantir que somos quase perfeitos em tudo o que fazemos, e tentar ser os melhores na relação Qualidade/Preço. Não necessariamente baratos, mas preferencialmente com muita Qualidade.

Acho também importante ser capaz de manter a equipa motivada, para sobreviver à crise, na certeza que quando ela chegar ao fim estaremos mais fortes, e prontos a crescer a ritmos muito interessantes.

TeK: Que diferenças sentiram durante estes últimos meses e que perspectivas de negócio têm para os próximos?

R.O.:
A iPortalMais conseguiu crescer 40 por cento em 2008, apesar da crise que sentiu no último trimestre. Em 2009, em pleno epicentro da crise, voltámos a subir uns 20 por cento, tendo mesmo registado um crescimento de 50 por cento nos produtos que resultam fundamentalmente do nosso I&D, e neste ano de 2010 continuamos a registar no 1º semestre um crescimento de 20 por cento.

Olhando para 2009, e sabendo que o crescimento anual de 20 por cento esteve mais assente no 2º semestre, eu acho que o 2º semestre de 2010 vai ser muito melhor que o primeiro. Até porque o nível de propostas efectuadas pelo nosso canal no 1º semestre subiu de tal maneira (cerca de 250%), que provavelmente as adjudicações vão seguir esta tendência na segunda parte do ano. Portanto esperamos um final de 2010 fantástico.

TeK: Que balanço faz deste 10 anos de actividade da iPortalMais? O que mudou entre 2000 e 2010?

R.O.:
O balanço que posso fazer destes 10 de actividade da iPortalMais é obviamente muito positivo. E a resposta está precisamente no que conseguimos mudar entre 2000 e 2010. Mudou tudo. No ano 2000 éramos uma empresa que se dedicava a fazer integração de sistemas recorrendo a tecnologia open source, entre outras, que estavam no nosso portfolio (equipamentos de rede, centrais telefónicas, hardware e software variado). Não tínhamos estratégia, vivíamos o dia-a-dia, claramente com uma rentabilidade muito interessante, mas o futuro não nos preocupava, nem era alvo de qualquer análise.

Em 2010, somos uma empresa que se dedica ao fabrico de soluções assentes em Linux, que tem um departamento de I&D, sabe distribuir as suas soluções através de um canal que vai consolidando (quer a nível nacional como internacional), e tem uma estratégia e visão para o futuro. Dez anos é muito tempo, mas mesmo assim atrevia-me a dizer que a mutação que a empresa sofreu nestes últimos 10 anos foi impressionante.

TeK: Quais as maiores dificuldades sentidas e, por outro lado, quais pensa terem sido os grandes marcos da empresa nesta década de existência?

R.O.:
A maior dificuldade que enfrentamos para chegar onde chegamos, foi conseguir orientar uma equipa jovem, que ainda hoje tem uma média de idades a rondar os 28 anos, para conseguir produzir soluções de elevada capacidade técnica para concorrer num mercado TIC super agressivo, e isso com o sucesso que a iPortalMais tem hoje. Mas foi ultrapassar esta dificuldade que fará da iPortalMais uma empresa assente numa equipa coesa capaz de operar para se impor no mercado global.

Os grandes marcos da empresa terão sido: a decisão de começar a apostar no I&D no final do ano de 2001 e consequente mudança para fabricante assumido a partir de 2003; o começo do estabelecimento de um canal de distribuição durante 2004; a decisão de partir para a Internacionalização no final de 2005; e por fim a tomada de consciência no ano de 2008 que a empresa tinha de deixar ter unicamente uma vertente técnica forte, para passar a apostar também na área comercial e de marketing.

TeK: Como vê a iPortalMais daqui a 10 anos?

R.O.:
Não é fácil de imaginar como será realmente a empresa daqui a 10 anos. Mas uma coisa é certa, continuaremos a ser uma empresa portuguesa, de capitais portugueses, produzindo soluções lusas para o mercado das TIC de todo o mundo.

Estou convicto que temos hoje uma base de sustentação para nos fazer crescer bem nos próximos 10 anos, já e unicamente na dimensão de fabricante, que pretende distribuir os seus produtos através de um canal de parceiros pelo mundo inteiro. E tenho a certeza que a iPortalMais, ou a IPBrick Internacional como já começamos a ser conhecidos no estrangeiro, será uma das grandes empresas europeias no sector das TIC, de que Portugal se irá orgulhar certamente.

Neste primeiros 10 anos, passámos mais ou menos desapercebidos, mas nos próximos isso deixará de ser verdade, e a iPortalMais será uma empresa super conhecida a nível nacional, e certamente com grande visibilidade também a nível internacional.