A questão era simples: Pode um vírus informático infectar um ser humano? A resposta também: sim, se este tiver implantes de chips. A prova foi feita directamente por Mark Gasson, um cientista britânico, e já foi alvo de notícia no TeK, gerando bastante polémica em termos de comentários dos leitores.

Para esclarecer os motivos desta investigação e para obter mais detalhes sobre o processo o TeK entrevistou o cientista da Universidade de Reading, por email, que explicou quais as premissas que nortearam o seu trabalho e como foi feita a "infecção".

TeK: Qual é o principal objectivo da sua pesquisa com o implante do chip e a sua infecção com um vírus informático?
Mark Gasson:
Na nossa investigação estamos a explorar, de perspectivas multi-disciplinares, o potencial e os riscos de dispositivos implantados. A investigação usou um dispositivo implantado na minha mão para dar acesso a um edifício e permitir que um telemóvel fosse usado apenas pela pessoa com o chip.

Depois de estar implantado por mais de um ano, uma vulnerabilidade da tecnologia foi deliberadamente explorada para permitir que um vírus de computador se propagasse através do implante.

[caption]Mark Gasson[/caption]O objectivo em parte é de colocar um marco no desenvolvimento de tecnologia implantável e alertar para os riscos de segurança potenciais no futuro.

De facto, questões de segurança mal planeadas em dispositivos de implante médico estão a tornar-se factos bem documentados na literatura académica, embora não seja conhecido que algum dispositivo esteja actualmente em risco, e as pessoas saudáveis que implantam tecnologia potencialmente vulnerável estão a tornar-se mais comuns. Novas aplicações vão certamente surgir quando estes dois aspectos se fundirem no futuro.

TeK: Como conseguiram inserir um vírus no chip?
M.G. :
Originalmente as tags RFID - como as usadas nos animais de estimação - eram apenas identificadores em que se transmitia somente um número. Os equipamentos têm evoluído significativamente nos últimos anos e agora são cada vez mais complexos. Temos de começar a pensar nestes chips como numa espécie de mini computadores à medida que começam a ser capazes de guardar dados e fazer cálculos simples. O tipo de aparelho que tenho implantado é uma das evoluções mais recentes da tecnologia RFID.

TeK: Há cada vez mais notícias de chips implantados com diferentes propósitos, e não apenas médicos, como a entrada e acesso a crédito em discotecas, ou identificação e localização de pessoas para casos de rapto. Pensa que estes usos alternativos podem ser limitados pelos riscos que a sua investigação revela?
M.G. :
Não. Na verdade pensamos que esta tecnologia se vai tornar mais complexa à medida que os avanços nos implantes médicos encontraram novas formas de melhorias. Certamente não estamos preocupados com os dispositivos RFID, onde o futuro encerra muito mais promessas.
Em todas estas aplicações só temos de estar conscientes dos riscos e tomar as precauções necessárias. Até agora os riscos são considerados largamente secundários, se é que são considerados de todo, nestas aplicações.

TeK: Para além da própria tecnologia, houve uma preocupação social envolvida na investigação?
M.G.:
Também estamos interessados nas questões filosóficas e psicológicas que rodeiam aquilo que percepcionamos como os limites do nosso próprio corpo. É conhecido que algumas pessoas com implantes médicos invasivos acabam por os considerar, ao fim de algum tempo, como se fossem de facto parte do seu corpo.
Neste contexto nós podemos, e devemos, falar em termos de vírus de computador poderem infectar uma pessoa. Ao realizar um implante, estes fenómenos muito interessantes e complexos podem ser explorados, contribuindo para o crescimento da discussão académica.

Analisar esta prova de conceito específica fora de contexto, de um ponto de vista de ciência informática pura, é perder completamente o enquadramento e a fotografia completa: precisamos de considerar como as tecnologias implantáveis vão ser usadas no futuro e quais os benefócios e os riscos que podem trazer.

Fátima Caçador