http://imgs.sapo.pt/gfx/446616.gifO pacote de medidas anunciado pela Microsoft, para a interoperabilidade e abertura do modelo de negócio da empresa, é representativo das actuais tendências do mercado e constitui uma possível primeira grande mudança nos paradigmas que têm orientado as práticas comerciais e de desenvolvimento de software, desde a fundação da empresa de Redmond.

Marcos Santos, responsável pela Estratégia de Plataformas da Microsoft em Portugal, respondeu a algumas perguntas do TeK sobre este pacote de iniciativas, detalhando algumas iniciativas.


TeK - O pacote de iniciativas para a interoperabilidade, anunciado ontem pela Microsoft, visa aproximar o modelo de negócio da empresa às práticas do desenvolvimento do software livre? Ou seja, a Microsoft irá distribuir livremente informação relativa aos seus produtos, mantendo, todavia, o controlo das aplicações comerciais da sua tecnologia?

Marco Santos - O conjunto de medidas e acções anunciadas está em linha com o que o mercado no geral vem pedindo aos vários fornecedores de tecnologia: mais interoperabilidade, mais abertura e mais estandardização/normalização. Estas são as 3 principais mensagens que podemos retirar deste anúncio.

A tendência do mercado é de convergência: As empresas de desenvolvimento open source estão numa tendência de se aproximar do modelo proprietário (RedHat, Novell, entre outras) e por sua vez as empresas de desenvolvimento de software proprietário estão-se a aproximar do modelo open source (SUN, IBM, Microsoft e outras).

O que a Microsoft vai fazer é disponibilizar livremente documentação das APIs e protocolos dos seus principais produtos. No entanto a Microsoft irá assegurar uma forma fácil de adquirir uma licença de patente para os protocolos, em termos razoáveis e não discriminatórios, mediante o pagamento de um montante baixo de royalty. A Microsoft será mais flexível no que se refere aos programadores de código open source, ao comprometermo-nos com os mesmos e permitir-lhes utilizar estas patentes sem exigir o pagamento do royalty para efeitos de desenvolvimento e distribuição não comercial de implementações dos protocolos em questão.


TeK - Um dos corolários das medidas será o aumento do número de developers a criarem aplicações standalone ou que interajam com aplicações Microsoft. A Microsoft considerou as implicações desta interacção com a estabilidade do seu software? E com o aumento de malware especializado?

M.S. - Se olharmos para os números actuais, existem milhões de aplicações que correm ou interagem com as aplicações Microsoft. Hoje em dia essa facilidade já existe. O que a Microsoft está a fazer é em nome da interoperabilidade, dar mais informação e dados a quem quer interagir com as nossas aplicações. Relativamente à questão da estabilidade e segurança, a Microsoft tem feito um progresso enorme nestas áreas. O facto dos produtos terem um período alargado de testes com entidades especialistas, empresas parceiras e grandes organizações antes do produto ser disponibilizado para o mercado faz com que estes tenham um nível de fiabilidade e segurança já comprovado por estudos e analistas. Um bom exemplo disso é o Windows Vista que devido ao seu desenho, apresenta o menor número de vulnerabilidades desde o lançamento, com é explicado neste blog.

TeK -Em que medida é que as iniciativas anunciadas visam satisfazer as exigências legais postas perante a Microsoft nos Estados Unidos e na Europa?

M.S. - Este anúncio não tem directamente a ver com essas questões. No entanto é um passo importante para implementar os princípios de interoperabilidade que a Microsoft se comprometeu a cumprir.


TeK - De fora das medidas ficou a questão do unbundling de certos componentes do sistema operativo Windows, incluindo o browser Internet Explorer. Quais os planos da Microsoft nessa questão?

M.S. - Acho que o mais importante a retirar deste anúncio é que os vários programadores possam melhor interagir com os produtos e componentes do software da Microsoft, fornecendo documentação actualizada e disponibilizada ao mesmo tempo que os produtos são lançados para o mercado.

TeK - Qual o comentário da Microsoft perante a desconfiança da Comissão Europeia, que pede acções concretas e refere anúncios semelhantes anteriores?

M.S. - Este comentário deverá ser emitido pela Microsoft Corporation e não pela subsidiária portuguesa da Microsoft.

TeK - Os novos APIs das aplicações Office permitirão aos developers acrescentarem suporte para total utilização (leitura, gravação, formatação) de qualquer formato? Está previsto um novo API semelhante para o Windows Media Player, permitindo a integração de diversos formatos multimédia?

M.S. - Para o caso específico do Windows Media Player não temos qualquer informação, mas uma das componentes deste anúncio é exactamente essa possibilidade. Citando o comunicado “Em termos práticos, iremos partilhar informações técnicas, designadamente, interfaces de programação de aplicações (APIs) e protocolos, utilizados pela Microsoft para ligar as suas aplicações aos respectivos produtos acima indicados (Windows Vista (incluindo o .NET Framework), o Windows Server 2008, o SQL Server 2008, o Office 2007, o Exchange Server 2007 e o Office SharePoint Server 2007), com todos os programadores, entre os quais concorrentes e programadores de código open source, mediante a autorização de acesso às APIs e protocolos utilizando um Web site isento de custos.”


TeK - O respeito integral pelos standards da indústria não é preferível à publicação das implementações específicas à Microsoft desses mesmos standards? Apesar de ser uma iniciativa louvável, a publicação das excepções Microsoft pode veicular a ideia de que a Microsoft não se preocupa com standards ou interoperabilidade….

M.S. - Pelo contrário. Um dos fortes pilares deste anúncio prende-se com a maior transparência, incorporação e documentação relativamente aos standards que são utilizados nos produtos da Microsoft. Os standards são o enabler/facilitador da interoperabilidade. Agora cada aplicação implementa as suas próprias extensões, isso acontece com grande parte dos standards e aplicações no mercado. A Microsoft desta forma assegura que irá documentar essas extensões que colocam em causa possíveis cenários de interoperabilidade.

Diogo Tavares