Por Vladimiro Cardoso Feliz (*)
A aceleração digital que vivemos nos últimos 20 meses alterou estruturalmente a nossa forma de vida, no modo como socializamos, como colaboramos, como estudamos, como trabalhamos, como consumimos, como nos movemos, ou mesmo, como acedemos a cuidados médicos. Se é certo que muitas destas situações tenderão a normalizar, este período de incerteza influenciará de forma decisiva o modelo societal futuro.
O desafio que temos em mãos passa por olhar para as lições aprendidas, usar o potencial da tecnologia na construção de uma sociedade mais inteligente, mais inclusiva e mais sustentável, trazendo para o pensamento das soluções novas competências e disciplinas como: as ciências, as engenharias, a arquitetura, as artes e a matemática, conferindo ao processo de ideação uma harmonia estética e ecológica, indutora de um estilo de vida inteligente e sustentável.
2022 será um ano desafiante a diferentes níveis. Está nas nossas mãos definir esse caminho. Se por um lado a digitalização nos aproximou no tempo, afastou-nos no espaço, criando filtros nas relações, mas ao mesmo tempo minimizou o afastamento e tornou-nos omnipresentes, ainda que à distância, potenciando a interação social e a colaboração corporativa. Importa agora encontrar novas formas de humanizarmos as plataformas colaborativas, no sentido de as tornarmos menos impessoais e distantes do mundo real, minimizando os fenómenos de alheamento que muitas vezes provocam.
Além das relações humanas, o presente contexto fez-nos também valorizar a qualidade de vida de outra forma, bem como privilegiar o respeito pelo próximo, pelo meio ambiente... mas fez-nos também perceber como o domínio da ciência e da tecnologia podem ser decisivos na preservação da humanidade.
A evolução das vacinas, a disponibilização de um retroviral COVID-19 eficaz, a prevenção de outros fenómenos epidemológicos ou pandémicos marcará a agenda do próximo ano em termos científicos e tecnológicos. Mas é essencial aproveitarmos esta oportunidade para repensarmos o contexto do espaço urbano, onde segundo as Nações Unidas vive 55% da população mundial e onde, até 2050, viverá 70% da população global. A reconfiguração do espaço público, devolvendo-o às pessoas e a soluções de mobilidade suave e ativa é uma prioridade, tendo em conta as alterações de modo de vida, mais ou menos forçadas, a que temos, todos, estado sujeitos.
Nesse sentido urge encontrar soluções ágeis, de geometria variável, que respondam a este novo modo de vida, onde a tecnologia pode ser um acelerador de novos modelos de negócio e novos produtos e serviços. A utilização de sistemas ciber-fisicos para responder a novas necessidades de deslocação, que combinem a partilha da posse com a partilha do uso dos devices de mobilidade, vai marcar o futuro do setor. A maximização do uso e o prolongar do ciclo de vida vai transformar, progressivamente, um custo num proveito para proprietários de devices de mobilidade, que serão compensados pelo uso dos mesmos por terceiros, nas horas em que, até então, estavam inativos, bem como reduzir substancialmente a circulação de veículos nas cidades. A capacidade que estes sistemas, ciber-físicos, têm de recolher e processar informação, interagir com outros objetos e pessoas, alimentar plataformas de decisão, será determinante para desenvolver novas soluções de inteligência urbana, orientadas à promoção da sustentabilidade, valorizando, por exemplo, as emissões de CO2 evitadas no nosso ciclo de vida diário.
2022 será, por isso, um ano onde a tecnologia assumirá um papel, ainda mais, relevante na humanização das interações digitais, na combinação de soluções de realidade virtual e realidade aumentada – metaverso, no desenvolvimento de novos produtos, serviços e modelos de negócio inteligentes, promotores de estilos de vida saudáveis e sustentáveis, mas que trará novos desafios decorrentes desta dependência tecnológica, como a identidade digital, a privacidade, a cibersegurança, a alta disponibilidade de redes e sistemas.
Mas como em todos os momentos da história da humanidade, sempre soubemos usar a tecnologia em prol do desenvolvimento societal e com toda a certeza não desperdiçaremos esta oportunidade, porque essencialmente, o bom ou mau, dependem de nós.
(*) Diretor da área CEiiA by COLAB, Smart & Sustainable Living
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